1975

“Não tenho um Natal inesquecível, tenho um que gostaria de esquecer. Foi um Natal solitário, a 2.894 km de casa. Uma distância e tanto, em todos os sentidos. Estava em Imperatriz, Maranhão. A única semelhança com o Vale era o calor úmido, opressivo, daqueles aos quais não nos acostumamos nunca. Havíamos ido para lá serrar dormentes para a Ferrovia Norte-Sul, invenção do governo Sarney que até hoje não está terminada. Montamos serraria, torramos os recursos, éramos ingênuos, para dizer o mínimo. Desde então desacredito de todos os governos, paguei o preço, aprendi. No final daquele ano, sem alternativa, despachei a família – Marli, ela grávida, e o primogênito André – para Rio do Sul, fiquei lá para vender a serraria. E aí chegou o Natal. Sentiram? É pra esquecer, mas a memória é teimosa. Tudo bem, foi um momento apenas, o retorno para cá compensou tudo, comemoramos em família o Natal adiado e a bênção de estarmos juntos. Pois é, nem toda história natalina é feita de momentos que não se quer esquecer, mas que acabam ficando inesquecíveis. Para encerrar: olha só a figura que eu era naquela época, naquele local. De assustar Papai Noel. Mas estava no figurino daqueles rincões.

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Valther Ostemann, colunista do Santa

Natais inesquecíveis

“O título já é um tenebroso chavão. Há outros que você também conhece: ‘Natal é bom quando se é criança’, ‘Natal a gente curte quando tem filho pequeno’, ‘Eu acho Natal um saco’, ‘Natal sempre é meio triste’, ‘Natal virou correria e comércio’, etc. É, não dá pra negar. E, como fez Galileu perante o tribunal da Inquisição, reafirmo (mas sem sussurrar) todas as aspas acima. Depois que os filhos crescem e sei lá quantos por cento dos casais estão separados, muitos torcem mesmo é pela rápida chegada do Réveillon. Injusto selecionar um só Natal como inesquecível. Quando criança, havia a excitação da sala indevassável já uns dias antes. Depois, mesmo ensaiando a lâmina de barbear, ganhei meu primeiro trenzinho elétrtico Märklin, um verdadeiro delírio. Impagável também foi meu filho, aos quatro anos, desembrulhando atabalhoado um kart de pedais. Também passamos um ‘Xmas’ em Nova York, conforme ensinava o manual na época. Mas hoje relato um bem interessante que ainda provocaria alguns ‘Ohs!’ na província de Doktor Hermann. Ano passado fizemos a ceia aqui em casa. À mesa estavam simplesmente: o pai da minha namorada Maria Júlia; o filho dela, Frederico, de nove anos; o pai do Frederico e a namorada; o irmão do pai do Frederico com a namorada e eu. Caro e paciente leitor, você pode escolher um ‘ho, ho, ho!’, uma risada, segundo li, muito feliz. Ou um ‘hihihi!’, revelando um riso meio problemático.

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Cao Hering, chargista e colunista do Santa

A verdade sobre Papai Noel

“Estranhamente, são poucas as lembranças que tenho do Natal de quando eu era criança. Talvez pelo fato de a minha família ser um tanto nômade, já que nos mudamos de casa seis vezes em três cidades diferentes quando eu tinha de três a seis anos. O fato é que quando procuro me recordar de como eram as noites de Natal na minha infância, a primeira lembrança que chega é a da noite em que descobri que Papai Noel não era exatamente como eu imaginava. Morávamos em Belo Horizonte, em um prédio de tijolinho à vista que ainda existe na Rua Penafiel. Estávamos na Missa do Galo e a pé voltamos para casa. Não me lembro da desculpa que minha mãe deu, mas o fato é que meu pai subiu primeiro e nós ficamos na rua esperando sabe lá o quê. Perguntava o que estava acontecendo, mas minha mãe e irmãs não souberam disfarçar. Logo me dei conta de que era o meu pai que arrumava os presentes sob o pinheiro sintético e prateado dos anos 1970. Sem roupa vermelha. Sem barba branca. Sem ‘ho, ho, ho’. Acho que pela primeira vez percebi o quanto dói uma mentira. Não me lembro de ter chorado, mas a dor no peito ainda sinto nos dias de hoje. Uma mistura de aflição com traição. Algo estranho que até então não havia provado. ‘Podem vir’, gritou meu pai. Subimos os degraus até o último andar e todos os presentes estavam no chão da sala. E eu já sabia quem, de fato, os colocara ali. Acho que eles perceberam o desconforto gerado e não me lembro de ter conversado com eles depois sobre o ocorrido naquela noite. Não importa. Sempre que me lembro dessa história, apesar de todas as sensações negativas, termino com um sorriso no rosto ao resgatar da memória a imagem da miniatura do Boeing 747 da Pan Am que ganhei naquele Natal. De um triste enganado passei a piloto de jato em fração de segundo. E como era bom criar as histórias que tinham como protagonista a vistosa aeronave. Saudosos enredos que me fizeram esquecer por alguns momentos a amarga sensação da mentira descoberta.

Francisco Fresard, colunista do Mercado Aberto do Santa