Yés, nós temos a lama, lama pra dar e vender; lama no Congresso, Governo e Assembleia, no rio Doce e no mar, no rio Itajaí e em todo lugar. Tem lama para tudo quanto é lado neste país. Bem que rompimentos deveriam ficar restritos às barragens da corrupção, ainda em processo de detonação pela Lava-Jato, mas não. Grandes barragens de mineração irresponsável também rompem. Por aqui, longe de Minas, torneiras de tanques de cal em gel de estação de tratamento de água também romperam, nocauteando a vida do rio Garcia.
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A lama da Vale/Samarco em Minas está matando e destruindo sem dó nem piedade, em escala gigantesca, humanos, seus bens e vida silvestre, revelando governos e empresas ainda despreparados tanto para prevenir quanto para remediar. Agora começa a afetar justo a parte mais produtiva e rica em vida marinha do litoral brasileiro que culmina, apenas 190 km ao norte, com o Parque Nacional Marinho de Abrolhos. Justo num momento em que uma comissão do Congresso, seguindo a recente e nefasta tendência de afrouxamento de exigências gerais e ambientais, discute o novo Código de Mineração.
Coincidência ou não, o relator dessa comissão, deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), teve 42% da campanha de 2014 bancada por mineradoras, que também doaram para as campanhas de outros 11 membros da comissão (O Estado de SP, 22/11/15).
Na quinta-feira, dia 19, passando por uma ponte em Botuverá, eu e o colega Nélcio Lindner tivemos um choque. Por uns instantes deu a impressão de que estávamos sobre o rio Doce em Minas, tal a quantidade e densidade da lama que descia pelo rio Itajaí-Mirim, certamente incluindo muito solo fértil, erodido por uma chuvarada forte acontecida horas antes. Cena tristemente parecida com as que a TV tem mostrado, com compreensiva insistência, desde o último dia 5.
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No dia seguinte a esse nosso “susto”, o jornalista Washington Novaes revelou no “Estadão” preocupante relatório da ONU, informando que um terço dos solos superficiais do planeta está “ameaçado de extinção”, fruto da impiedosa erosão que corrói o equivalente a 42 mil campos de futebol de terras agrícolas … por dia! A espécie inteligente que domou as terras para plantar é a mesma que não tem inteligência para conservar esses mesmos solos donde provém 95% do que come. Se isso não mudar radicalmente, pobres futuras gerações.
Já disse que o desastre da lama da Vale é quase igual ao da lama aqui no vale, só que não brutal como lá, mas crônico e insidioso, esperando medidas preventivas dignas de quem se apelida de vale europeu.