Por Luis Felipe Di Mare*
Os sentimentos de tristeza e medo reinam em Paris desde ontem à noite. Eu estava jantando num restaurante típico, bem no meio de Saint-German-des-Près, quando tudo começou, lá pelas 21h. Meu telefone simplesmente não funcionava e o sinal de sem serviço me impossibilitou de saber das desgraças que aconteciam. Os franceses não ficam grudados no telefone enquanto jantam, então demorou para ficarmos aflitos por ali. Mariana Guimarães, amiga que jantava comigo foi quem recebeu os primeiros alertas através de algumas mensagens e mesas ao lado começaram a se agitar com ar de desconfiança. Ouvi uma garçonete dizendo “fecha a porta com chave” e logo depois o caixa do local me disse: “Vá para casa!”. Graças a Deus, eu não estava nos arrondissements (bairros administrativos de Paris) onde ocorreram os atentados. As ruas estavam vazias às 23h quando saí do restaurante. Não tinha táxi, nem Uber e acreditei que a melhor maneira de chegar em casa seria de bicicleta, fazendo um rota alternativa, sem deslumbrar à beira do Sena ou as maravilhas da cidade. Pedalei muito e rápido para me refugiar dentro da minha casa. Estranhei e fiquei muito surpreso quando passei pela Champs-Élysées vazia. Foi dado toque de recolher e não havia praticamente ninguém circulando por aqui. Na janela de casa, observava helicópteros, a Torre Effeil apagada e o único barulho que conseguia ouvir eram de sirenes. Me conectei no wifi e não queria, nem mesmo conseguia acreditar que estávamos vivendo esse horror. Que maravilha termos a internet e diversos meios de mídia que nos informam e servem também de canal de ajuda.
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Ontem rolou a hashtag #portesouvertes (portas abertas) postada por pessoas que abriram as portas de suas casas para receber turistas e locais que não conseguiam voltar para seus hotéis ou residências. Fui dormir sem sono e bastante preocupado lá pelas 3h. Acordei sem saber o que eu poderia fazer hoje. Todos os museus estão fechados, assim como os cinemas, as escolas e as entidades públicas. O mercado aqui da rua está aberto, fui rapidamente comprar algumas coisas e senti o clima pesado, triste e apavorado das pessoas.
Pela tarde, tentei sair novamente e vi a Champs-Élysées um pouco mais movimentada com turistas que tentavam aproveitar o sábado por aqui. Muitas lojas fechadas. A Sephora não abriu hoje, já a Fnac, a Zara e o Monoprix funcionaram por algumas horas, mas quando eu andava por alí fecharam as portas e pediam que deixássemos o lugar. Atmosfera pesada, dias de luto. No meio do caminho, alguns posters recém fixados da L’UOIF (Union of Islamic Organisations of France) se posicionando contra o terrorismo. Novamente em casa, acompanho pela internet os desdobramentos e novidades sobre os casos, inclusive a a carta do Estado Islâmico reivindicando autoria dos atentados e ameaçando os franceses. Tenho medo, mas tenho esperança dee dias melhores pra sempre. Eu quero um mundo melhor e acredito no amor ao próximo como a chave para isso. Agora nos resta esperar. #prayforparis
Carioca, Luis Felipe é colunista de moda da Revista Donna e trabalha com marketing e cool hunting na capital francesa
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