*Por Guilherme Mazui – interino

No governo de Michel Temer (PMDB) é considerado normal ou só um “deslize” quando um ministro interrompe seu trabalho para tentar liberar uma obra que interessa apenas a ele próprio. Foi o que indicou a tentativa inicial de defesa de Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e a demora na saída do agora ex-ministro, protagonista de um caso de tráfico de influência. Tais posturas são cacoetes da forma mais tradicional de se fazer política no país, que confunde público e privado.

Continua depois da publicidade

Temer lidera uma gestão que nasceu de um impeachment e que rema para superar a baixa popularidade. Não reverterá o quadro com hesitações em tropeços de caráter ético. Paciência se era um ministro importante, responsável pela articulação com o Congresso. Os brasileiros esperam postura firme do presidente.

Como proprietário de uma unidade no La Vue Ladeira da Barra, edifício de 30 andares embargado pelo Iphan em Salvador, Geddel não deveria tratar do tema dentro do palácio. Contudo, procurou o então colega Marcelo Calero (Cultura) para discutir o impasse, que chegou à Casa Civil e ao próprio Temer. Um depoimento de Calero à Polícia Federal tumultuou o ambiente do Planalto, já receoso com os efeitos da delação da Odebrecht.

Por achar que estava tudo bem, Geddel criou uma crise desnecessária. Bastava separar seus investimentos dos assuntos do governo. Temer alimentou a crise, pois a saída do ministro da Secretaria de Governo só ocorreu quando a situação ficou insustentável. Repetiu os casos de Romero Jucá (PMDB-RR) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

Continua depois da publicidade

Considerar um erro de menor gravidade posturas como a de Geddel é uma avaliação feita por temeristas no Congresso. Os líderes da base na Câmara, que cobravam moralidade da gestão de Dilma Rousseff, assinaram nota em defesa do ministro durante a semana. Chancelaram os atos do baiano.

Temer e seus aliados parecem não entender que os brasileiros cobram mudanças no jeito de conduzir a política. Interesses privados devem passar longe da administração pública. Em tempos de Lava-Jato, volta ser atual a lição de Ulysses Guimarães aos próprios políticos: “ou mudamos, ou seremos mudados”. Geddel não mudou. Nesta sexta-feira, teve de encomendar sua mudança do Palácio do Planalto.

Vinho

Presente no almoço da cúpula do PSDB com Michel Temer, no Palácio da Alvorada, o senador Paulo Bauer (SC) presenteou o peemedebista com uma caixa de vinhos produzidos na Serra catarinense. Duas garrafas foram servidas durante a refeição.

Cotados

Relator da PEC do teto de gastos na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS) esteve com Michel Temer na manhã de sexta-feira, pouco antes do ministro Geddel Vieira Lima formalizar seu pedido de demissão. Segundo o deputado, o presidente estava “sereno”. Especulado como substituto de Geddel na Secretaria de Governo, Perondi diz que não foi convidado. Moreira Franco (PMDB-RJ), Rodrigo Rocha Loures (PR), Baleia Rossi (PMDB-SP), Jovair Arantes (PTB-GO) e Rogério Rosso (PSD-DF) estão entre os nomes sondados.

Continua depois da publicidade