Tem forte simbolismo o artigo assinado pelos presidentes da CDL, Hélio Roncaglio, e do Sindilojas, Emílio Schramm, publicado na edição de quarta do Santa. Ao fazerem pesadas críticas sobre a postura do Executivo diante da crise do transporte público, os dirigentes máximos do comércio e duas das principais lideranças empresariais da cidade balançam a harmonia que tem prevalecido no relacionamento entre entidades patronais e poder público. Manifestações nesse tom dirigidas à prefeitura por parte de empresários que dirigem entidades de classe não têm sido comuns, pelo menos publicamente, na história recente do município.

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Os prejuízos ao comércio causados pela falta de ônibus nas ruas durante a semana de Natal, data mais lucrativa do ano para o varejo, foram o combustível para o uso de expressões como “o Executivo não tem a mínima condição de resolver o assunto” e “ápice da incompetência”. Por mais que puxem a brasa para sua própria sardinha, CDL e Sindilojas indireta, e talvez até involuntariamente, acabam falando em nome de todos os prejudicados pelo colapso do transporte.

A prefeitura respondeu na mesma moeda. Também em artigo, publicado na edição de quinta-feira do Santa, o presidente do Seterb, Carlos Lange, diz que a crise no sistema do transporte é complexa e que visão “imediatista e circunstancial” não resolve os problemas, alegando que etapas legais e administrativas precisam ser respeitadas.

O poder público lembra que “não cabe ao município administrar empresas privadas” e rechaça a expressão “ápice da incompetência”:

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“Seria o mesmo que dizer que o eventual resultado das vendas do comércio no final do ano decorre apenas da incapacidade dos seus gestores quando uma crise econômica de raros precedentes está instalada no país”, diz o Seterb.

Confira o artigo da CDL e do Sindilojas, publicado em 6 de janeiro:

“Presente” para Blumenau

Emílio Rossmark Schramm, presidente do Sindilojas Blumenau, e Helio Roberto Roncaglio, presidente da CDL Blumenau

O Executivo blumenauense passou todo o ano de 2015 lidando com um abacaxi que já se sabia mais do que delicado: a situação do consórcio de empresas que está gerindo o transporte coletivo da cidade. Desde 2013 o cenário que se desenha não tem sido dos melhores.

E, pelo que se vê, o Executivo não tem a mínima condição de resolver o assunto. Em novembro decretou uma intervenção no Consórcio Siga, intervenção esta que pouco durou e, pelo jeito, nem o caixa do transporte público verificou.

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Afinal, se o Seterb juntasse o “A” com o “B” teria visto que a conta não fecharia e não haveria dinheiro para honrar os compromissos de final de ano dos cobradores, motoristas e demais empregados das empresas do consórcio. Qualquer pessoa com o mínimo de tirocínio teria continuado com a intervenção e retido o numerário necessário ao pagamento das obrigações trabalhistas.

Depois a prefeitura viu 27 ônibus serem apreendidos por determinação da Justiça, irregulares, sem condições de trafegar. O fato de tais veículos estarem circulando pela cidade sem qualquer tipo de fiscalização do próprio Seterb, por si só, já é de arrepiar. A redução da frota resultou em ônibus ainda mais lotados e atrasos generalizados.

Por fim, nada melhor do que se mostrar impotente frente à situação que se desenhava e que se concretizou, a greve de motoristas e cobradores que não receberam o décimo terceiro. Piorando o caos do trânsito do Centro da cidade, também foi dada a folga de fim de ano para as monitoras da Área Azul.

E assim temos o ápice da incompetência. Para brindar Blumenau e as festas de fim de ano, o Executivo simplesmente a abandonou, fechando a prefeitura! Deixamos então a pergunta a ser respondida: quem se responsabilizará financeiramente pelo prejuízo ao comércio, aos serviços e à população que se programou para ter um bom Natal, num ano tão difícil, e é premiada com este “presente”?

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O Sindilojas e CDL de Blumenau não podem silenciar num momento grave, fruto da crise nacional e que o Executivo municipal tratou de maximizar.

E a resposta da prefeitura, publicada em 7 de janeiro:

Coerência e participação construtiva

Carlos Lange, presidente do Seterb

Diante da complexidade da crise no sistema de transporte coletivo, visão imediatista e circunstancial só tende a resolver paliativamente os efeitos e não a causa do problema que enfrentamos hoje. O poder público trabalha para uma solução definitiva e eficiente para a cidade. E o executivo possui sim, plenas condições de resolver este problema.

Apesar das férias coletivas, o prefeito, equipe de governo e técnicos do Seterb encontram-se trabalhando diariamente para a resolução da crise no transporte. Para isso, todas as decisões e medidas realizadas exigem responsabilidade e visão de longo prazo, respeitando etapas legais e administrativas.

Dada à complexidade da questão, no dia 18 de dezembro as entidades de classe do município foram chamadas à prefeitura para uma reunião de apresentação das ações tomadas pela administração. Um momento oportuno para sugestões e dúvidas por parte da sociedade civil organizada. Embora muitos que hoje criticam sem conhecimento, sequer participaram deste importante encontro.

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Desde 2013, a prefeitura demonstra empenho em proporcionar um serviço de transporte público de qualidade. Apenas como um expressivo exemplo, isentou as empresas de transporte coletivo do pagamento do ISS, que representa R$ 4 milhões/ano, buscando desonerar o serviço e ofertar um valor de passagem mais acessível à população.

Porém, não cabe ao município administrar empresas privadas. Com o devido respeito, não há que se falar em “ápice da incompetência”. Seria o mesmo que dizer que, o eventual resultado das vendas do comércio no final do ano, decorre apenas da incapacidade dos seus gestores quando uma crise econômica de raros precedentes está instalada no país.

Com relação às monitoras da Área Azul que gozam de direito às férias coletivas. Acaso houvesse alguma manifestação prévia por parte do CDL/Sindilojas no sentido de manutenção dos serviços por mais cinco dias no mês de dezembro de 2015, a administração municipal teria acatado a solicitação.

Blumenau merece sim respeito, coerência e participação construtiva, que aliados a muito trabalho, resultarão em um transporte coletivo de qualidade e uma cidade ainda melhor.

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