Prestes a completar dois anos de mandato, o governador Raimundo Colombo (PSD) esteve, na última quinta-feira na sede do Diário Catarinense para uma entrevista multimídia com os veículos do grupo RBS.

Continua depois da publicidade

Aproveitando a estrutura da redação – com o governador sentado no centro de um círculo – a entrevista foi feita pelos jornalistas Renato Igor, da TVCOM e CBN Diário, Fabio Gadotti, editor de política do DC e dos colunistas do DC, Moacir Pereira, Rafael Martini e Estela Benetti.

Confira abaixo a entrevista separada por temas.

59 dias de greve da Saúde

Continua depois da publicidade

Diário Catarinense – A greve da saúde revelou uma situação dramática para os médicos, até calamitosa nos hospitais públicos aqui do Estado. O senhor conhecia essa realidade de dezenas de leitos fechados?

Raimundo Colombo – A greve decolou em cima dessa nossa constatação. Pegamos a auditoria do governo e mandamos ir para dentro dos hospitais. Fazer levantamento para ver porque o leito estava fechado, porque os funcionários recebiam muitas horas-plantão e não faziam, sobreaviso. E aí nós contratamos mais funcionários para reativar os leitos, e aí é evidente que se contratou mais funcionários, não precisa mais pagar a hora-plantão e o sobreaviso. E aí eles disseram que teriam diminuição de salário, o que não era. E por isso fizeram a greve. A origem da greve é a ação do governo para resolver o problema.

DC – O senhor se elegeu afirmando categoricamente que a prioridade seria saúde, saúde e saúde. Nesse momento, passado metade do seu mandato, qual a avaliação que o senhor faria da sua gestão à frente da saúde?

Continua depois da publicidade

Colombo – Estamos mexendo na estrutura. Essa é a reação que está havendo. Mas vou dar um exemplo. No mutirão, foram realizadas 26 mil cirurgias. É um dado concreto, realizado. Investimos muito nos hospitais. Agora com o pacto, estamos investindo R$ 500 milhões.

DC – O presidente da Associação Catarinense de Medicina (ACM), Aguinel José Bastian Junior, diz que Santa Catarina não precisa de mais hospitais, precisa é de gente para trabalhar nos que já existem. Os leitos estão fechados porque falta gente?

Colombo – Com todo o respeito, vou discordar dele. Precisamos de novos hospitais, sim. É um equívoco. Vai em Itajaí ver como está. Em Lages. Ele está totalmente desinformado. Essa informação é populista, feita com base em alguns médicos que convivem e se beneficiam dessa realidade e que não têm a responsabilidade pública de proteger o paciente.

Continua depois da publicidade

DC – Os diretores dizem que está faltando gente.

Colombo – É a coisa mais fácil dizer que está faltando gente. O que eu quero é que as pessoas trabalhem. Não é bem assim. Estamos fazendo um diagnóstico completo. O estudo está pronto e vai ser implantado. Vamos colocar a gestão profissional em todos os hospitais.

DC – Quando o senhor fala que quer que as pessoas trabalhem, o senhor acredita que tem gente que bate o ponto e vai para a clínica, vai consultar particular?

Colombo – Temos 600 médicos em licença médica. O médico dá um atestado de licença e é isso. Isso é muito grave no serviço público do Brasil inteiro. Pode ser que vocês não saibam disso. E outro aspecto é que tem que fazer o plantão, cumprir o horário. Fizemos um acordo com o Ministério Público e vamos acompanhar de forma muito profissional esse processo da presença. Não é só contratar gente, tem que fazer o resultado aparecer. Se contratar gente resolvesse o problema, se contratava mais cinco, 10 mil. E não é esse o caminho.

Continua depois da publicidade

Afronta ao Estado

DC – O período dos atentados foi bastante pesado para o governo.

Colombo – Foi. Estava chegando de viagem da China, e eu não durmo no avião. Quando eu cheguei eu pensei que ia dormir um pouco. O Grubba (César, secretário de Segurança Pública) e a Ada (de Luca, secretária de Justiça e Cidadania) me ligaram dizendo que tinha um assunto grave, e que precisavam conversar. E me deram todos aqueles relatos, entramos num processo que durou intensamente três dias. Nós fomos desafiados.

DC – O Estado estava preparado para enfrentar uma situação como esta?

Colombo – Foi um episódio que aconteceu pela primeira vez. A resposta foi muito profissional, foi muito bem feita. Eu me senti seguro nas decisões que eu estava tomando, foram momentos difíceis. A ideia era primeiro desestruturar o sistema de transporte coletivo. Os empresários que estavam tendo prejuízos com os ônibus. Depois os motoristas que estavam correndo riscos, e nós tivemos que corrigir as coisas imediatamente. A segunda questão era a ameaça a familiares de policiais. O serviço de inteligência nos mostrava tudo isso. Tivemos alguns confrontos diretos. Mas a grande diferença é que nenhum catarinense, a não ser as três pessoas que foram a óbito em confrontos com a polícia, nenhum catarinense sofreu sequer um arranhão. Não estou dizendo que o clima de insegurança não ocorreu, porque em todos os pontos de SC o assunto era só esse. Mas a grande questão é que fomos eficientes, porque nenhum catarinense sofreu um ferimento qualquer.

DC – O senhor acredita que é preciso mudar o sistema de gestão prisional?

Colombo – Eu não tenho dúvida. Hoje, eu considero isso um grande passo que nós temos 5 mil presos aprendendo uma profissão. São 17 mil presos no total no Estado, mas nós vamos chegar em quase todo. A pessoa que aprende uma profissão a cada três dias trabalhados tem uma redução de pena. Tem um salário. E sobretudo tem uma relação com as empresas, muitos já saem empregados. A pessoa se sente útil, começa a reconstruir a sua vida. Quando ela é libertada, ela tem um emprego, ela vai se recuperar. A maioria dos presos são jovens, com problemas com drogas. Aí sai com a ficha suja, sem um tostão no bolso. É libertado hoje. E o que ele vai fazer? Volta pro crime e quando vê está preso de novo.

Continua depois da publicidade

DC – E o que fazer para evitar que essas ações aconteçam novamente?

Colombo – Nosso serviço de inteligência se aperfeiçoou, aprendemos muito com esse episódio. Estamos fazendo uma relação mais forte com estados que passam por situações semelhantes. Conversei várias vezes com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Estamos trabalhando em conjunto.

O que vem por aí

DC – Está em curso uma reforma administrativa. Há possibilidade de mudanças na estrutura? Fusão de secretarias? Extinção de órgãos?

Colombo – Sim. Concluímos o processo e vou apresentar na primeira semana de trabalhos legislativos a fusão e a compactação de alguns órgãos. Vai aumentar a eficiência e vai diminuir o custo. Temos a Agesc e a Gessan. Vamos fazer uma agência só. Vai ter uma diminuição de custo muito grande. O Deter, talvez, venha junto, mas isso estamos concluindo. Há uma série de empresas que a minha ideia é fazer uma fusão.

Continua depois da publicidade

DC – A Cohab, por exemplo. Se fala muito que ela pode ser extinta.

Colombo – Temos um problema sério no setor habitacional. Temos que fazer uma mudança profunda. Fomos estudar o que os outros estados fizeram e há formatos de todo o tipo. Um fechou, o outro abriu. Fizemos todo esse estudo e agora vou tomar a decisão por completo. A gente buscou onde é que funciona mais, constatamos com o Ministério das Cidades, com a Caixa. Buscamos o melhor sistema e é agora que a gente vai escolher.

DC- Prefeitos que colaboraram com o senhor ou são seus correligionários, como João Paulo Kleinübing (PSD), Beto Martins (PSDB), Milton Hobus (PSD) e Wanderley Agostini (PSD) vão para o secretariado?

Colombo – Ainda não conversei com eles, mas desejo trazê-los. Tiveram uma administração exitosa, de grande impacto, acumularam uma experiência muito positiva. Fiquei de conversar com o João Paulo, com o Milton eu retomei o contato. Com o Beto, falei durante a viagem para a China, e vou voltar a falar. Com o Wanderley, conversei muito superficialmente e agora pretendo retomar.

Continua depois da publicidade

A metade do mandato

DC – Em dois anos de governo, o senhor conseguiu curtir o cargo? Teve prazer no cargo ou foi só pepino?

Colombo – A lavoura de pepinos é muito grande, mas são desafios. O que faz um homem estar disposto ou não é a sua consciência. O tamanho dos desafios depende da caminhada que você faz. E não tenho medo deles. O que me dá prazer como político é ver a obra sendo feita, os serviços prestados, as pessoas vendo isso acontecer. Uma inauguração de uma obra é sempre uma coisa emblemática, daquela coisa do dever cumprido, de ter conseguido esse espaço. Isso não fizemos muito, mas agora vai acentuar bastante. A gente cumpriu bem o dever.

Mas qual é o setor que deu mais alegrias para o senhor durante este ano?

Colombo – A área rodoviária é uma área muito importante para o governo. Mas a área de Planejamento também. E tenho que fazer um elogio ao secretário Nelson Serpa (da Fazenda), muito elogiado e reconhecido em Brasília. Quando a gente percebeu em março que a receita não ia se confirmar, que os indicadores do governo federal não eram reais, tivemos que começar a cortar na própria carne. Ali por agosto começamos a entrar numa fase de fazer uma conta diária, de acompanhamento de receitas e despesas. E a gente conseguiu alcançar as metas. Estamos há sete meses com o custeio caindo, com a folha diminuindo, e as receitas que a gente colocou foram realizadas. Quando estava chegando aqui, o diretor do BNDES ligou confirmando que depositou R$ 120 milhões na nossa conta do Proinvest de ressarcimento. Esse dinheiro vai para a educação, para a reforma das escolas. Esses momentos são agradáveis. Aquele momento em que renegociamos a questão dos portos também. Se a gente não fosse bem, se não tivéssemos trabalhado muito, o Estado teria sofrido um revés muito forte. E conseguimos minimizar, renegociar. Conversamos com todas as empresas, ninguém saiu. Muitas outras estão vindo. E são momentos importantes, de alegria. Nessa semana, as grandes empresas nacionais nos elogiaram pela transparência. Hoje, para você acessar o programa de incentivos fiscais, você vai no computador e se cadastra. Não precisa falar com nenhuma pessoa, não precisa de intermediários. Eles falam que isso encanta, que faz Santa Catarina ser diferente. Isso dá uma alegria muito grande.

Continua depois da publicidade

Os desafios de 2013

DC – cha que já conseguiu deixar uma marca até agora e o que considera essencial para 2013?

Colombo – A marca vem com o tempo. Não sou personalista e o estilo que adotei, e isso é uma escolha consciente, é mais demorado, mas apresenta resultado. Vai pelo consenso, pelo diálogo, pelo convencimento. Acho que é o melhor. A marca verdadeira é aquela que as pessoas formam, não aquela de marketing. E 2013 é o ano da realização, das execuções das obras. Estamos com o trem nos trilhos, agora é só tocar. É agilizar essas obras e fazer com que elas aconteçam. Você tem o dinheiro, o projeto, a licitação. Em todo o nosso projeto, nosso desafio é fazer de 2013 o ano das realizações. O ano da execução dessas obras que foram muito discutidas, muito planejadas. E ela tem um impacto direto no processo político. acredito muito nisso.

DC – Qual o seu sonho para 2013?

Colombo – Fazer as obras todas entrarem na prática, virar um canteiro de obras. Isso é o que eu peço todos os dias.

Investimentos, contas e tributos

DC – O que falta para que o contrato e o protocolo de intenções com a BMW sejam assinados?

Colombo – Tivemos uma última reunião com eles agora e nós vencemos todas as etapas. Eles levaram o contrato para ser analisado e me ligaram ontem dizendo que o contrato foi liberado. Em janeiro a gente assina. A proposta foi aprovada por nós, por Brasília e por eles. Fiquei com a liberdade de marcar a assinatura para a primeira quinzena de janeiro. O processo já está em curso.

Continua depois da publicidade

DC – No ano passado, o cálculo que foi feito era o de que o governo precisaria crescer em torno de 14% para conseguir fechar suas contas. Chegou a 6% de crescimento e ficou bem abaixo do esperado. Qual o cálculo que vocês estão fazendo para o ano que vem?

Colombo – Fazemos um cálculo de 7,8%. O que vamos fazer: vamos diminuir ACTs, vamos fazer gestão, vamos fazer o que estamos fazendo na saúde, eliminar todos os desperdícios. É fazer todo um processo de gestão para conseguir fechar o caixa. É um processo do gestor público, esse é o nosso desafio.

DC – A Assembleia Legislativa aprovou o aumento das taxas na Fatma, e a Fiesc reclamou, disse que isso é um aumento da carga tributária, e era uma promessa sua não aumentar a carga tributária. Como o senhor vê isso?

Continua depois da publicidade

Colombo – A Fatma precisa de um reforço para aumentar a sua eficiência. Surgiu uma proposta interna dos técnicos da Fatma, analisada pelo Murilo Flores como um estudo profundo de que com esses ajustes, nós conseguiríamos fazer uma estrutura bem melhor, com bem mais qualidade. Nós vamos reformular, fazer investimentos importantes. E essa taxa, os pequenos produtores não serão afetados. Mas grandes investimentos que às vezes vêm aqui e deixam R$ 100 milhões, R$ 500 milhões, não terão problema em pagar uma taxa que passou de R$ 1 mil para R$ 15 mil. Não é um aumento tributário. É um ajuste real. Conforme o tamanho do investimento, a taxa tem um reajuste um pouco maior.

Eleições à vista

DC – Em 2014, o senhor está com a Dilma Rousseff (PT) ou com o PSDB?

Colombo – Estou com o meu governo. Não sei nem quem são os candidatos. Eu tenho o compromisso de fazer um grande governo em 2013. Se o governo ajudar com a BR-470, com os aeroportos, eu não tenho como não ser parceiro. Agora, não tenho nenhum compromisso político, e sempre fomos adversários políticos. Hoje o que invade o meu coração não é uma política partidária, eu quero realmente fazer um bom trabalho por SC. Eu não sou ingrato.

DC – O que falta então é colocar as máquinas nas ruas?

Colombo – Todas essas parcerias com o governo do Estado. Até hoje ela (Dilma Rousseff) correspondeu com o Estado. Se isso continuar, nós estaremos juntos. E veja bem, isso não significa uma aliança com o PT, estou falando do meu apoio. Não tenho controle sobre isso.

Continua depois da publicidade

DC – E com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB)?

Colombo – Sou muito amigo do Eduardo, mas não sei nem se ele é candidato. São cenários que estão em aberto. Eu não tenho feito uma participação política, porque eu quero realmente focar no governo.

DC – O senhor pretende se colocar como candidato para mais quatro anos?

Colombo – Eu não sou covarde de fugir. E não sou ambicioso de querer de qualquer jeito. Se a gente sentir que o governo está indo bem e que as pessoas confiam na gente, eu não vou me negar. Se eu sinto que as pessoas acham que eu não correspondi com o que elas esperavam, eu dou o lugar para outro sem problema nenhum. Não é uma preocupação para mim hoje. Eu quero sair de cabeça erguida, cumprindo com o meu dever.

Escolas interditadas

DC – O senhor vai descompactar a tabela do magistério?

Colombo – Tem que descompactar a tabela do magistério. Essa lei foi um erro. Só que tem que fazer a longo prazo. Ela tem que ser feita e vamos fazer, mas tem que fazer com a economia prevista de valores, e vamos conseguir economizar na gestão. E com esse processo vamos conseguir descompactar a tabela, que é basicamente a mesma coisa que estamos acordando com o Sindicato da Saúde. É fazer economia, e com esse dinheiro nós aplicamos na questão salarial. Na educação, vamos fazer a mesma coisa. Por exemplo: no modelo que nós fizemos, nós vamos ter 10 mil ACTs a menos em 2013. Isso é uma economia real.

Continua depois da publicidade

DC – Em contrapartida, o orçamento da regional baixou de R$ 30 milhões em 2011 para R$ 9 milhões em 2013. Como fechar essa conta?

Colombo – Não diminuiu o dinheiro da educação, diminuiu o repasse para as regionais. A parte de obras vai ser feita pela administração central. Eles vão fiscalizar. Porque se não só faz ginásio de esportes, e eu quero fazer educação. Não mudou o dinheiro, mudou a autonomia da aplicação. A fiscalização e a coordenação da educação vão continuar com as regionais. Nós fizemos um estudo técnico com as escolas para ver o que de fato é prioridade.

DC – O pai desse aluno que estuda na escola interditada pode ter a expectativa de que ele vai começar o ano letivo com a escola pronta?

Continua depois da publicidade

Colombo – Claro. O dinheiro do Proinvest, que é para reformas em escolas e os recursos do Estado, está todo em curso. E nós vamos conseguir legalizar essa situação. Nós temos uma razão de ter trazido para a administração central. Porque lá não se faz o trabalho de arrumar o banheiro, de cuidar da porta que está quebrada. Quer fazer mais um ginásio. Aí trouxemos esse projeto para a parte pedagógica.