Após 40 minutos de trabalho, Acássio Evangelista de Souza, o Negão, precisa dar uma parada. É que a camiseta amarela de mangas longas do uniforme está encharcada pelo suor que escorre no corpo, resultado do esforço físico já feito. No meio da rua mesmo, o homem de 45 anos veste outra, de mangas curtas. Rapidamente, sobe no caminhão Mazaropi e continua a jornada que ainda tem muitas horas de correria pela frente.

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Confira uma galeria de fotos do dia a dia dos coletores em Blumenau

Acássio trabalha como coletor de lixo há pouco mais de um ano. Faz dupla com Ivan Freitas do Nascimento, o Ceará, 52. Está sempre do lado direito do caminhão e em constante movimento, independentemente do relevo das ruas. Um aparelho contador de passos mediu que, numa segunda-feira, dia em que a jornada de trabalho ultrapassa 10 horas, Acássio andou pouco mais de 30 quilômetros. É como se ele tivesse feito duas vezes o percurso da Corrida de São Silvestre.

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E o especialista garante que o lixeiro é quase um maratonista mesmo. Segundo o educador físico com especialização em Psicologia do Esporte José Otávio Furtado Ramos, a atividade é considerada aeróbica, ou seja, a fonte de energia para o corpo é o açúcar e a gordura. Em atividades de curta duração, só o açúcar é consumido.

– Temos uma camada de pele, outra de gordura, aí vem o músculo. No caso dos coletores, a camada de gordura é consumida no trabalho. Por isso que os lixeiros têm os músculos definidos, eles aparecem mais.

Natural do Maranhão, Acássio veio para Blumenau há 12 anos para tentar a vida. Mora na Itoupava Central com a mulher e a filha de 11 anos. No mesmo terreno, vive a outra filha, de 16 anos, o genro e a netinha nascida há seis meses. A filha mais nova já percebeu as mudanças no corpo do pai, como conta Acássio:

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– Entrei com 82 quilos. Hoje, tenho 75. Minha filha brinca: pai, você tá seco.

Para dar conta de tanto esforço, o corpo precisa de comida. Ramos destaca que uma dieta com 2,5 mil calorias, indicada para pessoas comuns, não é suficiente para os coletores. Eles precisam de 6 mil calorias. Acássio afirma não comer muito na empresa, que oferece almoço. No lanche que faz no meio da manhã, porém, não dispensa pão com linguiça, doces ou salgados. Para beber, refrigerante. E à noite, em casa…

– Às vezes a mulher quer só fazer um lanche. Eu pergunto “como assim?” e aí ela vai lá e faz comida – revela, bem humorado.

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Assista a um vídeo sobre os coletores de lixo: