Mais do que música como construção matemática de acordes ou apenas pano de fundo para o dia a dia. Música como cultura, como ato político, como bandeira a ser levantada e como um movimento de pessoas para pessoas. A cultura punk nascida lá nos anos 70 criou um estilo de vida que circula o som e se baseia no “faça você mesmo” para ser independente até a raiz. Por levar a música a sério e ter ela em seu cerne, essa cena é das mais organizadas no mundo da música, e um grupo de Blumenau prova isso com eventos que atraem cada vez mais entusiastas.
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O BNU PNX (de Blumenau Punks) existe como coletivo há cinco anos e é responsável por alimentar uma cena alternativa de punk e hardcore em Blumenau com shows não só de bandas da região em busca de espaço para mostrar seu som, mas também da cena nacional e até internacional. Só no ano passado, por exemplo, vieram para a cidade bandas da Suíça, Estados Unidos, França, Argentina e Espanha. Tudo de forma independente, com ingressos baratos e organização coletiva.
– É um movimento sem líder. Nos reunimos pelas redes sociais e em encontros entre amigos, já que tudo surgiu de um hobby de quem curtia as mesmas coisas. Fazemos parte de uma cena musical no país e quando alguma banda de fora quer fazer turnê por aqui, entram em contato e tentamos organizar. É sempre da nossa forma, sem investimento do poder público ou privado – explica um dos membros do coletivo, Henri Alves.
O primeiro evento do coletivo em 2016 é hoje à noite, na Fundação Cultural, com shows das bandas paulistas Test e Krokodil, da Hauser de Jaraguá do Sul e, como principal atração, o grupo Appraise de Barcelona, na Espanha. A turnê da banda espanhola representa bem o espírito dos artistas da cena: começou em São Paulo na última sexta-feira, dia 25, uma série de 14 shows que vêm do interior paulista até Santa Catarina e seguem para Peru e Chile, tudo em 16 dias.
– As bandas vêm com uma passagem de ida e uma de volta. Alguns shows já fechados e outros a organizar conforme surge a disponibilidade de espaço e tudo mais. O coletivo já ajudou a organizar turnês assim outras vezes, é algo bem mais complexo por envolver produzir os shows em outras cidades também. Aqui entramos com o dinheiro do bolso e depois tentamos reembolsar com a venda de ingressos e outras coisas no evento. Às vezes dá lucro pra colocar no caixa, às vezes saímos no prejuízo, mas o objetivo não é fazer dinheiro mesmo – conta Henri
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Além da música
Além das quatro bandas, o evento de hoje à noite em Blumenau terá a cara do BNU PNX: exposições artísticas, materiais independentes e comida vegana (sem produtos de origem animal). Tudo isso faz parte das bandeiras do coletivo – e de um lado da cena punk -, ao seguir ideais políticos de contestação social e contracultura.
Essa amplitude motiva o desenhista Anderson Schmit a frequentar a cena. Ele destaca que os eventos não ficam somente na música e abrem espaço para a troca de ideias entre artistas.
– Claro que as bandas chamam o público, mas o próprio som delas normalmente é mais politizado e traz para o evento o debate político, está interligado. É legal também ver o esforço do pessoal para trazer para Blumenau algumas bandas de fora que normalmente não passariam por aqui.
Gabriela Schmidt participa dos eventos do coletivo há pelo menos três anos e o considera parte de uma cena alternativa maior da cidade, que segue a ideia do “faça você mesmo” a partir da vontade de cada pessoa em participar:
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– É a vontade de quem quer agregar algo na cena. Um evento assim é um incentivo ao desenvolvimento de habilidades e um espaço de expressão – diz a jovem que costuma fotografar os shows e também já participou de exposições.
SERVIÇO
O quê: Show com Appraise (Barcelona), Test (São Paulo-SP), Krokodil (São Carlos-SP) e Hauser (Jaraguá do Sul-SC)
Quando: hoje, a partir das 22h
Onde: Fundação Cultural de Blumenau (Rua XV de Novembro, 161)
Quanto: ingressos a R$ 10