“Frente a frente, derramando enfim todas as palavras, dizemos, com os olhos, do silêncio que não é mudez”. Esse trecho do poema “Encontro de Assombrar na Catedral”, da escritora Ana C, faz parte do livro “A teus pés” e deixa claro que nem todo silêncio é mudez ou sem significado. Silêncios falam, gritam, dizem muito. Essa questão é uma das principais do livro “Pensar em não ver – Escritos sobre as artes do visível”, de Jacques Derrida, que será lançado mundialmente na quarta-feira, na Feira de Livros da UFSC, em Florianópolis.
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Trata-se de uma coletânea inédita de textos do filósofo, reconhecido como uma das maiores influências na área de Humanas do século 20. Publicados inicialmente em diversas e renomadas revistas de arte francesas, como Cahiers du cinéma e Contretemps, esses textos hoje estão esgotados ou são de difícil acesso.
A obra reúne as reflexões de Derrida sobre o desenho, a pintura, a fotografia, o cinema, a videoinstalação. Mas mais do que refletir sobre as artes visíveis, a questão do que é visível é tratada como um lugar de oposição, onde se diferencia o sensível e o inteligível, a noite e o dia, a luz e a sombra.
Segundo Derrida, essa questão domina toda a história da metafísica ocidental. Muito além das artes visuais, para o filósofo, o deslocamento entre o que não é visível e o que é (e que a partir disso torna-se texto) é o lugar onde se move o pensamento.
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A EdUFSC conseguiu a autorização diretamente com a viúva de Derrida, Marguerite, fato que mobilizou uma rede formada por vários especialistas brasileiros e estrangeiros na obra filósofo, além de Sérgio Medeiros, diretor executivo da editora, que foi aluno de Derrida em Paris, em 1994 e 1995.
– A EdUFSC está com uma proposta de renovar o catálogo para que reflita não só a produção da Universidade, mas também obras de renome mundial usadas por alunos de graduação – que no caso do Derrida são vários cursos diferentes. A exposição do livro na Feira será a primeira em todo o mundo. Queremos dar uma virada no evento, que ele deixe de passar a impressão de que se trata da venda de obras encalhadas ou de queima de estoque, mas de um evento cultural mesmo – declarou Sérgio.
O livro sairá na França, pela editora Galilée, só em 2013.
– A importância dos ensaios é enorme. A coletânea é inédita e traz duas conferências nunca publicadas. No Brasil havia pouca coisa dos textos de Derrida que versam sobre as artes em geral – afirma João Camillo Penna, professor da UFRJ e especialista na obra de Derrida que foi responsável pela revisão técnica do livro.
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Agende-se
O quê: “Pensar em não ver”, coletânea de textos do filósofo Jacques Derrida
Quando: 24 de outubro – o livro estará à venda a partir das 14h, às 16 haverá um bate-papo para apresentação da obra
Onde: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Trindade, Florianópolis
Quanto: R$ 32 (depois do encerramento da Feira do Livro o preço será R$ 46)
Trechos da obra:
“O que faço com as palavras é fazê-las explodir para que o não verbal apareça no verbal”.
“Os senhores sabem que eu amo as palavras”.
“É quando as palavras começam a enlouquecer desse modo, e não se comportam mais com propriedade com relação ao discurso, que elas têm mais relação com as outras artes, e, inversamente, isso revela como as artes aparentemente não discursivas, como
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a fotografia e a pintura, correspondem à cena linguística”.
“Cada vez que começo um texto, a angústia, o sentimento de fracasso, vem do fato de que sou incapaz de estabelecer uma voz. Pergunto-me com quem estou falando, como vou jogar com o tom, o tom sendo precisamente o que informa e estabelece a relação. Não é o conteúdo, é o tom, e desde que o tom nunca está presente a si mesmo, ele é sempre escrito diferencialmente; a questão é sempre essa diferencialidade do tom”.
“Assim, eu diria que para mim a experiência da beleza, se ela existe, é inseparável das relações com o outro e do desejo por ele”.
“A beleza é alguma coisa que acorda/ desperta o meu desejo ao dizer “você não me consumirá”.
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“O que chamo pensamento é apenas isso; alguma coisa foi interpretada”.