Ansiedade, tristeza e a perda de confiança. Esses são os sentimentos descritos pelo publicitário Júlio Cesar Wojcikiewicz, de 37 anos, após ter parte da coleção de camisas de futebol raras furtadas. Das mais de 400 peças adquiridas aos longo dos anos, quase 200 foram perdidas. O prejuízo, segundo ele, é de quase R$ 80 mil e trouxe danos, não só financeiros, mas também psicológicos. Ao menos duas pessoas são investigadas pela Polícia Civil de Florianópolis.
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A história começou em abril deste ano quando um conhecido de Júlio entrou em contato com ele pedindo um lugar para ficar enquanto a kitnet que alugaria passava por uma reforma. Segundo Júlio, o suspeito ficaria na casa dele, localizada no Ribeirão da Ilha, por cinco dias, mas após o “amigo” se mostrar uma pessoa prestativa e que ajudava nas tarefas domésticas, resolveu propor um acordo.
— Como eu trabalho com futebol, a casa ficava vazia e ele ajudava a limpá-la e ajudava nos momentos em que eu não estava. Como vi que estava me auxiliando e veio em um mês que estava meio ruim financeiramente, fiz a proposta: “Tu não queres pagar esse mês aqui, tu me ajuda, fica um tempo aqui em casa me ajudando e quando arranjar algo melhor, a gente vê o que faz” — relembra.
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O homem aceitou a proposta e, então, passou a morar na casa de Júlio. O acordo é de que ele repassaria R$ 900 ao amigo, mesmo valor que gastaria com a despesa da kitnet. Porém, o publicitário conta que nunca recebeu o dinheiro.
Entretanto, o primeiro sinal de um suposto sumiço das camisas ocorreu algum tempo depois. O colecionador explica que as camisas ficam em um quarto onde também estão as coisas da mãe dele, que morreu a cerca de um ano, vítima de câncer. Em determinado dia, a namorada de Júlio perguntou se poderia pegar uma das roupas da coleção para vestir já que estava sentindo frio. Ao procurar a peça, no entanto, não a encontrou entre as demais.
— Ela veio me perguntar onde estava a camisa porque procurou e não encontrou, e foi ela que me ajudou a organizar. Eu respondi que devia estar no meio da bagunça e que depois eu procuraria melhor, mas passou — pontua.
Anúncio denunciou o furto
O furto, no entanto, só foi descoberto no fim de maio. Júlio conta que no dia 30 uma pessoa entrou em contato com ele perguntando se ele não venderia uma camisa da coleção. O publicitário, então, negou que estava comercializando qualquer peça. A pessoa, no entanto, insistiu alegando que viu um anúncio na internet de um dos uniformes raros na internet.
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— Era uma camisa do Figueirense. Fui ver o que estava acontecendo e era a minha camisa sendo anunciada. Acabei entrando no quarto e vi que ela não estava lá. Era uma camisa rara, que tem a assinatura do goleiro — conta.
Júlio entrou em contato com a dona da página onde o anúncio foi publicado, que era sua conhecida em outras negociações. Ao questionar a mulher, ela relatou que havia adquirido a peça com um homem que tinha o mesmo nome do amigo que estava hospedado em sua casa.
— Na hora eu gelei, porque percebi que ele estava roubando as minhas camisas. Eu fui conversando com ela e vendo o tamanho do rolo, que tinha vendido várias para ela, mais de 100 — explica.
Ao questionar o “amigo”, ele teria confirmado que havia vendido as camisas sem o conhecimento de Júlio. Na mesma hora, ele foi expulso do local. Já em relação a dona do anúncio, o colecionador pediu para ela retirasse a publicação e fizesse o levantamento de quantas pessoas tinha sido adquiridas. Ao menos 145 camisas tinham sido compradas pelo valor de R$ 7.850,00.
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Com as informações, Júlio fez o boletim de ocorrência em 2 de junho. Apesar de ter solicitado a ajuda da mulher que havia anunciado as camisas, até hoje ela não repassou as informações sobre o ocorrido.

Suspeito confessou o crime
Em depoimento, no dia 13 de junho, o suspeito confessou o furto das camisas. Segundo o relato no qual o NSC Total teve acesso, ele conta que não sabe ao certo quantas camisas teria pego e que a ação ocorreu “aos poucos”. Ele teria lucrado, ao menos, R$ 7 mil com a venda.
— Depois que eu peguei as camisetas, eu levei ela até a pessoa que compra as camisas, pelo Facebook. Primeiro foi no Centro, depois foi no Bistek da Praia Comprida […]. Marcava e se encontrava, bem objetivo— explica.
O suspeito alegou, ainda, que o dinheiro adquirido foi usado para a pagar as despesas da casa onde morava com Júlio. Entre as camisas revendidas, estavam do Figueirense, do ex-goleiro Rogério Ceni autografada, do Barcelona e da Seleção Brasileira.
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Já em relação a mulher que havia anunciado as camisas, o colecionador conta que as postagens não foram retiradas do ar. Então, em 7 de julho, um mandado de busca e apreensão foi cumprido na casa dela, onde 20 camisas foram recolhidas — 17 foram reconhecidas por Júlio.
A mulher chegou a ir à delegacia para prestar depoimento, mas preferiu ficar em silêncio.
— Depois que ela ficou sabendo [que as camisas eram furtadas], ela não tomou nenhuma medida para evitar que outras camisas fossem vendidas — desabafa Júlio.
Por conta disso, na última semana, o colecionador resolveu fazer uma publicação nas redes sociais contando a situação e alertando as pessoas de que as camisas raras eram objeto de furto. O advogado da dona da página, em uma rede social, teria alegado que não havia provas de que as camisas eram de Júlio, além de afirmar que ele teria sido “conivente” com o crime.
“A história não é bem assim. Estou advogando no caso, não há provas de que esse cidadão seja o real proprietário das camisas que ele alega ser sua e também não sabemos se há conivência do próprio denunciante”, diz na publicação.
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Ao NSC Total, o advogado informou que sua “cliente é inocente, que a verdade dos fatos serão esclarecidas no curso do processo”.
“Até para trabalhar tem sido difícil”
Júlio conta que o prejuízo com o furto gira em torno de R$ 60 e R$ 80 mil, e quase 200 das 400 camisetas que possui desapareceram. Após a publicação, duas pessoas entraram em contato com ele informando que adquiriram as peças. Além disso, no jogo do Figueirense de domingo (30), amigos levantaram a faixa “devolva as camisas furtadas” como forma de auxílio ao colecionador. Apesar disso, apenas 18 foram recuperadas até o momento.
Uma coleção que, segundo ele, vai muito além do amor do futebol, mas também é uma forma de lembrar da mãe, que faleceu no ano passado.
— A coleção começou com a minha mãe. Eu nasci com o futebol, ela conheceu meu pai no jogo do Figueirense. Quando eu soube do furto, eu não consegui trabalhar direito, fiquei noites sem dormir. Desde o ocorrido até agora, até para trabalhar tem sido difícil. Me dá muito ansiedade e tristeza ver uma camisa sua sendo associada a isso — desabafa.
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O caso segue em investigação pela 2ª Delegacia de Polícia de Florianópolis. A reportagem tentou contato com o delegado responsável, mas não obteve retorno.
Ao NSC Total, o suspeito pelo furto informou que não irá se manifestar no momento para não interferir na investigação, mas alegou que tem auxiliado a polícia “de todas as formas”.
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