Catorze anos depois de abrir seu disco de estreia dizendo que “vivemos em um mundo bonito” e de se transformar em uma das maiores bandas pop do mundo, o Coldplay está triste. Lançado nesta segunda-feira, Ghost Stories leva o quarteto aos abismos do amor não correspondido, da falta de alegria, do desamor absoluto. É o drama dos roqueiros britânicos.
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Claro, o Coldplay nunca foi uma banda, digamos, feliz. Nas letras de Chris Martin, o otimismo sempre acenou de longe. Embora Mylo Xyloto (2011) tenha trazido um pouco de luz ao grupo, Ghost Stories retoma a melancolia, apresentando um compêndio de breves histórias de amor fracassado – muitas, dizem, inspiradas no fim do casamento do vocalista Chris Martin com a atriz Gwyneth Paltrow -, levadas por um instrumental quase etéreo.
A única faixa dissonante é A Sky Full of Stars, talvez a primeira canção eletrônica dançante da banda, que bem poderia integrar um disco de David Guetta – mas que, em um show do Coldplay, cabe perfeitamente entre Clocks e Paradise. A letra, no entanto, segue a pegada geral de Ghost Stories: “Porque você é um céu cheio de estrelas / E eu te darei o meu coração”. Sentiu o drama?
Se tivesse sido lançado na era pré-internet, quando o flerte mais comum entre adolescentes era por meio de bilhetes com frases de impacto – colocados sorrateiramente no meio de cadernos ou dentro de mochilas -, Ghost Stories reinaria supremo. Uma declaração como “Eu penso em você / Não tenho dormido / Você está sempre na minha cabeça”, de Always in My Head, seria uma baita mão na roda para a molecada mais tímida.
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Ou, para os mais avançados no relacionamento, enviar um cartão com “Tudo o que eu sei é que eu te amo tanto / Tanto que dói”, retirado de Ink. Se o caso fosse o de rompimento, bastaria copiar a introdução de Another?s Arms: “Tarde da noite assistindo TV / Costumava ser você aqui ao meu lado / Costumavam ser seus braços em volta de mim”.
Como é o coração despedaçado que está cantando, Chris Martin não poderia deixar de citar o maior dos farofeiros do rock, Bon Jovi, na balada True Love: “Diga que me ama / Se não ama/ Minta para mim”, referência a Lie to Me.
Ghost Stories é um disco romântico por excelência, o que o torna um corpo estranho em um meio que há muito parece ter abandonado o romantismo e se tornado cada vez mais autorreferente. Soa, portanto, ao mesmo tempo anacrônico e bem-vindo. Meio brega também, mas, pombas, o amor é brega. E, quanto mais sofrido, melhor, já diria o conterrâneo do Coldplay e poeta caído Richard Ashcroft: “O amor é barulho, o amor é dor / O amor é esse blues que eu estou cantando novamente”.
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