O Comitê Olímpico Internacional (COI) confirmou nesta segunda-feira, no Rio de Janeiro, todas as preocupações que tem com a organização dos Jogos de 2016, que estavam contidas em relatório interno revelado no último sábado. Visivelmente preocupada com os protestos que tomaram conta do Brasil durante a Copa das Confederações, em junho, a entidade mudou de postura, numa tentativa ostensiva de transmitir uma imagem positiva da Olimpíada, focada principalmente no “legado”.

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– Não havia críticas, é um documento de gerenciamento de risco – disse o diretor executivo de Jogos Olímpicos do COI, Gilbert Felli, na entrevista de encerramento da visita da comitiva da entidade ao Rio. – Não é um documento para criticar o Comitê (Organizador do Rio/2016), mas um material de trabalho, compartilhado com todos para entendermos o que está sendo feito e corrigirmos o curso se necessário – acrescentou.

No relatório “estritamente confidencial” do COI, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, os 44 capítulos de preparação estavam divididos em três cores: verde para as que estão em dia; amarelo para as sob ameaça; e vermelho nos casos de atrasos, como é o caso de todo o capítulo sobre infraestrutura. O entidade pedia, por exemplo, um “monitoramento muito cuidadoso” da linha 4 de metrô, que vai ligar a zona sul do Rio à Barra da Tijuca, local da maior parte das disputas em 2016.

Nesta segunda-feira, Felli reconheceu que esteve “muito preocupado” com as obras da linha 4 (executadas pelo governo estadual), disse que agora elas estão indo rápido, mas, ainda assim, serão mantidas “no vermelho” porque serão entregues “muito em cima da hora”.

– Se chegar o dia dos Jogos e o metrô não estiver pronto, precisamos de um plano de contingência e estamos pedindo isso para a cidade.

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O relatório também mostrava a preocupação do COI com os protestos que tomaram conta do Brasil e, principalmente, do Rio, o que ficou evidente nesta segunda-feira. Na entrevista coletiva, a palavra “legado” foi exaustivamente usada.

– Achamos (as manifestações) algo saudável, as pessoas pediam melhor saúde e educação. O esporte pode ajudar – disse a presidente da Comissão de Coordenação do COI para os Jogos do Rio, a marroquina Nawal El Moutawakel, que fez questão de listar os “legados” da Olimpíada logo no discurso de abertura do evento desta segunda-feira.

A menos de quatro anos para os Jogos Olímpicos, a Matriz de Responsabilidades, documento que detalha qual será a participação de cada nível de governo (municipal, estadual ou federal), ainda não ficou pronta – e é uma das principais cobranças do COI. São pelo menos dois anos de atraso, já que a entidade esperava o documento concluído em 2011.

Para completar, três esportes ainda não têm os locais de disputa definidos: canoagem slalom, ciclismo e polo aquático. O diretor do COI cobrou publicamente uma definição rápida para o problema. Felli também citou as principais preocupações: infraestrutura, o Complexo Esportivo de Deodoro, a Matriz de Responsabilidades e os esportes ainda sem local.

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REPERCUSSÃO

O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), preferiu a minimizar as críticas e preocupações do COI.

– Não houve críticas a atrasos. O que houve foi o vazamento de um documento interno de acompanhamento que usamos juntos, de monitoramento. Uso todos os dias na prefeitura – disse ele, confirmando a existência de muitos pontos “em vermelho” no relatório. – Esse negócio de Copa é ‘brincadeirinha’. Difícil é fazer Olimpíada. Mais difícil ainda foi receber o papa Francisco – afirmou Paes.

O prefeito voltou a defender a extinção da Autoridade Pública Olímpica (APO), consórcio formado entre os três governos. O cargo de presidente da entidade está vago há duas semanas, desde que o ex-ministro de Cidades, Márcio Fortes, pediu demissão.

– A APO não faz falta nenhuma. Não vejo a menor necessidade, não ajuda e nem atrapalha – disse Paes, que já havia classificado a APO como “desnecessária e cara”.

O governo federal, quem paga a maior parte da conta, adotou a cautela. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, afirmou que vai conversar sobre o assunto com o prefeito. Sobre a vacância do cargo de presidente, Rebelo afirmou que “a questão será resolvida logo”.

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– Quando formamos a APO, tanto governo federal quanto a prefeitura estavam convictos da sua necessidade e utilidade. Não conversei ainda com o prefeito para saber suas razões mais profundas – completou.