O problema com os abscessos encontrados na carne bovina in natura brasileira exportada para os Estados Unidos poderia ter sido evitado. É o que defende o superintendente técnico da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), Bruno Barcelos Lucchi, que esteve presente em um encontro da Federação Agropecuária de SC (Faesc) nesta sexta-feira em Florianópolis. Por conta desse proble,a, os Estados Unidos suspenderam, na quinta-feira, a importação de carne de boi fresca brasileira por tempo indeterminado.

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Segundo o superintendente, a CNA alertava o Ministério da Agricultura (Mapa) há pelo menos três anos sobre a reação problemática das vacinas contra febre aftosa, que provoca um edema nos animais quando aplicada, e deprecia o valor do produto.

— A CNA já vem alertando há muito tempo, pelo menos de uns três anos para cá, e vem discutindo criar uma normativa para minimizar esse impacto (da vacina). Por exemplo, a dose é de 5 ml, poderia cair para 2 ml, sem prejuízo, e isso é a academia que tem nos dito, não é questão de achismo – diz Lucchi.

A reportagem tentou contato com a assessoria de imprensa do Ministério para comentar as declarações, mas não obteve retorno até a publicação da matéria.

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Luchi também ressalta que o dano provocado pelos abscessos é quanto à qualidade da carne, e não uma questão sanitária, conforme alegado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Segundo o superintendente técnico, não há nenhum risco à saúde do consumidor.

Tanto o superintendente quanto outros representantes do setor veem a questão da suspensão de importação como um movimento de barganha. A operação Carne Fraca, que revelou problemas sanitários, abriu espaço para questionamentos e negociação de preços da proteína animal produzida no país. Os Estados Unidos são o maior concorrente do Brasil nesse mercado.

A suspensão da importação causou um sentimento de frustração entre os produtores, já que o Brasil conseguiu entrar no mercado de carne in natura norte-americano em setembro de 2016 depois de 17 anos de negociações. Os embarques de carne fresca ainda estavam se consolidando. De janeiro a maio, foram exportadas mais de 11 mil toneladas, equivalentes a cerca de US$ 49 milhões.

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Carne catarinense não teria o mesmo problema

A carne bovina está longe de ser um produto expressivo na pauta de exportações catarinense, dominada pelas proteínas de aves e suína. Para se ter uma ideia, o maior comprador de carne de gado de Santa Catarina é Hong Kong, que de janeiro a maio importou U$S 1,9 milhão. Já o maior consumidor de carne de aves do Estado, o Japão, desembolsou U$S 129 milhões nesse mesmo período. No entanto, o presidente da Faesc faz questão de destacar o diferencial, ainda pouco explorado, da carne bovina do Estado:

— Sabemos que a carne catarinense não teria esse problema (dos abscessos), já que somos o único Estado livre de aftosa sem vacinação. Só que não exploramos isso — avalia o presidente.

Santa Catarina não exporta carne bovina fresca, apenas congelada, e os norte-americanos não estão entre os compradores do Estado. Ainda assim, o embargo preocupa produtores catarinenses de aves e suínos, que temem que sobre mais carne de boi no mercado interno, reduzindo a procura pelas outras proteínas.

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Fontes ouvidas pela reportagem, que falaram em off, também dizem se preocupar com o efeito dominó que a suspensão pode causar, já a regulamentação dos Estados Unidos funciona como parâmetro para mercados menores.

Ministério vai auditar frigoríficos

O Mapa afirmou que vai investigar os motivos de reação causadas pelas vacinas e auditar plantas frigoríficas que exportam para os Estados Unidos. O ministro Blairo Maggi deverá se encontrar com autoridades de governo nos EUA. Já estava prevista para setembro uma reunião entre técnicos dos dois países.

Questionado se o embargo seria retaliação por questões de mercado, ou se o governo havia sentido mudanças em relação ao Brasil a desde a posse de Donald Trump, o secretário executivo do Mapa, Eumar Novacki, admitiu que há uma tendência do atual governo americano de adotar uma postura mais nacionalista.

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