O clube social sempre teve um papel importante na história dos municípios e de sua gente. Em seus salões, os foliões brincavam o carnaval, as famílias curtiam os verões nas piscinas, os sócios brindavam o Réveillon e comemoravam seus aniversários e casamentos e, principalmente, as meninas-moças eram apresentadas à sociedade, nos elegantes bailes de debutantes.

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A partir dos anos 80 este quadro começou a mudar, com o aparecimento de novas opções de diversão, antes privilégio só dos clubes. Discotecas, casas de shows, shopping centers e os próprios condomínios, com suas amplas áreas de lazer, “roubaram” o público.

Os sócios dos clubes foram minguando, muitas associações viram-se obrigadas a cerrar as portas por falta de gente e de dinheiro. Outras, se reinventaram. Diversificaram as modalidades esportivas oferecidas para atrair o público, formaram parcerias com a iniciativa privada e terceirizaram alguns serviços.

O Clube Doze de Agosto, de Florianópolis, fundando em 1872, é um exemplo desta mudança de comportamento da sociedade. Para enfrentar os novos tempos, explica o presidente Wilson José Marcinko, a primeira iniciativa tomada pela diretoria foi a de abrir seus espaços para a comunidade, como prestador de serviços, sendo a principal bandeira o incentivo e dedicação ao esporte.

– Somos hoje um dos complexos esportivos mais completos da Grande Florianópolis, oferecemos mais de 20 modalidades para toda a família. São esportes e atividades de lazer oferecidos desde a infância até a terceira idade – ressalta.

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Atualmente, está sendo discutida também a possibilidade de transformar o patrimônio da sede social, no Centro, em fonte de novas rendas, através de parcerias com iniciativa privada, na modalidade de troca de terreno por percentual de área construída, seguindo o exemplo do que fizeram os clubes Lira Tênis Clube e Paula Ramos Esporte Clube.

– Precisamos entender que o patrimônio do Clube Doze é um instrumento de viabilidade para provocar um aporte financeiro, com novas receitas fixas para o clube. A iniciativa vai torná-lo autossuficiente, proporcionando melhorias na qualidade dos serviços, manutenção adequada do patrimônio e a realização de novos investimentos – explica o presidente.

Três gerações e muitas lembranças

Desde o início da sua história, há 140 anos, os bailes do Clube Doze sempre fizeram muito sucesso. O Baile Municipal era o mais conhecido baile de carnaval de toda a região, prestigiado pelas “melhores famílias” da sociedade catarinense . Os bailes de debutantes, também conhecidos como Bailes Brancos, concorridíssimos. O sonho de toda menina-moça era “ser apresentada à sociedade” no Doze, motivo de orgulho para a família. As festas no clube se transformavam em grandes acontecimentos, e os ingressos eram muito disputados.

Léa de Meirelles Orle, 76 anos, é casada, tem três filhas e três netos, e foi uma das debutantes do Clube Doze, em 1952. Naquela época, lembra Lea, havia dois bailes de debutantes no clube: um no dia 12 de agosto, data do aniversário da associação, e outro no dia 31 de dezembro.

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– Eu debutei no baile do último dia do ano, porque em agosto era tempo de aula e meu pai não queria que nada atrapalhasse meus estudos – relembra Léa.

No baile, ela dançou a valsa com o namorado, Carlos Eduardo Viegas Orle, com quem casou-se depois. Eles estão juntos há 60 anos, e Léa ainda guarda um recorte de um jornal da época, com a foto dos dois no baile. Um acontecimento inesquecível daquela noite foi quando uma debutante entrou no salão trajando um vestido longo vermelho, causando espanto nos frequentadores da tradicional sociedade florianopolitana.

Lúcia Orle de Azevedo, 51 anos, filha de Léa, também debutou no Clube Doze, assim como suas irmãs. Foi em 1976.

– Era muito emocionante e glamuroso. A gente esperava o ano inteiro para participar dos eventos sociais que antecediam ao baile – festas, chás, encontros beneficentes e passeios – e, claro, da grande festa de gala – diz.

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Lúcia debutou também, como convidada, no baile do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.

Joana Orle de Azevedo, 30 anos, é filha de Lúcia, e também foi debutante do Clube Doze, em 1997. Nesta época, diz ela, muitas meninas já achavam que debutar era “pagar mico”, mas Joana e um grupo de amigas defendiam que o Baile de Debutantes continuava sendo um ritual de passagem para a vida adulta.

– Também fui a Disney e nos anos seguintes conheci Nova York e depois Paris, mas o grande símbolo da minha juventude foi mesmo o Baile de Debutantes, diz Joana, que hoje atua como médica dermatologista em Florianópolis.

Os débuts mais tradicionais do Estado

Além de Florianópolis, os bailes de debutantes mais tradicionais de Santa Catarina ocorriam em dois clubes de Joinville, o Harmonia-Lyra e no Tênis Clube. A maioria das meninas debutava nos dois lugares.

No livro Harmonia-Lyra, Palco das Musas desde 1858, todo o cerimonial da festa é descrito. As meninas esperavam nos bastidores até serem chamadas em ordem alfabética. No pé da escada, o pai da garota a esperava e, de lá, eles dançavam a valsa. O pai, então, a levava até a mesa da família, onde ela encontrava o seu par, que poderia ser um amigo, parente ou namorado. A partir dos anos 70, o clube passou a trazer convidados especiais para abrilhantar o baile, normalmente atores globais como Tony Ramos, Adriano Reis, Mário Cardoso e Fernando Eiras.

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Em Blumenau, o Tabajara Tênis Clube se destaca por ser o único na região que mantém a tradição do Baile de Debutantes, com tudo o que as meninas têm direito. Elas recebem aulas de etiqueta, postura, passarela, dança de salão, valsa e minueto, participam de palestras, viagens e desfiles de moda, além de eventos beneficentes. Em agosto deste ano foi realizada a 57ª edição do Baile de Debutantes do Tabajara Tênis Clube.

Exemplo de como dar a volta por cima

No Sul do Estado, o destaque positivo é a Sociedade Recreativa Mampituba, de Criciúma. Fundado em 1924, reunia apaixonados pelo futebol. Com o passar dos anos, novas modalidades esportivas foram sendo agregadas, e as festas realizadas pelo clube tornaram-se conhecidas em toda a região. Entre os anos 60 e 70, veio a crise. Um novo clube foi fundado na cidade, e muitos sócios migraram para lá. A solução foi oferecer aos associados motivos para retornar ao clube, e se manterem fiéis. Aos poucos, nos anos 80, foi construída a sede campestre, com um complexo aquático modelo, inaugurada em 1991. Ginásio coberto, piscina aquecida, lago com pedalinho, quadras esportivas, academias, nova sede social… E deu certo. O clube conta hoje com uma invejável carteira de 12 mil sócios. Entre as festas mais conhecidas, está o glamuroso Baile de Debutantes, realizado há cada dois anos.