A Avenida Beira-Mar lotada de gente para assistir às regatas, as torcidas organizadas de garotas para cada clube, as ruas do centro invadidas pela festa dos vencedores. Tempos áureos do remo de Florianópolis que não voltam mais, mas sobrevivem na memória de quem ajudou a construir a história do esporte.

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Aos 86 anos, Odilon Maia Martins é uma lenda viva do remo catarinense. Pouco mais jovem do que os centenários clubes da Capital – marca alcançada pelo Riachuelo em junho e a ser comemorada neste sábado pelo Martinelli com o evento Regata Histórica -, ele carrega consigo boa parte dessas lembranças que geram admiração dos mais jovens e saudosismo da velha-guarda.

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– Lembro da primeira vitória importante que eu tive. O Aldo Luz era o franco favorito no oito com timoneiro. Nós fomos lá e ganhamos deles. Foi uma festa, porque na época o remo era mais apreciado que o futebol -conta Odilon, resgatando a vitória do Campeonato Catarinense de 1954 com o Martinelli.

Aterro quase acabou com o remo

Ele explica, rindo, que foi para o Riachuelo após brigar com um companheiro e, de lá, dois anos depois, fixou-se no Aldo Luz. Mudança quase inadmissível naquele tempo de rivalidade, que foi minguando junto com a popularidade do esporte, a partir do aterro da Baía Sul, em 1973.

– Com o aterro, acabou tudo. Os clubes ficaram longe da raia. Quase morreu o remo. Sobreviveu com muito esforço de quem gosta – afirma.

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Odilon gosta tanto que não pensa em parar. Com disposição de garoto, todos os dias, “até aos fins de semana”, ele vai até o Aldo Luz (dirigindo o próprio carro), leva os remos até a água e carrega nas próprias costas, sem ajuda, o barco com o qual já conquistou 16 medalhas de ouro em Mundiais Masters. Em setembro, vai em busca de mais uma. Mas a principal conquista seria voltar a ver as raias de Florianópolis com a vivacidade de antigamente.

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– Queríamos que tivesse mais gente, mais jovens para vir. Mesmo assim ainda somos um celeiro. Os melhores remadores do Brasil saem daqui e vão para o Rio de Janeiro, porque os clubes não têm condições de mantê-los aqui – lamenta.

Paixão de pai para filho

Décio Couto Filho já nasceu imerso ao universo do remo. Seu pai era timoneiro no Riachuelo desde 1918 e chegou a representar o Brasil na Olimpíada de 1936, na Alemanha. O filho acompanhava os treinos e se entusiasmou a seguir o mesmo caminho. Hoje aos 80 anos, guarda com carinho as fotos e recordações do clube mais antigo de Florianópolis, e faz questão de se manter presente no dia a dia do Riachuelo, mesmo tendo parado de remar há décadas.

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– A gente se acostumou, conhece toda a história do clube, desde o início. Dá muita saudade daquele tempo, o remo aqui está persistindo porque a gente é teimoso – conta o saudoso Décio, que não desiste de ver a tradição do remo resgatada na Ilha.

– A gente está fazendo um esforço muito grande, mas ainda está se organizando. Tem um remador que já esteve no Flamengo, voltou para cá e disse: ” Se soubesse que o Riachuelo era assim, já tinha vindo há mais tempo”. Isso pra gente é demais.

Regata Histórica 100 Anos

Data: 25/07

Local: Parque Náutico Walter Lang

Horário: das 9h às 11h

O evento: 80 atletas que fizeram parte da história do Clube Náutico Francisco Martinelli, incluindo o remador olímpico Anderson Nocetti, foram divididos em dois times, vermelho e preto, que se enfrentarão em 10 regatas. Quem vencer mais fica com o Troféu do Centenário. Haverá também uma prova especial entre os atletas que tiveram resultados de destaque internacionais.

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