Depois da onda dos portais de compras coletivas, uma nova tendência em comércio eletrônico cresce no país: os clubes de assinaturas, sites que atendem a consumidores ávidos por produtos diferenciados em segmentos específicos. Consolidados nos Estados Unidos, os clubes de assinatura avançam por aqui a cliques largos. Começaram com a oferta de filmes e seriados e, aos poucos, avançaram para outras áreas de consumo. Hoje é possível fazer parte de associações para compra de azeites, vinhos, cervejas, chocolates, flores, sapatos, cosméticos e itens de bem-estar.

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Com o tempo cada vez mais curto para percorrer lojas de shoppings, a analista de TI Andriza Raupp tornou-se sócia de dois clubes de compras. Mediante o pagamento de R$ 200 em mensalidades, recebe em casa um par de sapatos e uma caixa com até seis miniaturas de cosméticos.

– Os clubes têm a vantagem de pensar por você. Sem sair de casa, recebo as últimas tendências escolhidas pelo site – diz.

Segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), o Brasil deve fechar 2012 com 91 milhões de usuários de internet e, desses, 43 milhões são compradores virtuais. De olho nesse mercado, mais de cem empresas criaram seus clubes e algumas já apresentam resultados bastante animadores.

Principal agregador dos serviços dos clubes brasileiros, o AssinaMe foi criado em abril e reúne cerca de 60 sites.

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– Essa tendência traz benefícios para os dois lados: a empresa programa seus estoques e os clientes pagam pela experiência de contar com produtos selecionados por especialistas – afirma Fernando Wolff, criador do site.

Acesso a mercadorias diferenciadas

Em alta no país, os clubes de assinaturas precisam preocupar-se com a qualidade dos produtos oferecidos aos associados. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), Maurício Salvador, este é um requisito fundamental para a sobrevivência dos sites em um mercado tão dinâmico.

– A principal vantagem dos clubes para o consumidor é o acesso a mercadorias diferenciadas, que não se encontram em prateleiras, mas, para isso, é necessário contar com bons fornecedores – observa Salvador.

Pelo menos dois dos maiores clubes em atuação no país têm relação direta com o Rio Grande do Sul. Na área de cervejas, a Have a Nice Beer (HNB) foi criada em maio de 2011, em Porto Alegre, mas hoje tem sede em São Paulo, para diminuir os custos logísticos. Com 5,2 mil associados em todo o país e crescimento de 10% ao mês, o site já entregou cerca de 40 rótulos diferentes.

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Por um valor de R$ 68,90 (mais o frete para algumas regiões), são enviadas mensalmente quatro cervejas, duas de cada marca. Em outubro, foram cervejas da Turquia. Em novembro, da França. A previsão é de que o faturamento da empresa em 2012 atinja R$ 3 milhões.

– Queremos proporcionar aos associados uma experiência gastronômica – observa um dos sócios, Rafael Borges.

Em busca de bebidas diferenciadas para reuniões com os amigos, o securitário Adriano Murillo se associou ao HNB há cerca de seis meses e garante que está satisfeito com a qualidade dos produtos. Nesse período, já recebeu rótulos dos Estados Unidos, República Checa e Alemanha, entre outros.

– Quando chega a caixa do clube, é como se estivesse ganhando um presente – diz.

Na área de vestuários, a Shoes4You, especializada em sapatos, tem produção feita no Vale dos Sinos. A primeira mensalidade custa R$ 79,99 e, a partir da segunda, o valor passa para R$ 99,99.

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Há alguns meses, também entraram na lista bolsas, acessórios e óculos. O site contabiliza mais de 55 mil pares de sapatos enviados para todas as partes do país, de acordo com o perfil dos associados. O diretor da empresa, Olivier Grinda, não revela a quantidade de sócios, mas diz que o número cresce próximo de 30% ao mês.

Sócios recebem últimas novidades

O glamour está no nome de outro site do segmento, o Glambox. Criado em fevereiro deste ano, o clube atua na área de beleza e oferece itens de cerca de 40 marcas, entre as quais as internacionais Givenchy, L?Occitane, Vichy e Lancôme e empresas brasileiras de produtos orgânicos. Os sócios recebem uma caixa com quatro ou cinco miniaturas, especialmente lançamentos, mediante uma taxa mensal de R$ 50 ou anual de R$ 500. Com cerca de 4 mil associados, o clube pretende chegar a 10 mil no próximo ano.

– Ao ingressar no clube, os assinantes recebem os últimos lançamentos em beleza e também dicas de como usar os produtos – ressalta o diretor executivo da Glambox, Fernando Leal.

Ainda na área de cosméticos está o GlossyBox, fundado há cerca de um ano e meio em São Paulo, que oferece produtos nas categorias Beauty, Premium, Homem e Petit, com assinaturas que variam de R$ 23 a R$ 43. Todo o mês, os associados recebem de quatro a seis miniaturas de mais de 80 marcas parceiras.

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– Os consumidores querem pagar para receber, na sua residência, as últimas tendências em cosméticos – reforça o diretor da Glossybox, Felipe Wasserman.

Sites apostam no paladar

Disposto a potencializar o consumo de azeite de oliva, foi criado em setembro deste ano, em Itaipava (RJ), o Clube do Azeite. Em pouco mais de dois meses, já são mais de 40 associados, dispostos a pagar entre

R$ 89 e R$ 159 mensais para ganhar um azeite de alta qualidade. O site já enviou produtos de Portugal, Itália, Espanha e Uruguai aos associados.

O paladar apurado e o envolvimento com a produção de azeites levou Daniel Aued, de Cachoeira do Sul, a se associar. Neste mês, o empresário recebeu seu primeiro produto, o italiano Gradassi, e conta que um dos benefícios é poder conhecer azeites que não são encontrados no mercado.

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– O mais importante é ter confiança no produto que se está degustando – ressalta Aued, que também é sócio do HNB (de cervejas).

Um dos mais antigos do país atua no segmento de vinhos. É o ClubeW, do site Wine. Desde março de 2010, produtos de 20 vinícolas foram entregues a 18 mil associados, e a meta é chegar a 22 mil em 2013. As assinaturas variam de R$ 80 a R$ 100 para duas garrafas, por exemplo, mas há descontos para outras compras feitas no site.

– O clube nasceu a partir da percepção da existência de uma grande demanda de brasileiros que valorizam bons rótulos e procuram o auxílio de empresas especializadas – ressalta o gerente de marketing, Ricardo Flores.

Também voltado para a gastronomia está o Moka Clube, especializado em cafés. Lançado em agosto e sediado em Curitiba, o clube conta com 150 associados e incentiva o consumo de cafés especiais (R$ 29,90 mensais).

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– A principal motivação foi o fato de sermos apaixonados pela bebida. Acreditamos que o café especial será a próxima onda de consumo em escala de produtos gourmet – projeta Gregorio Amadigi, diretor de novos negócios.

Com entregas trimestrais, o Rabixo é voltado ao público masculino e entrega produtos como meias, cuecas, desodorante, camisinhas e utensílios de barbear. São 400 associados, e previsão de faturamento de R$ 300 mil neste ano. Os kits são montados pelos próprios associados.

Insatisfeita, Laura pediu para sair

Apesar do crescimento, há quem esteja insatisfeito com o serviço. É o caso da estudante de Arquitetura Laura Marshall, de Porto Alegre. No início deste ano, a universitária associou-se a um clube de cosméticos, interessada em novidades. Quatro meses depois, decidiu cancelar a assinatura, insatisfeita com o que veio dentro da embalagem.

– Passei a receber amostras ou então itens que não estava interessada em utilizar – conta.

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Laura tentou suspender o serviço e não conseguiu pelo site. Depois, recorreu ao canal virtual Reclame Aqui. Só assim foi procurada para encerrar sua associação.

Mesmo assim, por mais dois meses recebeu a caixa de produtos do site e, ao tentar devolvê-las, foi informada de que deveria arcar com os custos do reenvio.

Casos como o de Laura não são exceção. Apesar de os clubes serem recentes, o Reclame Aqui registra várias ocorrências contra os sites de assinaturas, principalmente sobre a dificuldade de cancelamento da conta e o não envio dos produtos.