A temporada 2015 será uma das melhores para o futebol catarinense, com quatro times na Série A do Brasileirão. O resultado em campo é reflexo de um bom desempenho também fora dele. Uma série de quatro relatórios publicados em dezembro pela Pluri Consultoria, consultoria em Gestão, Governança, Finanças e Marketing Esportivo, destaca os clubes do estado como exemplo de administração de finanças.
Continua depois da publicidade
::: Diretor da Chapecoense revela o segredo da saúde financeira do clube
Continua depois da publicidade
Dentre 30 equipes, a Chapecoense lidera o ranking de “evolução financeira”, é segunda colocada em “saúde financeira” e só não tem um índice final melhor, de “estrutura financeira”, porque ainda está longe da receita e patrimônio dos grandes clubes nacionais, como São Paulo, Corinthians e Internacional. E os dados são referentes ao balanços financeiros de 2013, quando o Verdão do Oeste estava na Série B.
O economista Fernando Ferreira, diretor da Pluri, explica o que significam esses resultados:
– Saúde financeira é como estão os indicadores de endividamento e de liquidez do clube, ou seja, qual o estado geral das finanças. Já a estrutura financeira combina isso ao porte do clube, além de uma trajetória de melhoria constante nos resultados. Um clube gigante que tenha uma saúde financeira boa tem uma estrutura financeira melhor que o pequeno em mesma condição.
No caminho certo
Continua depois da publicidade
Se a Chapecoense parece já ter encontrado o remédio para a saúde financeira, os outros quatro grandes catarinenses tentam chegar a uma fórmula semelhante. Ailton Schuelter, vice-presidente financeiro do Criciúma, explica como o clube passou a ser o menos endividado entre os 28 de maior faturamento no Brasil (em 2013):
– A diretoria executiva tem a preocupação de não aumentar o endividamento e trabalhar dentro do orçamento previsto. O que se aplica na gestão das empresas normais, tentamos levar para o clube.
Depois de um 2013 desastroso, o Avaí apertou o orçamento drasticamente, maneirou nas contratações, terminou 2014 sem salários em dívida e com o acesso. No JEC, as dívidas bancárias e tributárias estão sendo pagas em dias, e mesmo na 1ª divisão, o Coelho quer manter os pés no chão.
Continua depois da publicidade
– Teremos o dobro do orçamento do ano passado, mas os jogadores também pedem um salário maior. Cresce a receita, mas aumentam também os gastos – avalia o presidente do Joinville, Nereu Martinelli.
Em antepenúltimo no ranking de saúde das finanças, o Figueirense conta com o desempenho dentro de campo para ascender.
– Esperamos que todos os índices melhorem, até porque a receita do clube foi muito maior em 2014 pelo acesso à Série A e a permanência – prevê Alex Tomita, superintendente administrativo do Alvinegro. O clube age também na reformulação de seu processo administrativo. O presidente Wilfredo Brillinger propôs a criação de uma empresa que gerencie jogadores, funcionários e dívidas.
Continua depois da publicidade
Confira entrevista com Fernando Ferreira, diretor da Pluri Consultoria
DC – Qual a avaliação geral sobre esse ranqueamento?
Fernando Ferreira – Os clubes de menor porte têm cuidado mais da saúde financeira. Como não têm a força do poder econômico, não estão no eixo Rio-São Paulo, não recebem cotas gigantescas da TV, resta serem muito eficientes para que se faça mais com menos. É a dona de casa com renda média que cuida do dinheiro para render mais em comparação àquela família de nome do passado, quebrada, mas que continua gastando horrores.
DC – A posição da Chapecoense surpreende?
Ferreira – Os clubes catarinenses, os cinco, têm um nível de gestão superior ao dos outros estados. A fotografia tirada neste momento favorece a Chapecoense, mas quando sair o balanço de 2014, o Figueirense, por exemplo, vai melhorar bastante, já que seu faturamento subiu muito ao jogar a Série A.
DC-O que seria essa gestão superior?
Ferreira- É o estado em que a gente vê a gestão profissional dentro dos clubes ser levada mais a sério. Prova de quão importante é tratar o clube como se fosse uma empresa, buscando o maior resultado não para distribuir para os acionistas, mas para aumentar o investimento no futebol. O que os times catarinenses vivem hoje é fruto deste diferencial. Estão se beneficiando da bagunça organizacional do futebol brasileiro, já que os grandes clubes, como têm um orçamento enorme, não têm nenhuma preocupação com a eficiência, gastam mal, pagam salários altíssimos.
Continua depois da publicidade
DC – Como melhorar ainda mais esse panorama?
Ferreira- Os clubes mais prejudicados pelo sistema de distribuição de cotas no Brasil são os catarinenses. Eles sofrem o mau de não serem os escolhidos da TV, no que é a pior das distorções do futebol brasileiro. O Criciúma caiu para a 2ª divisão, tinha uma cota na casa de 20 milhões de reais que vai baixar para algo em torno de três milhões. Já os times “escolhidos”, quando caem, mantém a mesma cota no primeiro ano de Série B. O risco do Criciúma não subir no próximo ano é muito maior. É preciso haver uma articulação política entre os clubes para tentar mudar essa questão.