Nas paisagens de campo e praia registradas por Clovis Dariano, um objeto estranho àqueles cenários está sempre a flutuar, não só desafiando a gravidade, mas gerando imagens inquietantes, como aparições inexplicáveis. Os trabalhos dessa série, em que a potência da fotografia é usada para criar cenas enigmáticas e de dúvida sobre o real, compõem a exposição Objetos Inexplicáveis, que será inaugurada nesta quinta-feira (23/4), às 19h, na galeria Bolsa de Arte (Visconde do Rio Branco, 365), em Porto Alegre. A visitação segue até 30 de maio.

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– A aparição de um objeto do qual a gente não sabe a origem tem a intenção de transformar essas paisagens, mas também de indagar: o que é isso, de onde vem e por que vem? – comenta Dariano.

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Nesta individual, ele reúne 16 trabalhos em grande e médio formatos – obras integrantes desta série foram apresentadas em 2014, na exposição Um Salto no Espaço, da Fundação Vera Chaves Barcellos (FVCB).

Um dos importantes artistas gaúchos que despontaram nos anos 1970, Dariano, 65 anos, fez parte do Nervo Óptico, grupo fundamental para a introdução das linguagens artísticas contemporâneas no Estado com suas performances, intervenções, impressos e a difusão da fotografia aliada a outros meios.

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De lá para cá, a produção de Dariano seguiu com essa ideia de uma fotografia híbrida, porém, o que mudou foram as tecnologias e o modo como elas operam na transformação do olhar. Daí vem o fato de que um observador apressado ou desavisado possa achar que as imagens reunidas na exposição Objetos Inexplicáveis sejam montagens digitais.

– Uma coisa é certa: nada é aplicado, não é construção de Photoshop. O objeto está sempre presente nesses locais – diz Dariano, que, para elaborar suas fotografias que jogam com a gravidade, cria modos de suspender imperceptivelmente os objetos nas paisagens.

Como em outros trabalhos de Dariano, Objetos Inexplicáveis é decorrência de realizações anteriores. O objeto que insistentemente aparece levitando nas imagens faz parte de Simbiose, série com materiais coletados na natureza apresentada em 2000, na Usina do Gasômetro. Esta era até então a última exposição individual do artista, que tem uma trajetória marcada por uma série de mostras coletivas no Brasil e no Exterior.

– Embora sejam trabalhos independentes, é uma continuidade, pois tudo é acumulativo, uma coisa vai gerando outra – diz.

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Para Objetos Inexplicáveis, Dariano resolveu focar nas imagens de campo e praia, deixando de fora uma série de fotografias ambientadas em espaços urbanos que igualmente mostram cenários em que flutuam objetos estranhos àquelas paisagens. Essa série deverá ser mostrada até o ano que vem, assim como outro trabalho que o artista realiza atualmente envolvendo fotografia e pintura:

– Tenho feito uma revisão de uma série de trabalhos, trazendo coisas que ficaram adormecidas e que agora estão ressurgindo. A fotografia é sempre base, mas sempre se misturado a algo. Agora, estou me dedicando a uma série em que trabalho a fotografia em relação com a pintura, abordando o sagrado e o profano. Tem várias coisas que quero mostrar pela frente.