O crescimento do universo digital abriu espaço para o compartilhamento de opiniões e modos de vida que ganharam força nos últimos anos. Antes de as redes sociais se tornarem tendência, os primeiros criadores de conteúdo na interntet alcançaram o público por meio de blogs ou canais de vídeos. O resultado dessa investida? O Brasil ocupa a 2ª posição global dos países em que as pessoas passam mais tempo na internet e o 3º colocado em que as pessoas mais usam as redes sociais, segundo dados da Hootsuite e WeAreSocial de 2021.

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Neste contexto estão os criadores de conteúdos e influenciadores digitais, um “profissional” presente em todas as mídias sociais, influenciando, entretendo e impulsionando o consumo de produtos, marcas e estilos de vida.

— Ainda que todos nós tenhamos o poder de influenciar outras pessoas, o que chamamos de influenciadores são hoje aquelas pessoas que através de sua criação de conteúdo, especialmente no meio digital, conseguem engajar a comunidade que as seguem. Por serem consideradas referência e autoridade em seus segmentos de atuação. Essas pessoas recebem grande atenção do público e são capazes de influenciar decisões dessa audiência — explica a consultora de marketing de influência Andressa Griffante.

A busca por se tornar uma pessoa relevante no meio digital, capaz de influenciar pessoas é tão grande que atualmente existem cursos em instituições com o objetivo de ensinar técnicas para entrar no ramo e ter destaque. Conforme explica a consultora de marketing digital e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Elis Monteiro, ser um influenciador é diferente de ter fama ou reunir números expressivos de seguidores.

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— Nem todo mundo que hoje tem muito seguidor nas redes sociais é um influenciador. O influenciador, a princípio, é uma pessoa que influencia decisões de compra e comportamento de outras pessoas porque naquele segmento é uma pessoa muito respeitada, cuja opinião chancela a opinião de outras pessoas. O problema é que hoje todo mundo se chama de influenciador. Na verdade, não é assim. Nem todo mundo influencia decisão de compra ou opinião dos outros — avalia Elis.

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Para ela, o atrativo que desperta nas pessoas o desejo de se tornar influenciadores digitais está na ideia de uma vida de luxo e regalias oferecidas pelas marcas com as quais os produtores de conteúdo trabalham.

— O influenciador é convidado para ficar em hotéis, fazer viagens, etc, e muitos influenciadores acabam não sendo pagos com dinheiro. Eles recebem com parcerias, convites e festas. E tudo isso chama muito a atenção das pessoas, que querem se tornar influenciadores, porque eles percebem que quem está trabalhando com isso acaba tendo muitos benefícios, presentes, ganhos e os tais de “recebidos” e criam a ilusão de ser uma vida fácil — explica Monteiro.

Conteúdo x Influência

Com a possibilidade de produção de conteúdo em diferentes redes sociais, a internet abre espaço para todos os tipos de segmentos e pessoas dispostas a produzir materiais que podem ou não se tornar virais e ocasionar no surgimento de influenciadores digitais.

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Elis Monteiro explica que qualquer pessoa pode se tornar um influenciador. Para isso, é necessário ter o perfil empreendedor e dedicação constante para se tornar referência na área onde vai construir a “persona” influenciadora, aquela que será a “marca” do influenciador.

— O influenciador tem o perfil empreendedor, ele tem que criar um negócio e esse negócio é a imagem dele. Então ele começa a falar sobre determinado tema, fica recorrente, começa a ganhar relevância, autoridade, até se tornar um influenciador. Isso quando a gente fala de influência de fato, porque os influenciadores que nascem, por exemplo, em um Big Brother, tiveram uma visibilidade grande por conta de um programa de TV. É o caso da Juliette, por exemplo. Não é um influenciador, é uma pessoa que ficou famosa por causa de um programa de TV. Fica mais fácil assim — pondera Elis.

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A especialista aponta que o influenciador, que vai começar a trabalhar de verdade influenciando a decisão de compra e comportamentos, terá um trabalho grande de desenvolvimento de perfil, ganho de seguidor, engajamento alto, visibilidade grande, para então começar a trabalhar profissionalmente com isso.

— Então, ele precisa ter também um perfil empreendedor, para poder ver a oportunidade para a marca dele ser um negócio. E aí, ele se torna um influenciador digital — explica a consultora digital.

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Criador e criatura

Os criadores de conteúdo e influenciadores digitais conhecem o caminho de persistência e dedicação iniciais citados por Monteiro. Para Gustavo Foganoli, criador de conteúdo e influenciador digital de Balneário Camboriú, trabalhar com internet envolve dedicação extrema no começo.

O jovem de 21 anos mora atualmente em São Paulo e começou a atuar na internet aos 18 anos, no início da pandemia da Covid-19, após ser demitido da padaria onde trabalhava na cidade do Litoral catarinense. Atualmente, Foganoli produz conteúdos sobre moda, lifestyle e gastronomia e conta com 5,1 milhões de seguidores no TikTok e 2 milhões no Instagram, plataformas onde compartilha os conteúdos que produz.

Como Mery Shelley disse em Frankenstein, “nada contribui mais para tranquilizar a mente como um propósito firme”, e Foganoli, como é conhecido digitalmente, encontrou no TikTok o refúgio para esquecer o estresse causado pela demissão e pelo primeiro ano de pandemia no Brasil. O influenciador “estourou” na plataforma cerca de um mês depois de começar a compartilhar os vídeos caseiros.

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— Fui demitido e decidi começar a fazer live, de duas horas de duração. Isso começou uns 10 dias depois da demissão. Recusava sair com meus amigos pra fazer live. A partir do momento que comecei a perceber os seguidores chegando, comecei a levar mais a sério e, além das lives, comecei a produzir e publicar dois vídeos por dia. Entendi o que funcionava na plataforma e como agir da melhor forma para desenvolver melhor o conteúdo — lembra.

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Em Uberlândia (MG), a cerca de 1,1 mil quilômetros de Santa Catarina, o também criador de conteúdo e influenciador Eric Borges decidia dois anos antes de Foganoli, em 2018, colocar em prática o impulso de trabalhar com a internet. O jovem de 25 anos era professor de balé antes de entrar para o meio digital.

— Desde a época do Vine [aplicativo de vídeos que deu espaço para o surgimento de criadores de conteúdo como Lucas Rangel e Maju Trindade], eu sempre quis estar do outro lado. Fazia vídeos, mas fazia muito por esporte. Em 2018, comecei a postar pra um aplicativo que a maioria das pessoas que eu conhecia não tinha, que era o Vigo Video. Comecei a ganhar muito seguidor por lá e acabei sendo contratado pelo aplicativo para repostar os meus conteúdos no Instagram e aí tive que repostar — conta Borges, lembrando que tinha vergonha no início.

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Borges diz que migrou para o TikTok, onde está até hoje. O estudante de Jornalismo produz conteúdos de entretenimento e tem 1,5 milhão de seguidores no TikTok e 209 mil no Instagram.

Tão perto e tão longe

A distância que separa os três jovens que trabalham com produção de conteúdo para as mesmas plataformas, mas não se conhecem, não é tão grande quando comparada às possibilidades de proximidade que a internet proporciona para os usuários.

De acordo com o psicólogo Hemerson Eckermann, o uso da internet foi fundamental para muitas pessoas afetadas pelo distanciamento e restrições impostas ao redor do mundo em decorrência da pandemia do coronavírus.

— A pandemia e o isolamento social promoveram em muitas pessoas problemas afetivos. Nós precisamos tocar no outro, abraçar, conversar, olhar nos olhos. Esse afastamento social fez com que muitos observassem a necessidade dessa troca e sentisse falta. Quando estamos fora deste contexto, quando a gente não tem essa aproximação com alguém, quando percebemos estar tolhidos a respeito disso, desse contato com o outro fisicamente, nos desesperamos e aí entra a internet, capaz de amortecer esses sentimentos de falta — conta o psicólogo.

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Os conteúdos publicados nas redes sociais de cada usuário, na maioria, são “filtrados” e acabam não mostrando a realidade de dezenas de milhares de pessoas, não apenas daquelas que decidem fazer das redes sociais o ambiente de trabalho. A aparente “vida perfeita” pode se tornar um gatilho para aqueles que assistem aos conteúdos e fazem comparações com a vida que possuem, ocasionando no surgimento de problemas mentais como ansiedade e depressão.

— A internet pode trazer problemas afetivos, problemas de distanciamento da vida real, problemas de até se sentir “deslocalizado” dentro da própria vida. Parece que sempre o que o outro tem é melhor do que o da pessoa que está assistindo, porque sempre é postado aquilo que importa e não necessariamente aparecem os problemas diários. Essa situação acaba enfraquecendo o indivíduo quando ele está em um nível de procurar estar muito atento às redes sociais e quando aparecem os desafios ou os problemas da vida diária ele se sente enfraquecido, porque não exercita, não treina essa possibilidade de resolução de problemas e se compara — lembra Eckermann.

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O especialista alerta que o uso da internet pode prejudicar também aqueles que trabalham com as redes sociais, tornando-se pessoas que não desligam e estão constantemente pensando em conteúdos novos e atrativos para manter o público atual interessado e conquistar novas pessoas.

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— Eu me pressiono muito, me cobro muito e acaba sendo a coisa que mais me deixa mal nesse meio. Quando percebo que o engajamento está caindo, quando vejo que pessoas estão crescendo e eu não, sinto que estou ficando para trás. Por saber qual engajamento seria bom e por agora ter o número de seguidores que tenho, sei o tanto que lutei pra chegar aqui, o tanto que lutei para cativar as pessoas que me acompanham — relata o influenciador Eric Borges.

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O criador de conteúdo Gustavo Foganoli teve a primeira crise de ansiedade aos 18 anos após um evento pós-traumático. Ele lembra de como o trabalho com a internet agravou a doença que hoje em dia é tratada pelo influenciador com o auxílio de psicólogos.

— Quando entrei na internet estava tudo tranquilo porque eu ainda morava com a minha mãe e fazia tratamento pra ansiedade que adquiri depois daquela primeira situação. Oito meses depois, me mudei pra São Paulo, por ideia da minha empresária, pra morar com a Fefe (influenciadora e produtora de conteúdo). Com isso chegaram as responsabilidades de pagar contas e começar a me virar sozinho. Nessa mudança total de vida acabei encontrando pessoas interesseiras, que se aproveitaram do meu carinho e fingiram gostar de mim. Tive desilusões amorosas por causa disso e acabou sendo um choque quando percebi o que estava acontecendo. Mas eu tinha que aparecer na internet fingindo que tava tudo bem — recorda Foganoli.

Segundo dados de 2021 apresentados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo, com 9,3% da população com problema de ansiedade, e o segundo maior das Américas com depressão. O transtorno depressivo atinge 5,8% dos brasileiros.

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Para o psicólogo Hemerson Eckermann, o uso excessivo da internet, os dois anos de isolamento causados pela pandemia e as comparações ilusórias de vidas sem problemas e repletas de realizações são agravantes que fazem os brasileiros estarem precisando cada vez mais de ajuda psicológica. O profissional explica que hábitos regulares de quando desligar da internet e procurar focar em outras tarefas, podem ajudar a melhorar a rotina de quem possui transtornos:

— É preciso fazer o uso do mundo virtual, mas sem tirar os pés do mundo real. O indivíduo precisa criar hábitos e ter um objetivo, pensar “de manhã eu não vou mexer no celular enquanto não levantar e lavar o rosto”, por exemplo, não precisa necessariamente ser algo grandioso e restritivo. Deve-se dominar a vontade de usar as redes sociais e não deixar ela nos dominar.

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Eckermann destaca que quando passamos a ter domínio sobre a vontade de estar conectados, passamos a evitar a possibilidade de cair em algum tipo de transtorno. Lembra que o uso da tecnologia antes de deitar para dormir pode trazer algum comprometimento ao sono. Por isso, ele alerta:

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— Antes de dormir o ideal é procurar deixar o celular de lado e buscar atividades que vão nos desligando aos poucos, como ler um livro ou pensar no dia que tivemos. Aquele estímulo visual mantém o nosso cérebro ativo e por isso muitas vezes não temos uma noite tão leve. Quando conseguimos dormir sem os estímulos da tela do celular, temos uma noite reparadora do sono como um todo — pontua o especialista.

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