Sobre a mesa de madeira de uma lanchonete de Petrolândia, dois canecos de vidro quase cheios de cerveja. Atrás deles, o casal Eliane Guedes e Valdonei Staroschy e a irmã dele, Silvia Staroschy Martendal, conversam descontraídos. Sentados no lado de fora do estabelecimento, assistem de camarote aos veículos que passam buzinando incansavelmente, com bandeiras partidárias para fora das janelas.

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O clima de eleição aqueceu horas antes de os pouco mais de 5 mil eleitores irem às urnas para escolher novo prefeito e vice.

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A pequena cidade do Alto Vale precisa votar neste domingo (13) porque a chapa escolhida no ano passado, formada por Rogério Domingos (PP) e Selmo Klauberg (PSD), concorreu “sem apresentar documento comprovando a inexistência de processos contra eles no Tribunal de Justiça, dentro do prazo estabelecido pela legislação”. Frustração para 2.327 votantes, mas nova movimentação para todo o município.

— Só assim para a gente aparecer no jornal — brinca Silvia.

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Apesar da eleição suplementar ocorrer em outras quatro cidades do país neste domingo, apenas a de Petrolândia tem observadores internacionais. Enquanto Sílvia e o casal aproveitavam o dia de folga na lanchonete, no sábado (12), os quatro observadores estavam em uma escola estadual a poucos metros dali, em uma cerimônia que reuniu autoridades como juízes eleitorais e representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

O objetivo foi mostrar a transparência das urnas. Os observadores viram como são feitas as auditorias antes de uma votação. Urnas foram sorteadas para verificação da autenticidade e funcionamento. Um grupo de estudantes foi selecionado para fazer a votação simulada, em papel.

Os mais de 300 votos serão computados por uma das urnas sorteadas. No domingo, ambos os resultados serão comparados: o do boletim da urna eletrônica e o da soma dos votos das cédulas de papel. A ideia é mostrar que não há fraudes nas urnas, diferente do que alguns dizem por aí. 

Estudantes participaram de auditoria das urnas eletrônicas
Estudantes participaram de auditoria das urnas eletrônicas (Foto: Patrick Rodrigues)

Todas essas verificações ocorrem em eleições catarinenses há quase 20 anos, mas nunca antes em uma suplementar. Agora, como apenas Petrolândia terá votação no Estado neste fim de semana e os observadores estão no local, o protocolo ganhou mais destaque, ao menos para as autoridades interessadas no assunto. Para a população, o que está em alta é a disputa que terá desfecho em breve.

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Exceto alguns pais dos alunos que participaram do teste de integridade das urnas na tarde deste sábado, quase não havia moradores no evento aberto ao público. Valério Clasen trouxe a filha de 12 anos, que se voluntariou depois de um pedido da escola. Neta de ex-vereador, o interesse pelo processo democrático está no sangue da menina, acredita o pai.

— Ela estava empolgada, acho que serve de aprendizado. Eles nunca vão esquecer que um dia Petrolândia teve uma eleição suplementar — opina Valério.

Valdonei, Eliane e Silvia observavam o movimento da cidade em uma lanchonete
Valdonei, Eliane e Silvia observavam o movimento da cidade em uma lanchonete (Foto: Patrick Rodrigues)

Erros que geram novas eleições

Em toda a história da democracia catarinense, esta é a 27ª vez que uma eleição suplementar precisa ser feita. Para o presidente do Tribunal Regional Eleitoral, Fernando Carioni, é a prova de que o rito eleitoral precisa ser respeitado — e dentro do prazo.

Os dois ex-candidatos que não enviaram a documentação a tempo e perderam o direito às cadeiras de prefeito e vice desistiram desta eleição. Mas o clima da disputa no município com cerca de 6 mil moradores e economia baseada no cultivo do fumo e da cebola foi disputado nos últimos dias. A propaganda eleitoral ganhou o pórtico de entrada, ruas, veículos, casas e comércio.

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Neste sábado, o que chamou a atenção foi o vaivém de carros, caminhões, tratores e até cavalos caracterizados com os números de duas das três chapas que competem: Angela Adriana Krindges da Mota e Jair Neto pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Edson Padilha e Amarildo Custodio pelo Podemos e Irone Duarte e Egon Weber pela coligação formada por PP e PSD.

Apesar da atipicidade de ter de repetir, em menos de quatro anos, a ida a um dos cinco locais de votação para sinalizar quem deve ser o novo gestor da cidade, a comunidade parece ter abraçado a necessidade estabelecida pela Justiça Eleitoral.

— O assunto é só esse desde que soubemos que teria nova eleição — resumiu Silvia.

Resta saber se o índice de abstenção será maior ou menor do que na eleição de 2020, que chegou a 10,40%.

Os observadores

Além de ocorrer quase seis meses após o começo das novas administrações municipais, a disputa tem um diferencial. Pela primeira vez um pleito suplementar no país será acompanhado por observadores internacionais integrantes das Organizações Não Governamentais (ONGs) Transparencia Electoral e Conferencia Americana de Organismos Electorales Subnacionales por la Transparencia Electoral (Caoeste). Os observadores são dos Estados Unidos, Cuba, Venezuela e El Salvador.

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A instituição argentina tem como objetivo garantir os direitos políticos dos cidadãos nos processos de eleições transparentes e justas, desenvolvendo ações de voluntariado para observação, participação e transparência eleitoral. A Caoeste é a entidade que acompanha o processo democrático e a realização de eleições em todos os países das Américas. A finalidade é levantar aspectos que possam melhorar o sistema eleitoral como um todo, bem como aferir a integridade dos processos eleitorais.

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