Pressionados por uma corrida contra o relógio no combate ao aquecimento global, os negociadores climáticos saíram satisfeitos com os compromissos assinados em dezembro na COP21, em Paris, mas precisarão passar rapidamente a um nível superior para cumprir as promessas feitas na capital francesa.

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Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, que se celebra seis meses após a conferência das Nações Unidas sobre o clima na França, “os delegados não estão mais sob os holofotes, mas fizeram avanços importantes” com vistas à COP22, prevista para novembro, no Marrocos, avaliou David Waskow, do ‘think tank’ World Resources Institute.

Depois de um início difícil e assombrados pelo medo de um fiasco, os negociadores finalmente conseguiram alcançar um consenso para um programa de trabalho e também obter as primeiras trocas positivas sobre os temas espinhosos que ainda devem ser superados para implantar o acordo de Paris.

“Superamos amplamente os desacordos habituais”, destacou em entrevista recente a negociadora da União Europeia, Elina Bardram. “Um espírito mais positivo substituiu as manobras e a má vontade que haviam retardado as reuniões antes de Paris”, constatou o Greenpeace.

Aprovado por 195 países, o Acordo de Paris visa a conter o aquecimento global abaixo do limite crítico de 2º C – inclusive a 1,5° C -, com relação aos níveis pré-industriais, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa.

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Mas este contexto geral deixa em aberto várias questões, principalmente a respeito da garantia de financiamento dos países do norte para os do sul e sobre a transparência das ações.

Os planos nacionais apresentados pelos países em Paris chegaram a projetar um horizonte de 3° C de aquecimento, ao qual o ser humano e os ecossistemas teriam dificuldades para se adaptar, com a repetição de fortes ondas de calor, desaparecimento de espécies, diminuição das calotas polares, etc.

Daí o consenso sobre a necessidade de rever estas ambições. Mas como? O debate ainda está em aberto.

Christiana Figueres, secretária-geral sobre o Clima da ONU, deu uma ideia da proporção da tarefa:

“O acordo de Paris é um pouco como ‘uma casa nova’. Atualmente, 195 membros devem entrar em acordo sobre a administração e a divisão dos cômodos, e tudo isto por consenso!”

A enérgica costa-riquenha, que deixará o posto em julho, dificilmente abandona o otimismo. Mas em entrevista recente à AFP, durante a Conferência de Bonn, no fim de maio, a última preparatória antes da COP22, ela admitiu sua preocupação principal: “conseguiremos agir tão rápido para evitar os piores impactos (do aquecimento global)?”.

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Como que para lembrar que o tempo urge, um estudo da Unesco, também publicado em maio, alertou que sítios do patrimônio mundial, dos moais na Ilha de Páscoa à Estátua da Liberdade, correm risco por causa das mudanças climáticas.

‘Resgatar o sentimento de urgência’ de Paris

Portanto, para manter a confiança e avançar, esperam-se decisões concretas na COP22, em Marrakech.

“Nós devemos sair dali com ações, que signifiquem alguma coisa para as pessoas”, afirmou, em Bonn, o embaixador marroquino, Aziz Mekouar. Entre as ações, sobretudo, um mapa do caminho sobre os financiamentos e um plano de ação para as florestas.

Cerca de 90 países em desenvolvimento lançaram um apelo a favor de um plano de apoio ao desenvolvimento das energias renováveis nos países do hemisfério sul.

“Nós avançamos, mas é preciso resgatar o sentimento de urgência que tanto nos ajudou em Paris”, exortou Amjad Abdulla, representante dos pequenos Estados insulares.

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“As mudanças climáticas não vão parar porque nós aprovamos um acordo; de fato, pioram a cada dia”, afirmou. “Nossa responsabilidade é agir para implantar este acordo, e sobretudo, ajudar as comunidades mais vulneráveis”.

As pequenas ilhas, mais vulneráveis às mudanças no clima, estiveram entre os primeiros signatários a ratificar o Acordo de Paris.

Pequim e Washington, os dois principais emissores do planeta, prometeram fazê-lo até o fim 2016, e a partir de então, uma entrada em vigor está prevista para o início de 2017. Para tanto, o texto precisa ser ratificado por 55 países, representando 55% das emissões mundiais.

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