Fazer programa de humor dividido em temporadas tem lá o seu ônus – como o risco de não estar no ar enquanto mensalão, Carminha e Tufão pautavam os assuntos do dia a dia. Para os cassetas, que voltaram à tela na sexta-feira, na segunda temporada desde que o programa se despediu do formato semanal contínuo, a alta exposição desses temas, num período em que o programa esteve recluso, deu comichão. – Mas é uma escolha – conforma-se Cláudio Manoel, porta-voz do grupo. Veja o que mais pensa o homem que dá vida ao Seu Creysson nesta entrevista.
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Agora que vocês já experimentaram o formato de temporadas, o que há de bom nesta troca?
Cláudio Manoel – A oportunidade de trabalhar em outro ritmo de desenvolvimento. A ideia de fazer um programa temático nos obriga a ser mais autores e assumir a direção-geral nos obriga a ser mais produtores. Para a gente, é um projeto mais ambicioso. A questão de ter o produto todo, de A a Z, nos coloca mais dentro do ambiente corporativo. A televisão mudou muito, são novas encrencas, os desafios são motivadores. A gente foi procurar outros tipos de parceria, outras linguagens, como humor gráfico, que a gente não estava trabalhando tanto, e voltamos a trabalhar com a coisa musical.
Mas o horário atual (após as 23h) é mais ingrato, não?
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Cláudio Manoel – Faz parte do jogo. Tirando línguas maldosas, os números estão lá, de terça ou de sexta, a gente tá ganhando. Pra parar, puxar o freio e dizer “a gente quer arrumar a casa”, tinha de ser outro horário.
O formato da temporada nos possibilita exatamente fazer com mais vagar, mais olhar, com mais tempo, aprimorar, fazer pós-produção. Foi difícil ficar fora da eleição?
Cláudio Manoel – Olha, a eleição municipal não é esse borogodó todo. Porque é difícil que os personagens sejam nacionais. O mensalão dá mais recalque. Tem umas bolas que sobem que dão vontade de “raquetear” na cara, mas é bom ter um treinamento e pensar que o torneio será só em novembro. A gente tem programa temático, mas tem janelas de atualidade. Mais do que o humor político, a gente ficou sem fazer Avenida Brasil, que, para paródia, é sensacional: todo mundo fez.
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O que tem chamado a sua atenção em humor na TV?
Cláudio Manoel – O que me chamou atenção em termos nacionais foi a galera da Porta dos Fundos, com uma qualidade muito legal de esquetes, elenco bom, muito apropriado para o veículo: é linguagem e pegada que a internet permite e usa bem. De galera brazuca, gostei também muito desse seriado da HBO, FDP. É tudo muito bom: imagem de futebol é boa, texto é bom, elenco é bom. Fora os que estão aí mesmo, como (a série) Big Bang Theory, que eu acho é o melhor. Acredito que há um caminho que parece ser sólido, que é o dos seriados. Tapas & Beijos, que entrou no nosso antigo horário, tem ótima performance.
Vocês não têm vontade de desenvolver algo para a web?
Cláudio Manoel – Não temos como fazer algo complementar agora e eu ainda gosto do “muita gente”. A TV aberta tem muito mais gente. Gosto de showbiz, gosto de comunicação de massa, de mobilizar gente pra caramba a partir de uma ideia que você vê nascer e de que participou. Nada contra fazer sucesso na mesa de bar, mas gosto mesmo é da galera. Essa história de ditadura do Ibope é o nome de “povo brasileiro”, “plateia”. Mas também acho bacana ter galera que está na internet, na TV paga, em blog literário.
Você assina também o quadro O Que Vi da Vida, para o programa Fantástico, que causou enorme repercussão com a revelação da apresentadora Xuxa Meneghel sobre abuso na infância.
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Cláudio Manoel – O fato de ser ou não fã da Xuxa não deveria afetar o conteúdo do que ela disse, que é um alerta, uma denúncia. Ficaria totalmente incoerente, para ela, estar à frente de uma campanha contra a violência infantil e não falar nada sobre isso, tendo sofrido isso, quando o principal da campanha é quebrar o silêncio. As pessoas acusaram Xuxa de várias incoerências ao longo da vida e ela estava ali apenas tentando ser coerente. Não deve ser fácil pra ninguém vir a público e falar o que aconteceu na sua vida. Houve muitas piadinhas, até minimizando a questão principal, que é a da pedofilia. O quadro do Fantástico chama as pessoas para refletirem sobre fases da vida. Aí falam: “Ah, ele não falou de fulano”. Não é feito pra preencher lacunas, não é um depoimento ao Museu da Imagem e do Som, não é biografia definitiva, é um quadro de um programa de variedades em que se tenta ter uma relação intimista com alguém muito conhecido. Por isso, não tem o entrevistador, não tem a pergunta: pra ficar uma relação direta do camarada com quem está em casa.