Quando o prefeito Udo Döhler chegou ao poder, em janeiro de 2013, imaginava que teria uma passagem quase tranquila nos seus quatro anos de mandato. Descobriu, cedo, que administrar a mais populosa cidade catarinense seria mais difícil do que pensava ao tempo em que apenas presidia a Döhler e liderava a Acij. Nunca abriu mão de repetir uma frase que se transformou num mantra:
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– A gestão pública é igual à gestão privada –
Faz algum tempo, sabe que isso não é exatamente assim. Especialmente na área da saúde. Nenhuma novidade aí. Os fatos mais recentes, com greve de funcionários do Hospital São José, a durar mais de três semanas, e ações judiciais contra os gestores por descumprimento de decisões da Justiça, que têm repercussão política clara, são indiscutíveis e falam por si. Fica fácil compreender: a gestão pública não é igual à gestão privada.
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Há várias alegações possíveis a tentar minimizar responsabilidades do município para o quadro instalado. Pode-se dizer que os governos federal e do Estado não repassam os recursos necessários para possibilitar atendimento adequado aos pacientes e garantir pagamento de insalubridade aos servidores do São José, como reivindicado. Pode-se dizer que a Prefeitura já investe 35% do orçamento só em saúde – a lei obriga 15%. Pode-se argumentar que parcela expressiva dos usuários do Hospital São José mora em cidades vizinhas e não recolhe impostos aqui.
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Pode-se dizer que a crise econômica grave diminui a arrecadação de tributos. Tudo isso é verdade. Mas não exime ninguém de suas responsabilidades. E isso tudo converge para a realidade. Dura realidade, a impor sacrifícios a todos os que procuram, pelas mais variadas razões, o atendimento em hospitais e postos em busca de solução para problemas.
Talvez nunca a situação, em Joinville, tenha sido tão crítica. Problemas e ônus do crescimento. Problemas estruturais. Tudo junto. Pouco interessada em contas públicas, nada familiarizada com finanças e nem um pouco interessada em saber o nome do gestor, a população pede urgência nas respostas em meio a tanta emergência.
Diga-se, aliás, que o quadro geral na rede hospitalar pública joinvilense exige, sim, amplo estudo e redefinição de estratégias para minorar os dramas particulares a se desdobrar para o conjunto da população, fartamente registrados em fotos e vídeos. Mesmo os hospitais particulares sofrem do mal da superlotação. Pelo menos o Dona Helena e a Unimed investem em ampliações.
A saúde é um negócio. Em todo o mundo. Não por acaso, há tantas operadoras de planos de saúde prosperando. Eles atendem, com mais ou menos eficiência e presteza a seus usuários. Em Joinville, aproximadamente 40% da população têm plano de saúde. Significam 217 mil pessoas.
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Lógico que qualquer empreendimento no campo da saúde exige investimentos grandes. Por exemplo: construir um novo hospital – equipamentos incluídos – custa R$ 80 milhões, pelo menos. Há planos de expansão da rede hospitalar local, mas que ainda vão demorar para se materializar.
Falo dos planos da Agemed em ter seu próprio hospital. De médicos a estudarem a viabilidade de se tornarem sócios na construção de um hospital privado novo. Da pressão da Acij por hospital na região Sul. De gente querendo – ao menos no discurso – um Hospital da Mulher. E por aí vai.
Enquanto isso, tudo fica nos estudos e nas planilhas do computador. Ideias são só ideias, e Joinville continua importando pacientes em seus cinco hospitais públicos e particulares. Em 2014, juntos, fizeram 36,9 mil internações, com pacientes acomodados em 800 leitos gerais e 71 destinados às UTIs.
O déficit de leitos gerais é de 533 e na UTI já é de 66. Este cenário, também mostrado durante audiência pública nesta sexta-feira, aponta para mais e maiores dificuldades no futuro de curto e médio prazos. Por ora, a gestão municipal luta contra a judicialização e a greve. Pode piorar para todos, indistintamente. Tomara estar errado.
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