A crise econômica provocou um fato inédito: em Santa Catarina, há 5.597 lojas a menos do que ao final de 2014. Este dado significa o saldo líquido entre o total de lojas abertas e fechadas no ano passado. Dito de outra forma: o número de estabelecimentos comerciais é 13,8% inferior ao que havia em dezembro de 2014. Estamos, os catarinenses, desta vez, a apresentar pior indicador do que o da média do País. No contexto nacional, a evolução de fechamentos chegou a 13,4% no comparativo com 2014. A queda na renda da população e a restrição ao crédito contribuíram para que o varejo tivesse, em 2015, o pior desempenho dos últimos 15 anos no Estado.

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Não há, disponíveis, dados específicos para Joinville, mas uma rápida olhada nas ruas centrais e em bairros confirma a situação. Na tradicional rua João Colin, que percorre o coração do Centro e parte do nobre bairro América, há enxurrada de imóveis à venda ou para locação. Em outras e variadas regiões, isso se repete.

O tombo nas vendas em SC, com repercussão sobre diminuição e extinção de negócios, foi maior no chamado varejo ampliado, que inclui setor automotivo e de materiais de construção, nos quais o recuo foi de 10,1% no ano passado. Novamente acima da média nacional, que teve queda de 8,6%. Isso não surpreende. Afinal, comprar carros ou apartamentos e casas exige desembolso mais elevado de recursos. São bens duráveis que exigem financiamento de médio e longo prazos. Coisas incompatíveis com a prudência em razão de tudo o que se sabe e se antevê.

E não é só isso. Até mesmo o volume de vendas do varejo restrito em Santa Catarina (sem contabilizar negócios com automóveis e materiais de construção) encolheu na comparação com o ano anterior: -3,1%. É a queda mais acentuada desde 2001, início da série histórica da pesquisa mensal do comércio feita pelo IBGE. As informações revelam a face perversa do momento atual da economia.

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Diante disso tudo, o presidente da Federação do Comércio de Santa Catarina (Fecomércio-SC), Bruno Breithaupt, resume, com precisão, o que acontece, num longo e certeiro comentário:

– O resultado fraco das vendas e o fechamento de lojas são reflexo de uma série de fatores que provocaram a desaceleração no consumo das famílias, interrompendo um ciclo de crescimento do mercado. A alta da inflação derrubou a confiança do consumidor. O acesso ao crédito, que tradicionalmente é a válvula de escape do brasileiro, encareceu a tal ponto, que comprometeu a capacidade de consumo, especialmente nos segmentos mais dependentes das compras a prazo.

Se tudo isso não fosse suficiente, outro elemento compõe a cena: o setor de hipermercados, supermercados e mercearias também vendeu menos. Isso é mais doloroso do que tudo porque atinge o essencial do essencial: a comida. Neste segmento – de alimentação e higiene -, a queda de 4,7%, em 2015, mostra bem mais do que um simples solavanco. Dá a exata dimensão da falta de dinheiro no bolso das pessoas. Pela primeira vez, se vê extrema cautela nos gastos com o consumo de alimentos. Quando até isso é poupado da cesta de compras, é porque todos os demais produtos já passaram à condição de supérfluos.

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A exceção é o de medicamentos, com alta de vendas de 4,9%. Esse ponto merece uma reflexão adicional. Embora seja tecnicamente difícil relacionar a crise com o aumento de compras de remédios nas farmácias, parece nítido haver, sim, sintoma nessa direção. Em outras palavras, um povo angustiado vai mais a farmácias e drogarias para combater efeitos de suas ansiedades e perturbações, já que não consegue acabar com as explícitas, ou não, causas dos seus sofrimentos.

Um olhar para o aumento de preços de alguns destes itens ajuda a explicar o porquê da retração. Como desgraça pouca é bobagem, além da perda de renda em função de desemprego, e/ou troca de emprego com salários rebaixados, o componente inflacionário também pesa. Exemplos disso estão aí à mostra: os itens em supermercados subiram 9,2% de 2014 para 2015; os combustíveis, 10%; artigos farmacêuticos e médicos, 6,2%; tecidos, vestuário e calçados, 5,5%. São índices oficiais.

É. Dói em todo mundo.

Algum fato mais animador no horizonte? Vamos em busca.