O leitor habitual deste espaço espera por um texto sobre aspectos variados da economia, em especial sobre fatores que afetam direta e imeditamente a vida das pessoas e dos negócios. Como política fiscal, nível de (des)emprego, de (des)investimentos, vendas e produção. Entre outros temas, é claro.
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Hoje, vamos cuidar de assunto aparentemente pouco relacionado a isso tudo. Sim, neste momento, o tema sobre o qual me propus a dissertar foge dos problemas cotidianos. E tem tudo a ver com o que nos espera lá adiante: os efeitos das mudanças climáticas no nosso modelo de vida e no processo civilizatório a ser reconstruído em bases menos agressivas ao meio ambiente. E, tanto quanto possível, num padrão com menos ganância. É preciso redefinir muita coisa para garantir adequada qualidade de vida às populações nas décadas que virão.
As razões desse tema: Fortaleza sediou nesta semana um encontro sobre mudanças climáticas e como elas afetam o desenvolvimento das cidades. A reunião entre gestores públicos, empresários e representantes de fundos de investimentos e ONGs – entre eles, CAF e Observatório do Clima – interessados em financiar projetos sérios, com o propósito de reduzir os problemas a população e estabelecer diretrizes para estruturação de programas municipais voltados à sustentabilidade.
Em meio a técnicos, especialistas e investidores, o secretário de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Joinville, Danilo Conti, participou de reuniões, expôs o Plano Municipal de Economia Criativa, o Plano Municipal de Mobilidade, e falou sobre como a cidade quer se transformar em um local amigável à produção de riquezas, amparada em conceitos de cidade inteligente e humana. Aprendeu com os exemplos de outras cidades já mais avançadas em utilização de métodos para permitir desenvolvimento dos negócios combinados com preservação ambiental.
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– Recolhi informações variadas. Anotei-as em 50 páginas. Vou levar o conteúdo ao prefeito Udo Döhler para, de maneira intersetorial, avançarmos – disse.
Joinville ainda não fez seu inventário de agentes poluidores, com o de emissão de gases. A partir de um trabalho tecnicamente consistente na formulação desse plano, aí – e só aí – se partirá para formas que diminuam os problemas. É coisa de longo prazo. A ser incluído na formatação de um plano para a Joinville de 2020.
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Conti explica que os grandes investidores miram suas centenas de milhões de dólares e de euros em municípios brasileiros inscritos em regiões metropolitanas. Inexiste a região metropolitana do Norte de Santa Catarina, que teria Joinville no seu epicentro, contendo Garuva, Araquari e São Francisco do Sul, por exemplo.
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Segundo Conti, o pensamento deve ser regional e não por cidade, isoladamente. Os problemas de destinação do lixo, de mobilidade urbana e de saneamento atingem a todos. Em poucos anos, a conurbação se tornará praticamente inevitável.
Fortaleza, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Curitiba, Sorocaba e Betim são as cidades participantes do projeto de promoção de estratégias de desenvolvimento urbano de baixo carbono em países emergentes (Urban-Leds), criado para apoiar iniciativas com baixa emissão de gases em áreas urbanas, levando em consideração a redução da pobreza e a inclusão social.
O Urban-Leds é resultado de um acordo firmado em março de 2012 entre a ONU-Habitat e a comissão europeia, e tem governos locais pela sustentabilidade como principal implementador. Iniciativa global, o projeto de 6,7 milhões de euros está desenvolvido em quatro países de economia emergente: Brasil, África do Sul, Índia e Indonésia.
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Como no Brasil são muito raros os gestores públicos preparados a escrever projetos focados na sustentabilidade das cidades e que promovam a disseminação dos conceitos econômicos e ecológicos com o uso de ferramentas orientadas para uma sociedade de baixo carbono, diversos fundos de investimentos já estão capacitando pessoas. A intenção é instrumentalizá-las e, uma vez aptas, possam elaborar documentos para depois receberem recursos com esta finalidade.
As mudanças climáticas, sim, terão consequências graves à condição humana. Vão ditar que civilização seremos daqui a algumas décadas. Está certo olhar o problema agora. Poder público, iniciativa privada e universidades, juntos, assumem papel decisivo na construção do nosso futuro.
Ninguém minimamente inteligente ou informado imagina que o atual modelo irresponsável de vida e da forma egoísta de se ganhar dinheiro se perpetuará. O nó é simples no seu diagnóstico: só pensamos e agimos no presente e para o presente. Um olhar mais sensível àquilo que fazemos hoje pode ajudar no estabelecimento de padrões de convivência menos desastrosos.
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