O possível impeachment da presidente Dilma Rousseff e as artimanhas do deputado Eduardo Cunha estão presentes nas rodas de conversa de todos os brasileiros. Tornaram-se assuntos obrigatórios. Certamente, serão tema de provas de história em diversos vestibulares.
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O que isso tem a ver conosco, simples mortais, que (sobre) vivemos de salário ou de ganhos na condição de autônomos? Ou mesmo como empreendedores de pequenos ou grandes negócios?
Muita coisa, embora, aparentemente, seja uma temática quase abstrata, indefinível em seu alcance para a esmagadora maioria das pessoas. Não deveria ser notado desta maneira, não. Estamos diante de um fato histórico, emblemático, de como vivemos num Brasil esquizofrênico.
Impossível desconhecer a relação direta que há entre as decisões (ou os caprichos e indecisões) dos legisladores e do Poder Executivo na Capital Federal com o nosso cotidiano. O que, enfim, significa, para nós, a confusão política vivenciada a milhares de quilômetros daqui?
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Em momentos do passado, arriscaria dizer: quase nada. O distanciamento dos fatos tornava as cidades fora do eixo Brasília-São Paulo-Rio de Janeiro-Belo Horizonte espectadoras apenas. Claro que algo mudou. A internet habilita qualquer um a saber, instantaneamente, uma fração dos acontecimentos. E refletir a respeito.
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Três aspectos têm de ser percebidos e analisados.
O primeiro aspecto
A crise aguda impede clareza de ação por parte da iniciativa privada e, assim, os planejamentos financeiros e de investimentos fica travado. Ou, ao menos, a tomada de decisão dos empresários fica adiada até que se saiba qual será o rumo da economia, que cai pelas tabelas e deságua no absoluto da incerteza quanto ao câmbio e projeta inflação ainda elevada para o próximo ano.
Tão ou mais grave é a dúvida generalizada a respeito de quem manda no País. Este é, certamente, o pior que pode acontecer. A indefinição e o prolongamento da guerra intestina dentro dos partidos e interna no Planalto paralisam a vida.
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A sociedade, olhando os fatos da periferia, colhe, aqui e ali, fragmentos de bastidores e declarações públicas de quem é protagonista deste caos. É a elite a articular posições. É em conversas reservadas, às vezes à prova de provas gravadas – e outras não -que se desenrolam encaminhamentos a ditar o futuro.
O segundo aspecto
A sociedade teme perder conquistas obtidas, algumas; recebidas como benesses, outras. Este numeroso grupo, o, digamos assim, formado pelos ex-deserdados da riqueza, raramente consegue se organizar para, publicamente, defender seus interesses com contundência.
Na maioria das vezes, são dezenas de milhões de cidadãos sem voz ativa e com menor capacidade de aglutinação em vista do que podem as classes média e média-alta.
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Os assim enquadrados como classe C (e os ainda menos afortunados) não dispõem de meios para mobilizações gigantes.
São, isto sim, objeto de análises sociológicas produzidas por cientistas sociais e economistas lotados na academia ou em centros de estudos de diferentes latitudes, origens e tendências. A cada giro das 24 horas de cada dia, menor é o tempo para que as decisões sejam tomadas em Brasília. O tempo conspira contra quem pensa e age em favor de uma saída menos traumática.
Neste domingo, estão marcadas manifestações de rua pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff. Nada de expressivo deve ocorrer na Joinville de 10 mil desempregados neste ano.
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O terceiro aspecto
A inflação e o medo do que está por vir as impedem de planejar para muito adiante.
A vida passa a ser o dia a dia. Há simples continuidade do que já se fez antes. A lógica é viver um dia por vez. Imperioso fazer compras em mais quantidade nos supermercados para se prevenir de alta nos preços.
A caminhada dos joinvilenses – e de todos os brasileiros – continuará sobre pedregulhos por mais um tempo. Adiante, veremos o mar, agigantado, a nos embalar para novas e melhores primaveras.
Enquanto elas, as futuras primaveras, não chegam, e nosso cotidiano se resume à correria do trabalho e da ida às compras de fim de ano, será inevitável viver o Natal e a virada para 2016 sob o signo da disputa pelo poder. Empobrecidos materialmente, mas jamais em nossos desejos. Difícil?
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Há algo a nos confortar, dependendo de como cada um enxerga e sente as transições: o calor e as chuvas de verão nos farão companhia. O calor, para lembrar dos prazeres da época; as chuvas, para amenizar as enxaquecas.