Quatro horas para realizar a biometria no posto de atendimento do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), no Centro de Joinville. Este foi o tempo médio que centenas de pessoas demoraram em uma fila, nesta sexta-feira de manhã, para concluírem os procedimentos e receberem o novo título eleitoral. Estes retardatários são cidadãos tipicamente brasileiros, que deixam para a penúltima hora o compromisso com a Justiça Eleitoral. Não há a menor responsabilidade dos servidores públicos para a longa espera das pessoas. Simplesmente persiste, teimosamente, a noção de que adiar as coisas não tem implicações para a vida.
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Claro que tem. Deixar para quase o fim do prazo – que se encerra nesta terça-feira, dia 22 – é revelador. Significa perda de horas, improdutivas, as quais poderiam ter sido mais bem aproveitadas. O chamamento do TRE vem de mais de um ano. Por vários meses, os atendentes praticamente nada tinham a fazer, tamanha era a despreocupação da população para com o compromisso cívico. Outro aspecto a ser notado é o enorme desinteresse pelo processo eleitoral. Não fosse a obrigatoriedade da troca do título, em Joinville, seria mínima a procura pelo serviço oferecido de graça pelo TRE.
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Aí, adentro a questão central deste texto. Tudo o que se lê, se ouve e se vê nos meios de comunicação sobre o mundo político nacional, com predominância de informações recheadas de fraudes, crimes e corrupção, cria um intenso desencanto na sociedade. O que isso tem a ver com a economia, com os negócios, com a vida financeira e assuntos assemelhados? Quase tudo. Em sociedades democráticas, o voto tem indiscutível valor. É dele que podem nascer potenciais estadistas. Ou florescer administradores públicos e legisladores medíocres. E como são os eleitos para dirigir os rumos. A responsabilidade de definir os nomes dos candidatos é dos partidos políticos. A responsabilidade de escolher aqueles mais aptos para os cargos é de todo o eleitorado, que vai comparecer às urnas em outubro.
Os fatos exaustivamente relatados no processo da Operação Lava-jato induzem ao sentimento de nojo. Está bem, não generalizemos, pois algumas almas se salvam. Como nós, aqui na planície, só enxergamos a superfície da superfície e nossa vista não alcança o não revelado que fica no subsolo dos subterrâneos de Brasília, deixemos Lula, Dilma, Eduardo Cunha e tantos outros de lado. Concentremo-nos no nosso habitat menor, de 600 mil habitantes, onde mora o mundo real.
Neste mundo real, aliás, as empresas já consolidadas em seus mercados e os empreendedores nascentes, além dos clientes-consumidores de bens e serviços, também estão preocupados. Ninguém sabe o que vai ocorrer amanhã. A consequência é a paralisia da atividade econômica. As manifestações nas ruas, pedindo o fim do mandato da presidente da República e a voz de Dilma Rousseff e dos petistas, contrapondo-se com argumento de que o que se pretende é dar um golpe, nos instruem. Mostra como o Planalto está longe do pensamento médio do povo brasileiro.
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O povo tem razão. Os acontecimentos mais recentes, desta semana, acendem alguma luz. Tudo indica que o impeachment virá. Neste meio tempo, de agora até a sua concretização no Parlamento, a Bolsa de Valores e o câmbio vão oscilar naturalmente. Há uma certeza para adiante: a crise vai passar. Pode demorar mais um ano, dois possivelmente, mas vai passar.
É com esta perspectiva temporal e da cena político-administrativa nacional que retomo o ponto inicial: a biometria, essa tecnologia contemporânea, tem algo a nos ensinar. A primeira lição: evite demoras quando a ação pode ser antecipada. Faz mal à produtividade. A segunda: olhemos para o que ocorre em 2016 sabendo que 2018 vai chegar.