O câmbio favorável, com o dólar a R$ 3,17, anima as empresas exportadoras. Nada sugere um recuo de patamar da moeda norte-americana. A não ser por intervenções pontuais do Banco Central, a tentar impedir saltos abruptos na cotação, a lógica é o real permanecer desvalorizado frente à principal moeda em circulação no mundo. Isto é absolutamente consensual.
Continua depois da publicidade
:: Leia os últimos textos do colunista Cláudio Loetz ::
Não bastasse a realidade já conhecida por todos, novos episódios vão abalar as poucas certezas que temos hoje. Diante das turbulências nas cenas econômica e política, tanto no Brasil quanto no cenário global, a busca por proteção junto ao dólar já é enorme. E vai aumentar naturalmente. Na prática, isso vai significar pressão altista da moeda. Motivos para este prognóstico não faltam.
Aqui, internamente, os escândalos políticos resultantes da Operação Lava-jato; a crítica situação da presidente Dilma Rousseff, com impopularidade recorde dos últimos 30 anos para um mandatário do País; e a corrosão progressiva da esperança num futuro de médio prazo – de até dois anos – são condutores da alavanca do dólar.
As grandes dificuldades da Grécia em manter-se na zona do euro contribuem para aguçar as desconfianças dos investidores internacionais. Fatos novos – para melhor ou para pior – virão de Atenas neste domingo, com a realização do referendo popular, convocado pelo governo de lá, para o povo dizer se aceita ou não o plano de salvação da economia proposto pela Europa, com seus efeitos sociais danosos. Então, este é mais um ingrediente a colaborar para a alta do câmbio.
Continua depois da publicidade
Alguns analistas já apontam para uma explosão do dólar, chegando a R$ 4 como valor de referência. Impossível não é, dadas as circunstâncias e o temor generalizado. Se esta projeção se cumprir, mais motivos de alerta estarão postos. Nunca custa recordar a história. Em 2002, na antevéspera da vitória de Lula para a Presidência da República, o dólar beirou os R$ 4. A lembrança nos remete a um comentário: depois dos sustos e calafrios, com os quas só cardiologistas e especuladores saem ganhando, a vida dos sobreviventes volta ao seu leito comum, adaptada às novas circunstâncias.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior divulgados na última quarta-feira indicam ter havido, no primeiro semestre deste ano, superávit na balança comercial brasileira (exportações menos importações). O saldo positivo de US$ 2,2 bilhões contrasta com o déficit de US$ 2,51 bilhões apurados em igual período do ano passado.
Mas nem tudo é bom nesta história de superávit. Ele, por si só, não significa algo positivo. É essencial lembrar que a capacidade de expansão de uma dada economia passa, em muito, pela sua capacidade de ser, continuamente, mais competitiva frente às demais. E, para isso, um componente fundamental é a modernização de seu parque industrial. O que também acontece com importações de bens de capital (máquinas e equipamentos).
Nó sério a ser desatado é o que tem nos condenado a estágio menor de desenvolvimento. Refiro-me à incapacidade de o Brasil fabricar e exportar produtos de valor agregado. Ao contrário: somos grandes compradores – dos Estados Unidos, Alemanha e Japão. Até agora, tem nos restado mandar para clientes externos pouco mais do que itens do agronegócio, mercadorias de pouco valor. Claro que, nos próximos meses, a expectativa para as exportações é positiva.
Continua depois da publicidade
Com o dólar nas alturas, mais ainda essa percepção tenderá a se confirmar. Mas, de novo, até mesmo o governo acredita na melhoria a partir de acomodação dos preços e abertura de novos mercados para carne bovina (China e Estados Unidos), além da redução do déficit da conta do petróleo. É necessário mais.
Dirão que, no caso de Joinville e região Norte de Santa Catarina, a pauta exportadora é bem diferente, compondo-se de bens industrializados. Pode ser. E é, em parte. Mas isso não nos retira do Brasil. Muito menos nos torna uma ilha com águas calmas. Não é preciso esclarecer. É?