Educação como prioridade para melhorar a competitividade empresarial é um mantra repetido há pelo menos dez anos pelos líderes da indústria catarinense. Mas o discurso continua, uma década depois, em desacordo com a realidade.

Continua depois da publicidade

Não por falta de esforço por parte da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), que luta para elevar a qualidade do aprendizado do trabalhador e colocá-lo em sintonia com as necessidades dos empregadores.

Exemplos de êxito são os diferentes cursos técnicos e superiores oferecidos pelo Senai, órgão da Fiesc. Apesar das ações já feitas, é clara a distância entre o que o trabalhador entrega na forma de conhecimento e a aptidão em relação às demandas empresariais. O buraco é mais embaixo quando o olhar se estende adiante, e se buscam comparações com o que fizeram – e fazem – países europeus e asiáticos.

Alguns números destacados pelos líderes do Movimento A Indústria pela Educação mostram deficiências sérias. Hoje, 55% dos trabalhadores na indústria catarinense completaram ensino de primeiro grau – até a oitava série. Há sete anos, o percentual era de somente 43%.

Lógico que os dois dados são muito ruins. Evoluímos no padrão educacional neste período. Sim, evidentemente. E também é evidente que estamos há anos-luz de nos aproximarmos de ambientes geoeconômicos de referência.

Continua depois da publicidade

O movimento planeja, para 2017, que 63% do conjunto dos funcionários da indústria tenham conseguido terminar o ensino fundamental. Aí, sim, já terá sido um avanço bem razoável.

Ao menos para o padrão educacional dentro do Brasil, onde o Sul é tido como diferenciado, e escolas e mestres de Joinville têm aparecido, repetidamente, como melhores no contexto brasileiro. O reconhecimento se expressa na conquista de variados prêmios.

Ninguém deve desconhecer estas vitórias. Só não podemos ficar orgulhosos em excesso. Nem devemos imaginar que nossas mazelas se concentram, unicamente, em áreas como saúde e mobilidade urbana.

Claro que estes dois são aspectos gritantes de desconforto coletivo. A área da educação está a salvo de problemas? Não, não está. O problema está na outra ponta, a do ensino superior focado em tecnologia.

Continua depois da publicidade

Não quer dizer que as universidades e centros universitários em funcionamento na cidade desatendam a demandas empresariais. É necessário reconhecer ter havido elogiável esforço na direção de melhorar a formação especializada de jovens que vão entrar ou já chegaram ao mercado de trabalho.

O ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, em visita ao Senai de Joinville na quinta-feira, destacou que a educação do trabalhador também deve considerar a formação de cidadão para a democracia e para a vida pessoal. A questão educacional, então, é mais importante ainda. É empresarial e existencial.

Joinville tem de perseguir objetivos: viabilizar a efetiva construção de seu parque tecnológico e de, uma vez por todas, ganhar o campus da Universidade Federal de Santa Catarina.

Um aviso aos muito otimistas: nem um, nem outro empreendimento sairá do chão tão cedo. Em tempos de contração da atividade econômica e de forte tesourada nos gastos do Ministério da Educação, em razão do ajuste fiscal, o realismo nos propõe refletir. Ambos os investimentos vão demorar pelo menos três anos para alguma coisa acontecer.

Continua depois da publicidade

E já que isso tudo vai demorar mesmo, que cuidemos do ensino básico. Se não por outra coisa, ao menos para que os adolescentes saibam escrever um texto de maneira estruturada, argumentar com clareza e fazer contas de juros compostos. Os três aprendizados poderão guiá-los na vida. E, assim, estarão mais preparados para dar início à conquista da cidadania.