– Identificamos o que houve. Sabemos como aconteceu. Sabemos também como se fez. Agora, o trabalho da polícia é de inteligência e estratégia. A questão do combate à violência em Joinville passa por estes dois fatores. Não passa, necessariamente, por mais equipamentos e mais policiais. Nossos melhores homens estão em Joinville.

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As frases são do governador Raimundo Colombo, respondendo a questionamento sobre o combate ao crime na cidade, em diálogo com o colunista, antes de começar a solenidade de posse da diretoria da Ajorpeme, na quinta-feira à noite, na Expoville.

Joinville está assustada. Amedrontada. Não é para menos.

O episódio do assassinato e decapitação de um jovem de 16 anos nos coloca num novo e inimaginável padrão de conduta dos criminosos. Pode ser que este seja um caso único, irrepetível. Pode ser. Tomara que seja. O que se tem certeza: a Joinville pacata e sossegada de anos atrás já não existe mais.

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Joinville subiu de patamar quando o assunto é o tamanho e a forma como são praticados os crimes na mais populosa cidade catarinense. Não somos Cidade do México. Nem o Rio de Janeiro ou São Paulo. Tornamos-nos maiores do que simplesmente uma cidade média, na qual alguns eventos isolados incomodam mais pelo ineditismo do que pela frequência com que acontecem. Este diagnóstico já não vale mais.

A cidade já é um polo gerador de criminalidade bem acima do razoavelmente aceito. Este fenômeno é recente quando se olha historicamente. E vem se acentuando. Afirmar que se vive numa espiral é exagero. Porém, os fatos preocupam. E os números, mais ainda: só nos primeiros 36 dias do ano, pelo menos 17 pessoas foram assassinadas. Um a cada dois dias, praticamente.

Não há mais um ou dois bairros específicos como os alvos de ladrões, arrombadores, homicidas. Todas as regiões passaram a ser potencial endereço de atos ilegais.

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Por que trago este tema à análise neste espaço de jornal se tudo isso, aparentemente, não tem relação com economia? Ou será que bandidagem agora entra no noticiário envolvendo negócios? Bingo! Quem respondeu sim a esta pergunta, acertou em cheio.

Vejamos: qualquer investidor ao fazer sua busca por um local para seu futuro empreendimento vê e compara diversos indicadores socioeconômicos.

Para além de PIB per capita, renda familiar, padrão educacional, infraestrutura, mobilidade e saúde, um olhar é reservado ao fator segurança. Executivos e empresas de ponta querem ter a convicção de que o endereço escolhido oferecerá o melhor custo-benefício em todos estes itens considerados nas planilhas dos técnicos e consultores.

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Ainda nesta semana que termina, mais de 20 supermercadistas se reuniram para encontrar soluções conjuntas que minimizem, efetivamente, assaltos e arrombamentos de lojas e residências. A incidência e a repetição motivaram o encontro, que reuniu até a promotoria e polícias. O que dizer, então, diante dessa nova realidade?

Que não basta lamentar. É preciso que a sociedade, por intermédio de todas as suas lideranças – políticas, empresariais, comunitárias e sindicais – reverberem contra o quadro desenhado a partir das situações de medo.

Claro que fazer boletim de ocorrência é importante para se registrar o ocorrido. Claro que é vital acionar mecanismos de proteção individual e/ou coletiva. Claro que adotar tecnologias protetivas ao crime ajuda. Claro que o engajamento coletivo poderá propiciar efeitos positivos a médio e longo prazos. Tudo isso é superimportante.

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Mas volto a um aspecto que julgo merecer atenção redobrada: o tipo de sociedade em que vivemos. E que queremos ser. O crime é um elemento, um subproduto de uma sociedade que está em desarranjo. Um subproduto que enriquece poucos e dissemina um modo de vida que inclui a quase reclusão de famílias a seus espaços fechados – decisão pessoal decorrente da insegurança. Aceita a premissa, é urgente a conscientização de que Joinville já se parece mais com uma metrópole do que um município que mal saiu do provincianismo.

A visão que temos de nós mesmos – muitas vezes idealizada – merece um retoque. Não se trata de desqualificar nossas vantagens comparativas. Ao contrário. Ressaltemos, mais uma vez, a qualidade indiscutível de nossas empresas; de nossa educação (para padrões nacionais); a invejável infraestrutura portuária perto da gente.

A expansão populacional – já somos 600 mil moradores e atingiremos 1 milhão de pessoas daqui a 25 anos – e a identificação de um município ou região como sendo desejável a investimentos e potencial ou verdadeiramente desenvolvida atraem consigo iniciativas empreendedoras positivas. E, junto com elas, aqueles que procuram soluções criminosas como forma de viver.

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Este é o preço a pagar pelo crescimento? O crescimento é incompatível com a concepção de segurança pessoal e coletiva? O crescimento é pré-condição de destabilização social? Alguém responde?