A crise econômica deixa rastro por todos os lados. Até mesmo em lugares inusitados, onde o trabalho é mais do que uma simples ocupação ou uma atividade profissional, um compromisso social a recompensar pessoas em busca de reabilitação. Estou falando dos apenados que fabricam produtos para empresas de diferentes segmentos da indústria.

Continua depois da publicidade

Na Penitenciária Industrial de Joinville, onde há pouco mais de 600 apenados, o número de postos de trabalho caiu, desde o começo do ano, 25%. Hoje, há 300 detentos trabalhando na penitenciária, cem postos de trabalho a menos na comparação com o volume de seis meses atrás.

A explicação é simples: as companhias com canteiros de trabalho lá dentro reduziram as atividades por força do decréscimo de demandas por parte de seus clientes. Um processo natural nas circunstâncias macroeconômicas adversas enfrentadas pela sociedade brasileira.

Duas empresas deixaram de atuar no local: a NSO e a Microjuntas. Ciser e Tigre diminuíram o número de recrutados internamente. Estes são apenas alguns exemplos de uma situação ruim de mercado, a se espalhar pelo conjunto da economia em praticamente todas as áreas e endereços do País afora.

O comando da penitenciária se mexe para retomar e elevar a capacidade de produção. Para isto, definiu a vinda de duas outras empresas: uma de costura e outra de componentes para elevadores.

Continua depois da publicidade

O trabalho realizado na penitenciária é mais do que uma opção de negócio. Para as empresas, é, sim, uma mão de obra que procura a reinserção social pela melhor via possível: a do valor do trabalho, fator tão caro a quem professa a cultura dos ensinamentos weberianos.

Lógico que o trabalho lá tem um aspecto social até mais relevante do que simplesmente servir a uma cadeia do processo produtivo e incorporado ao sistema capitalista.

Dessa forma, a relevância dos serviços feitos se explica pela dimensão comunitária que carrega consigo. Inclusive porque permite que os apenados reduzam o tempo de reclusão e possam retornar ao ambiente aberto mais rapidamente.

Isso, por si só, tem uma importância enorme. Há uma grandeza em auxiliar gente que trilhou caminhos na rota do crime a conseguir que voltem ao convívio regular em sociedade, inclusive prontas e aptas a exercer funções profissionais assalariadas.

Continua depois da publicidade

Claro que ainda é muito grande o preconceito contra aqueles que saem de espaços destinados a detentos. Mesmo quando eles se habilitam para desempenhar novas possibilidades fora a partir dos múltiplos aprendizados positivos obtidos com líderes e colegas de trabalho.

Um olhar mais atento a quem busca opção nova de vida é fundamental para termos uma sociedade menos violenta. Não se trata aqui de passar a mão na cabeça, de forma indulgente. Nem de fechar os olhos para os casos que geraram as detenções.

Não custa repetir: o ócio sem propósito cultiva ideias negativas. O exercício da dignidade, via trabalho lícito, independentemente de qual seja e onde se realize, molda indivíduos melhores, transformando-os em potenciais agentes de promoção do desenvolvimento.

Apenados que trabalham aprendem lições de vida. E se apreenderem também valores de conduta moral inscritos nas regras jurídicas, teremos, com certeza, o crescimento pessoal deles. E menos violência. Por isso, o justo elogio àquelas empresas que colaboram com o projeto e o necessário chamamento para outras mais se motivarem a participar.

Continua depois da publicidade