A uma semana da volta das férias, encontro Joinville mais cara. Só para assustar, três aumentos de tarifas públicas já abatem fatia dos salários dos joinvilenses ainda empregados neste início de ano.

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O passe de ônibus subiu de 13% a 21%, dependendo se o passageiro compra nos guichês ou se adquire o bilhete já dentro do veículo, com o motorista. A inflação anualizada de 2015 foi de 10,67%. A tarifa de lixo subiu acima da inflação do ano passado.

A conta de água veio com alta antecipada para este mês, atendendo a urgência financeira da Cia. Águas de Joinville. O IPTU, dentre tantos, foi o único preço público municipal a subir em limites razoáveis, dentro do parâmetro da inflação oficial.

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O que se extrai disso tudo é que a vida do trabalhador está ficando mais difícil a partir dos desembolsos necessários à mínima sobrevivência digna. Um dos possíveis efeitos da alta do ônibus é aumentar o número daqueles que optam por fazer caminhadas ou andar de bicicleta, em vez de pagar para entrar nos coletivos da Gidion e da Transtusa. Não custa lembrar que em época de contenção grande de despesas pessoais, e de temor pelo aprofundamento do nível de desemprego, vinte reais a menos é um valor significativo, já que o bolso se esvazia rapidamente. Hoje, o bilhete do ônibus custa R$ 3,70; até dia 3 de janeiro, valia R$ 3,25. Então, os 45 centavos de diferença, por passagem, multiplicados por 40 viagens por mês, numa conta bem simples, representam R$ 18 a menos para se gastar com leite, pão e carne.

Parece pouco, não é? Desprezível, mesmo. Sim. É um nada para quem ganha bem acima de um salário mínimo e meio, ganho mensal predominante a milhares de trabalhadores da produção nas indústrias.

A coleta de lixo é concessão pública dada a uma empresa privada. Responsável pelo trabalho, a Ambiental cuida de atender ao que manda o contrato. O problema está na alta da tarifa definida no carnê para este ano. O povo não consegue compreender isso. Nem pode. No geral, incapaz de fazer conta de matemática financeira básica, atropela-se diante dos vencimentos de dívidas, a se acumular na mesa, à espera de pagamento. O que o povo sabe é uma coisa só: há mais mês do que dinheiro. Não se trata, aqui, de apenas julgar os reajustes como inadequados. Claro que todos eles têm sua base técnica demonstrada. A questão não é essa. É o descompasso entre a cobrança e a capacidade financeira da população em absorver os reajustes.

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Lógico, que em Joinville não há – e nem haverá – manifestação pública contra os aumentos. Diferentemente de São Paulo, onde o confronto com a polícia durou horas nesta semana, o ambiente é pacífico por aqui. Ainda bem.

E olhe que nem falei da inflação mais notada no dia a dia: a dos supermercados, onde, a cada quinzena, mais sustos surgem nas prateleiras, com o inchaço dos preços, em relação ao verificado da vez anterior.

Não é por acaso que o perfil do consumidor, embora varie, seja padrão, ao menos quando o tema é evitar o desperdício. Estudo da agência Nova/SB revela que 92% dos entrevistados cuidam, de alguma maneira, de controlar seus gastos. E só 8% – aqueles com padrão ostentação, – estão alheios a novas dívidas. Os agentes econômicos que agem com responsabilidade controlam seus ganhos mensais e também se importam com os excessos de consumo. O problema central está na outra ponta. Na ponta daqueles que definem os preços administrados, como se diz na linguagem acadêmica. Para estes, não há muito a fazer. Somente pagar.

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O comportamento da sociedade gira ao redor de suas vontades confrontadas com suas possibilidades. Vejamos: o comprador inteligente e com pé no chão (metade do universo pesquisado) procura promoções, olha na internet, sabe que obter economia exige esforço, corta despesas supérfluas. Outro é aquele que não tem margem de manobra. Sua vida corre no fio da navalha, precisa ir ao encontro de itens baratos e se obriga a ter mão de ferro para administrar o dinheiro. Este representa um quarto do total de clientes. Este, sim, mais do que só comprar nas liquidações, evita ligar o ar-condicionado, apesar do intenso calor, porque precisa economizar de qualquer jeito para não se afundar em dívidas impagáveis.

Assim vamos nós, consumidores, vivendo um dia por vez para, no dia seguinte, procurar alívio para as dores e depressões cotidianas.