O plano diretor de redução e combate às perdas de água é o mais recente documento preparado pela Companhia Águas de Joinville para orientar o futuro dos seus negócios e da atividade. A empresa, pertencente à Prefeitura, é responsável pela qualidade dos serviços de abastecimento prestados aos mais de 550 mil moradores de Joinville. As informações disponibilizadas revelam uma situação muito aquém do desejável, tanto na questão das perdas (em volume) quanto no aspecto financeiro (decorrente da incapacidade de se cobrar pelo consumo de tudo o que não se consegue medir e faturar comercialmente). O documento lista ações emergenciais e de médio e longo prazos, vitais à melhora do sistema e também ao caixa da companhia para o quadriênio 2016 a 2019.

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Diz lá , no plano diretor, que são perdidos 654 litros de água por dia, atualmente (dados de outubro deste ano). Em março de 2014, o volume perdido era de impressionantes 725 litros por dia. A meta é trazer para 604 litros no próximo ano. Espera-se, também, que ao final de de 2018 o número caia para 543 litros. Este desempenho ruim significa que de cada R$ 100 de possível receita, R$ 44,4 deixam de entrar no caixa da companhia e representam perdas financeiras. O objetivo com as ações previstas é conseguir perdas de “apenas” 37,3% sobre o faturamento, daqui a três anos.

Neste ano, o programa caça-fraudes comerciais nas ligações clandestinas e ramais prediais obteve economia de 558.308 m3 de água, o equivalente a R$ 759,9 mil. O planejamento feito prevê que a companhia consiga economizar 645 mil m3, o que significará R$ R$ 957 mil em 2018. Os técnicos desativaram 1.215 ligações irregulares nos dez primeiros meses do ano. É na periferia que o problema é mais grave. No bairro Paranaguamirim, por exemplo, foram identificados mais de cem ligações irregulares. No Aventureiro, Jardim Iririú e Jardim Paraíso, a concentração de ligações clandestinas também é alta: entre 37 e 88. O monitoramento dos grandes consumidores já é feito por telemetria. Por enquanto, há 30 usuários atendidos. O consumo na Tupy, Whirlpool, Schulz, Docol, Embraco, além de hospitais e condomínios, é controlado desta forma.

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Os dados já coletados e o planejamento no enfrentamento de vazamentos não visíveis e não detectáveis indicam que foram encontrados 1,13 vazamento por quilômetro. A extensão pesquisada é de 1.200 quilômetros e o volume total a recuperar no ano é de 473 mil m3. A intenção da Águas é diminuir estes índices para 0,82 vazamento por quilômetro, e o total a recuperar fica estimado em 490 mil m3.

A redução da quantidade de vazamentos é a principal ação para o controle das perdas físicas. Porém, diminuir o tempo de reparos é um dos principais objetivos da empresa. Atualmente, o tempo de conserto é de 23 horas. A CAJ quer baixar para 16 horas no prazo de três anos. As ações propostas para viabilizar redução de vazamentos passam pela substituição de redes e ramais, e maior fiscalização das ações terceirizadas. Isso tudo, feito simultaneamente, deve colaborar para minimizar o tempo de conserto.

A CAJ está promovendo recadastramento operacional e todos os trechos da rede de distribuição de água estão sendo revisados. Até agora, a revisão foi executada em extensão de 560 quilômetros, o que corresponde a um quarto do total da rede. A previsão é que o trabalho fique pronto em janeiro de 2017.

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O plano diretor ainda lista, entre suas ações prioritárias, a setorização do atendimento. Desta forma, é possível realizar os controles dos dados operacionais de diversas regiões dentro da cidade. Por consequência, fazer ações específicas de acordo com as características de cada área geográfica.

Joinville, pelo que se vê , está algumas décadas atrasada quando o assunto é adequada gestão do bastecimento de água. Não é, lógico, culpa dos atuais gestores. É um drama antigo, que vem desde os tempos em que a Casan administrava, sem nenhum cuidado ou interesse, todo o complexo sistema de saneamento e água no município.

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Naquele tempo, e por mais de três tristes e longas década, a companhia estadual nos deixou sem serviços e sem respostas. Eram comuns os panelaços contra o descaso. A água não chegava às torneiras nos pontos de fim de rede ou em endereços em morros. A pressão da água simplesmente não conseguia levar o produto a estes lugares. Daí, a pressão das comunidades. Mais comum ainda era ver dezenas de moradores de bairros distantes vindo ao Centro, até mesmo em caravana, lavar roupa na praça da Bandeira, marco da história do município. Ação e simbolismo em sinal de revolta. Justa revolta, aliás.

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Isso acabou. A municipalização dos serviços diminuiu, aos poucos, este movimento social.

Sim. No começo, quando a Prefeitura assumiu o comando das operações, as melhorias eram tímidas. Depois de dezenas de milhões de investimentos realizados, ainda havia críticas contundentes.

Atualmente, os problemas são bem menos graves, mesmo sendo sérios. Obras em reservatórios ajudam a minorar reclamos. De todo modo, fica evidente: há muita coisa a ser feita. Estamos só no começo de uma enorme jornada de recuperação.

Recuperação de imagem da Companhia Águas de Joinville, inclusive. A profissionalização da gestão, algo recém-iniciado, é um passo decisivo na direção correta. Se quisermos Joinville minimamente sustentável para daqui a 20 anos, é necessário agir hoje.

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O povo, por óbvio, não tem nenhum interesse em saber os nomes que dirigem o negócio. O essencial, na ótica dos consumidores, é que não falte água nas torneiras das casas. E, se faltar, que os reparos aconteçam rapidamente. A rigor, esta exigência é absolutamente natural. Quem paga impostos, quer ver resultados.

As 29 páginas do plano diretor explicam os fatos, apontam caminhos e sugerem o que os atuais e os próximos administradores terão de realizar.