Por Isso Eu Sou Vingativa (L&PM), oitavo livro de Claudia Tajes, é um mergulho no universo patético de Sara Gomes, uma mulher de trinta e tantos anos que, sozinha e frustrada profissionalmente, decide que precisa ter alguma ambição na vida. A solução é olhar para trás e procurar os motivos pelo seu fracasso generalizado. Ela logo conclui que a culpa é dos homens e, assim, resolve ir atrás de todos os responsáveis pelas fraturas em sua autoestima. Numa trama digna de comédia hollywoodiana, Sara monta uma lista de ex-amores (consumados ou não) e parte para o plano de vingança contra o mundo que a fez perder o viço.

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A escritora autografa o livro nesta quinta-feira na Feira do Livro. A sessão ocorre às 19h30min.

A autora sabe muito bem como brincar com o absurdo e mostra isso já no encontro com a primeira vítima: “Você perdeu contato com Otávio na quarta série. Pouco depois, o infeliz caiu de cabeça no playground. Sem saber, você levou anos pensando na cara que ele faria ao vê-la bonita e rica (o exagero é livre na imaginação), para descobrir agora que Otávio não pode ver nada”.

Eis aí um recurso narrativo inusitado, sobretudo nesse tipo de texto: o uso da segunda pessoa. Isso causa um estranhamento desde o início – e funciona muito bem. Não deixa de ser uma maneira de sugerir que, não importa quem seja o leitor, será alguém risível em suas tentativas de vingança.

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É divertido acompanhar como a protagonista é constantemente avacalhada pelas pessoas à sua volta, desde o pai até os ex-casos. Um deles, o ex-bonitão do cursinho pré-vestibular, diz: “Acho que me lembrei de você. Uma menina sem sal que sentava bem na frente e usava calcinha de velha”. Outro, o grosseiro que não está nem aí: “Vamos dar uma, retardada?”.

O livro faz ótimo uso dos estereótipos e, com isso, fala da superficialidade das relações, todas tão rápidas que parecem não terem sido com pessoas, mas com tipos. No entanto, em vez de maldizer este cenário, faz dele matéria para o humor. E é esse o ponto alto do texto: a mistura de ironia e deboche, sempre com tiradas certeiras e inteligentes.

Com sua prosa, Claudia Tajes não quer mudar o mundo, mas sim se divertir com ele _ de preferência, junto dos leitores.

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