A classe C brasileira deverá gastar R$ 28 bilhões em educação neste ano, valor equivalente ao PIB do Paraguai. A projeção é do Instituto Data Popular. A proximidade dos grandes eventos esportivos, as novas oportunidades no mercado de trabalho e o persistente “monolinguismo” brasileiro indicam que o estudo de idiomas estará entre as prioridades.

Continua depois da publicidade

O professor de inglês Carlos Eduardo Fischer fundou a escola Ways em 2009, no contexto da ascensão da classe C. Ele, que já havia trabalhado nas escolas Wizard e Yázigi, identificou uma demanda reprimida entre este público e direcionou as estratégias para a nova classe média.

Tudo, na escola, desde o valor da mensalidade (R$ 99) até os horários flexíveis foram pensados para a classe C, segundo Carlos Eduardo.

– Para chegar a este valor, tenho uma estrutura enxuta na escola, priorizando os professores e o material, e descartando o redundante, como a publicidade e os equipamentos sofisticados – afirma.

Em três anos e meio, a Ways inaugurou seis escolas em Florianópolis. Até o final de 2013, o plano é abrir mais quatro, incluindo uma em Curitiba e outra em Porto Alegre.

Continua depois da publicidade

Nas redes maiores, o foco na classe C começa a aparecer em cursos de preparação para os dois grandes eventos esportivos que o Brasil receberá nos próximos anos: a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016. A Fisk lançou, neste ano, o programa May I Help You?, que direciona o ensino de inglês para as necessidades dos profissionais que farão atendimento aos turistas.

O vice-presidente da empresa, Elvio Peralta, explica que o programa é perfeito, também, para a classe C, que procura se qualificar para aproveitar as oportunidades que estão surgindo no mercado profissional brasileiro.

A ideia do mercado em relação à classe C é a de que a educação passou a ser prioridade e, por isso, a estratégia não é o desconto. Estas pessoas estão investindo em preparação e correndo atrás da qualificação.

O vice-presidente da Fisk fala que, em 2008, a proposta da rede mudou, de olho na classe emergente.

– Nós expandimos a atividade. Éramos uma escola de idiomas e nos tornamos um centro de ensino, com cursos de informática e de português para brasileiros. Os dois novos focados na educação para adultos, com horários aos sábados, para pessoas que estudam e trabalham – explica.

Continua depois da publicidade

O grupo Multi Holding, das escolas Wizard, Yázigi e Skill, criou o curso Guia Brasil 2014, que pretende capacitar as pessoas interessadas em trabalhar no atendimento aos turistas.

– É uma meta do grupo Multi formar a classe C brasileira para receber os turistas estrangeiros que vão visitar o Brasil na Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíada do Rio de Janeiro – reforça o presidente do grupo, Carlos Martins.

Educação é vista como prioridade

A pesquisa do Data Popular mostra que, nos últimos dois anos, o total de gastos com educação da nova classe média saltou cerca de seis pontos percentuais, de 38,9% para 44,7%. Enquanto isso, no mesmo período, o investimento da alta renda recuou seis pontos, de 57,7%, em janeiro de 2010, para 51,6%, em janeiro deste ano.

José Luís Pinheiro tem 38 anos e está estudando inglês pela primeira vez na vida para conseguir mudar de emprego. Hoje, ele trabalha como vendedor em uma loja de peças de caminhão e completa a jornada numa lanchonete. Mas o que ele quer mesmo é ser comissário de bordo.

Continua depois da publicidade

No ano passado, José Luís fez um curso de capacitação para o futuro trabalho. Desde lá, o seu currículo está cadastrado no site da escola, que lhe direciona as vagas, e nos sites das companhias aéreas.

– O problema é que não tenho o inglês, que é essencial para esta profissão. Então, eu sei que o meu currículo é descartado na hora – afirma.

A esperança de José Luís está nas vagas que serão abertas pelos grandes eventos esportivos no Brasil. Ele acredita que já no ano que vem o mercado da aviação estará aquecido, também por causa das reformas de ampliação nos aeroportos do país.

– Hoje eu estou no nível básico, mas, em um ano, espero estar falando inglês – avalia.

José Luís é solteiro e ganha, hoje, R$ 2,5 mil com os dois empregos. O da lanchonete é temporário e, em seis meses, sua renda cairá para R$ 1,5 mil ao mês. Mas a mensalidade de R$ 100 do curso vai continuar sendo prioridade, segundo ele.

Continua depois da publicidade