Legenda do Instagram. Citação de Facebook. Aplicativos. Cartões-postais. Nome de condomínio. Reedições, edições inéditas. Biografias. Peça de teatro. Há Clarice Lispector para todos. Crianças e adultos, brasileiros e estrangeiros, iniciantes e iniciados. Clarice pop e Clarice cânone. Para homens e mulheres. Especialmente para essas, claro, dada as afinidades d’alma.
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– Maior escritora da América Latina no século 20. A mil anos-luz de Isabel Allende – ousa o professor da UFSC Sérgio Medeiros.
O furor atual em torno da autora não parece desmenti-lo. Enquanto fan pages acumulam dezenas de milhares de membros, um pelotão de especialistas vira e revira a extensa obra de Clarice – que soma, apenas pela editora Rocco, 39 títulos publicados, 11 deles nos últimos cinco anos.
Na época em que a peça com Beth Goulart entrou em cartaz no Rio, em 2009, era lançada no Brasil e fora a biografia do norte-americano Benjamin Moser – em inglês com o título Why this world?, e em português, Clarice, (assim, com vírgula proposital). O livro surpreendeu pelos insights e pelo empenho de Moser. Tradutor da obra de Clarice, ele mapeou o histórico familiar da autora e visitou até mesmo a aldeia ucraniana onde ela nasceu, em 1920.
Em 2012, chegou às livrarias brasileiras Clarice Lispector – Figuras da Escrita, do português Carlos Mendes de Souza, que na edição original, de apenas 500 exemplares, se tornou referência entre os claricianos. É esse o nome que recebem os entusiastas da autora. Claricianos que se reuniram, aliás, na Semana Clarice, quatro dias de debates especializados promovidos pela UFSC há alguns meses.
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Tudo isso se conecta à questão levantada pelo New York Times: “A despeito do culto de artistas e estudiosos, [Clarice Lispector] ainda tem que ganhar seu lugar de direito no cânone literário”.
À amplificação do sucesso que já teve em vida, Clarice Lispector responderia com sua fleuma de sempre. É antológica a passagem de uma entrevista que concedeu à TV Cultura, em 1977. Qual o papel do escritor brasileiro hoje em dia?, quer saber o entrevistador. “O de falar o menos possível”, responde Clarice, e deixa, sem constrangimento, o silêncio preencher o estúdio.
POR QUE AMAMOS CLARICE
Algumas apaixonadas pela escritora contam sua paixão por Clarice:
“Eu conheci a obra de Clarice em 2005 ao participar de um projeto de contação de histórias na rua. De lá pra cá, fui acumulando livros dela e me juntei a outras quatro meninas também apaixonadas por Clarice. Criamos dois espetáculos baseados na obra dela. Clarícias, de 2006, e Mais Tarde Talvez Fosse Ela, de 2008, que continua em cartaz uma vez por mês em Florianópolis. É um espetáculo que fala da transição da mulher: da infância, passando pela adolescência até a vida adulta feminina. Ser feminina é ser muito Clarice. Mas o que eu mais gosto em Clarice é como ela consegue falar de coisas profundas de uma maneira simples. Me interessa muito os textos dela sobre a passagem do tempo, sobre envelhecermos” Júlia Fernandes Lacerda, 26 anos, mestrando em Teatro, na Udesc.(em www.ciaentrecontos.com , dá para conferir a agenda do grupo)
“Minha obra preferida de Clarice é A Hora da Estrela, seu último livro. É o único livro dela que eu tenho. Mas A Hora da Estrela é meu preferido, porque neste livro fica muito claro que a Clarice foi uma mulher que não se importava com o que os outros poderiam falar ou pensar. Ela se isolava e se concentrava no que gostaria de escrever. Era uma mulher que fazia o que ela queria ou acreditava, sem se importar se isso se adequava socialmente. Apesar da vida, escrevia. Eu tenho um pouco disso. Ela também é muito elegante, muito classuda, muito Chanel. Nós, mulheres, adoramos isso” Micheline Barros, 40 anos, professora de Artes.
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“No site da Clarice, tem a sessão baú, onde se concentram cartas, textos e confidências que ela escrevia para amigos e familiares. Eu também tenho o meu baú, que ganhei há uns 10 anos da minha mãe, onde guardava meus textos. São textos que escrevo desde os 15 anos e que nunca mostrei para ninguém. São muito íntimos. O que eu mais gosto na Clarice é que ela dá vazão à intuição feminina – essa coisa que nós mulheres temos e que está por aqui o tempo inteiro e nem sempre percebemos. Isso é muito forte na obra dela. E eu sou uma pessoa muito intuitiva” Paula Borges, 30 anos, produtora cultural, sócia da Harmônica Arte e Entretenimento
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