Milhares de civis fugiam nesta terça-feira da localidade de Minbej, reduto do grupo Estado Islâmico (EI) no norte da Síria, praticamente cercado por uma coalizão árabe-curda apoiada pelos Estados Unidos.
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A ofensiva nesta cidade, controlada desde janeiro de 2014 pelos extremistas, pretende cortar a rota utilizada pelo EI para o transporte de armas, homens e dinheiro da fronteira com a Turquia – cerca de 30 km mais ao norte – para a sua fortaleza de Raqa.
O ataque das Forças Democráticas da Síria (FDS), formadas principalmente por combatentes curdos aliados aos árabes, começou há uma semana, depois de cruzarem o rio Eufrates.
“Nós cercamos Minbej por três lados e as operações estão indo bem”, afirmou à AFP Sherfan Darwish, chefe do conselho militar de Minbej que dirige as operações.
“A cada dia libertamos vilarejos e a única estrada que permanece aberta para o EI é (a oeste) para a cidade de Aleppo”, afirmou por telefone.
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De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), os combatentes das FDS estão apenas 5 km ao norte de Minbej, 2 km ao sul e a 7 km ao leste.
O EI “começou a permitir que os civis fujam para o oeste, quando até então proibia qualquer pessoa de deixar a cidade”, informou o diretor da ONG, Rami Abdel Rahman.
Ele afirmou que “milhares” de pessoas já fugiram, enquanto os extremistas, que enviaram suas famílias para o exterior, mantém as suas posições para defender a cidade.
Segundo ele, alguns habitantes fogem em veículos, mas muitos outros estão a pé.
Rota vital
Cerca de 20.000 pessoas ainda viviam em Minbej de acordo com estimativas. Em 2011, antes do início da guerra na Síria, a cidade possuía 120.000 habitantes, todos sunitas, incluindo uma maioria árabe, um quarto de curdos, e uma pequena minoria de turcomanos.
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A ofensiva contra Minbej é apoiada por ataques aéreos por parte da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos. Washington, que enviou 200 soldados das forças especiais para aconselhar as FDS, diz que o ataque é conduzido por 3.000 combatentes árabes apoiados por 500 curdos sírios.
Mas para o OSDH, a maioria dos 4.000 combatentes envolvidos nesta operação são curdos.
A ofensiva visa cortar a rota de abastecimento do EI que começa da cidade fronteiriça de Jarablus, passando por Minbej antes de virar para o sudeste ao longo do rio Eufrates, via Tabqa, até a cidade de Raqa, a capital do autoproclamado “califado” do grupo ultrarradical sunita.
Tabqa, localizada à beira da barragem Assad, também é alvo de vários ataques. As FDS lançaram um ataque nessa direção na semana passada, mas parou a 60 km da cidade.
Reforços do EI em Tabqa
Por seu lado, os combatentes favoráveis ao regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, apoiados por aviões russos, assumiram posição 30 km ao sudoeste de Tabqa, segundo informou à AFP uma fonte militar síria.
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“Estamos em Abu al-Alaj e bloqueamos uma contra-ofensiva do Daech (sigla em árabe do EI) contra nossas posições militares”, ressaltou essa fonte.
Ele indicou que as forças armadas não avançaram nas últimas 24 horas em direção a Tabqa, preferindo primeiro fortalecer suas posições.
O OSDH afirmou nesta terça-feira que o EI havia enviado um comboio de 100 combatentes e armas para reforçar as suas posições em Tabqa.
A cidade contava com 80.000 habitantes em 2011, mas enquanto os árabes sunitas permaneceram, as populações minoritárias, muitos das quais trabalhavam como funcionários da barragem, fugiram em 2012, de acordo com o geógrafo francês especialista na Síria Fabrice Balanche.
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As forças do regime pretende vingar o massacre de 160 de seus soldados pelos extremistas quando estes tomaram a sua base em 2014.
De acordo com o OSDH, a maior prisão do EI, aonde estariam encarcerados reféns ocidentais, está em Tabqa, que também inclui campos de petróleo ao sudoeste.
“Tudo isso faz de Tabqa um objetivo militar, econômico e muito importante simbolicamente”, disse segunda-feira Abdel Rahman.
A guerra na Síria, que começou em 2011 com a repressão do regime a protestos exigindo democracia e liberdade de expressão, tornou-se mais complexa ao longo dos anos, com uma multiplicidade de atores sírios e internacionais. Ela já fez mais de 280.000 mortos e milhões de deslocados.
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* AFP