Os civis fugiam nesta terça-feira das áreas de combate na zona leste de Aleppo à medida que as forças do governo avançavam nos bairros rebeldes uma semana após o início da sua ofensiva.

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Pelo menos 140 civis morreram em uma semana nos intensos bombardeios aéreos, em lançamentos de barris de explosivos e fogo de artilharia, de acordo com um novo balanço do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Mas, apesar das condenações de Washington e das Nações Unidas, a comunidade internacional parece mais do que nunca impotente para frustrar a determinação de Damasco e de seus aliados russo e iraniano para reconquistar Aleppo, principal front de um conflito que deixou mais de 300.000 mortos em cinco anos e meio.

Nesta terça-feira, na zona leste de Aleppo, os combates entre as forças do regime e os insurgentes ocorriam em várias frentes nas áreas sob controle rebelde, especialmente Massaken Hanano, informou o OSDH.

Este bairro foi violentamente bombardeado ao longo da guerra, levando à fuga de muitos habitantes, mas os últimos bombardeios forçaram os últimos que ainda resistiam a deixar o local.

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Milad Chahabi, membro do conselho do distrito, declarou na segunda-feira à noite à AFP que “os civis começaram a fugir” para os bairros mais ao sul da zona leste de Aleppo. “Estamos à procura de casas vazias para acomodá-los.”

Segundo o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahmane, as forças do governo, apoiadas principalmente pelas forças do Hezbollah libanês, agora controlam um terço da Massaken Hanano, um bairro que tem um valor simbólico, uma vez que foi o primeiro a ser tomado pelos rebeldes em 2012.

É também uma área estratégica, uma vez que a tomada de Massaken Hanano permitiria às tropas do governo de ter visão de várias outras áreas rebeldes da cidade.

‘Nada para comer’

O avanço das forças do governo se soma ao desespero crescente da população nas áreas nas mãos dos insurgentes desde 2012. São 250.000 pessoas sem acesso à alimentação há mais de quatro meses, uma vez que a tentativa dos insurgentes de tentar romper o cerco falhou.

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“A questão é quanto tempo eles (os rebeldes) vivem sem nada”, disse um diplomata europeu em condição de anonimato. “Não há nada para comer, não há hospitais e os bombardeios não param. A pressão sobre eles é enorme”.

De acordo com o Observatório, 141 civis, incluindo 18 crianças, foram mortos na zona leste de Aleppo desde o início desta nova campanha de bombardeios.

Dezesseis outros civis, incluindo 10 crianças, foram mortos pelo fogo dos rebeldes na zona oeste de Aleppo, acrescenta o OSDH.

‘Estratégia de guerra total’

A ofensiva do regime provoca indignação no exterior. O embaixador da França na ONU, François Delattre, denunciou na segunda-feira uma “estratégia de guerra total para retomar Aleppo a todo o custo”. Ele disse que “a situação é horrível, catastrófica”.

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O chefe das operações humanitárias da ONU, Stephen O’Brien, também denunciou o uso dos cercos em Aleppo e em outros lugares na guerra na Síria, evocando quase um milhão de pessoas sob cerco em todo o país.

As pessoas “estão isoladas, com fome, bombardeados e privados de ajuda médica e assistência humanitária, a fim de forçá-los a render-se ou fugir”.

“Esta é uma tática deliberada (…) uma forma cruel de punição coletiva”, afirmou.

Essa tática é aplicada de “forma monstruosa pela parte no conflito que deveria em primeiro lugar defender e proteger seus próprios cidadãos, mesmo aqueles que não concordam com os seus líderes”, disse ele, referindo-se ao governo sírio.

O enviado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, não conseguiu convencer Damasco neste fim de semana da possibilidade de uma trégua imediata, pelo menos temporariamente, uma “administração autônoma” dos rebeldes em Aleppo em troca da saída de centenas de combatentes do grupo jihadista Front Fateh al-Sham (ex-ramo sírio da al-Qaeda) presente nestes bairros.

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Damasco também rejeitou uma proposta humanitária que permitiria a evacuação de doentes e feridos da zona leste de Aleppo e a entrada da ajuda e médicos.

O ministro sírio das Relações Exteriores da Síria, Walid Muallem, afirmou no domingo que a trégua “recompensa o terrorismo” e enfatizou a reconquista de Aleppo pelo governo.

* AFP