Quem se acomoda nas cadeiras para assistir ao espetáculo só visualiza a diversidade artística que existe sob a lona de um circo. Abaixo das camadas de trajes e maquiagens, porém, se escondem as mais diversas histórias de vida, de trajetórias e de personalidades. Sonhos alcançados e outros no foco para se concretizarem se reúnem coletivamente, formando um imenso mosaico de experiências. O Circo Vostok, que faz sua temporada em Jaraguá do Sul até o dia 3 de maio, trouxe em sua trupe toda a fantástica diversidade da arte e da vida circense.

Continua depois da publicidade

Com 105 pessoas de oito nacionalidades em sua equipe, 48 delas artistas, o Vostok é considerado um dos circos de grande porte ainda em circulação no País. Toda a equipe sobrevive exclusivamente do circo, e manter a estrutura em dia é um dos desafios da administração. Para a relações-públicas do Vostok, Lais Giglio, a concorrência de novas tecnologias e o momento de crise econômica chegam a influir no público dos espetáculos. Porém, a magia do picadeiro ainda atrai grande número de visitantes, ávidos pelas surpresas e encantos que só ocorrem ali.

Atrair cada vez mais público é justamente a vocação do Vostok. O circo, de origem russa, foi inaugurado em 1873. Em seus 142 anos de existência, pequenas crises foram superadas e outras resultaram em mudanças profundas. Uma delas foi na década de 1970, quando o então proprietário Alexandre Vostok vislumbrou a saída dos problemas com uma proposta para apresentações em Las Vegas. O circo brasileiro foi desativado e parte da trupe incorporada ao espetáculo norte-americano. Quase quatro décadas depois, o Vostok retornou ao lar. O filho de Alexandre, Fabio, reabriu o picadeiro em 2011 com a proposta de resgatar as origens circenses da família. E o resultado tem sido positivo.

– Estamos em constante evolução. E acho que isso nunca vai parar, o circo é a mãe de todas as artes e a inovação faz parte desses artistas – resume Lais.

O trapezista

Continua depois da publicidade

Nascido na Rússia e vivendo desde os cinco anos no Equador, o trapezista Jimmy Palma integra há três anos o Circo Vostok. Filho de uma família circense e de um pai proprietário de circo, Jimmy partiu para explorar a América. Passou pela Argentina, Peru, Chile, Bolívia, Argentina, concretizando um de seus maiores prazeres: viajar e conhecer novos lugares. Há cinco anos desembarcou no Brasil.

Artista de diversas apresentações, hoje ele foca no trapézio e globo da morte. Apesar do risco das motocicletas em alta velocidade, é o trapézio o que Jimmy considera mais difícil. A arte foi aprendida na Argentina e exigiu inúmeras horas de treino antes das execuções.

Como muitos, a vida de Jimmy está intimamente ligada ao circo. Mas ele já cansou. Parou e tentou fixar-se em uma cidade, onde buscou trabalho. Mas não aguentou. Em cinco meses já estava de volta ao picadeiro.

O apresentador

Godoy Júnior não é filho do circo. Mas escolheu a lona e o picadeiro como sua casa. Aos 14 anos saiu da casa dos pais, em São Joaquim, e após algumas semanas vagando sem destino, deparou-se com um circo que acabara de chegar à cidade. Ganhando R$ 35 por semana, ele uniu-se à trupe e nunca mais abandonou a vida circense.

Continua depois da publicidade

Hoje com 29 anos, Godoy reúne uma história já longa de picadeiro. Como tantos, fez de tudo. Foi sonoplasta e homem pássaro. E por um ano foi proprietário do Circo Mundial. Até o fatídico dia, em agosto do ano passado, no qual um temporal derrubou a lona do circo, pondo abaixo o sonho. Godoy foi para Florianópolis, onde tem uma casa, e chegou a pensar em desistir. Mas o convite do Circo Vostok trouxe novamente a arte para seu dia a dia.

Locutor do espetáculo e globista, ele integra a trupe desde janeiro. Ainda concilia na agenda, sempre que possível, a locução de corridas de motocross, outra de suas grandes paixões. No futuro, porém, o plano é reabrir um circo. De quebra, ainda investir em um projeto social: um circo escola para ajudar crianças carentes.

Os palhaços

Eles são pai e filho, de uma tradicional família circense. Formam a dupla que anima o picadeiro e mostram o entrosamento nascido da relação. Juan Carlo Ugalde, 60 (ou 18 anos, como ele prefere indicar), e seu filho Jean Carlos Assis Ugalde, 15, são chilenos e integram há três anos a equipe do Circo Vostok. Na trupe ainda estão a mãe, esposa, outros filhos, sobrinhos. Boa parte da família reunida sob a lona brasileira.

Para Juan, veterano do circo que já passou pelo trapézio, mas jamais desistiu da palhaçaria, é este o personagem circense que atinge a todos, agradando e chamando atenção de todas as idades. E é justamente o personagem de nariz vermelho o papel mais difícil de interpretar. Porquê?

Continua depois da publicidade

– Porque é difícil fazer rir. Não pode ser qualquer coisa _ justifica ele.

Seu filho, de apenas 15 anos, seguiu a tradição e também investiu em seu personagem. Porém, ele admite um sonho fora do circo: quer ser jogador de futebol. Nas cidades por onde passa, ele treina em escolas de futebol e tenta aperfeiçoar os passos para um futuro no esporte.

Já o pai, em 60 anos de circo, nunca pensou em abandonar o espetáculo. O motivo é a herança.

– Esta é minha profissão, meus pais deixaram para isso para mim: ser palhaço e artista.

A mulher dos tecidos

Charlene Torres é a mulher dos tecidos. Com o corpo envolto nas duas longas tiras de pano que descem do teto, ela voa, se pendura nas alturas, move braços, pernas e troncos em acrobacias aéreas sustentadas apenas pelas fibras do tecido. Seus 25 anos de vida foram passados inteiramente no circo – sua família também é tradicional.

Como tantos, já tentou diversas atividades no espetáculo. No picadeiro, já fez apresentações de força capilar e de monocírculo (bicicleta de uma roda). Também é ela uma das poucas mulheres a fazer parte do globo da morte. Mesmo o acidente que a levou a uma cirurgia e o implante de uma placa em sua coluna não a afastam da vida circense, paixão que se renova a cada apresentação e a cada nova arte aprendida – a próxima é o pole dance.

Durante o espetáculo, Charlene é uma das artistas que divide o tempo entre picadeiro e vendas. O algodão doce é comercializado antes do espetáculo e no intervalo, e mesmo ao longo da apresentação Charlene circula entre o público, fazendo e vendendo fotografias. Mesmo na correria, o prazer existe – e dentro do picadeiro tudo se transforma.

Continua depois da publicidade

O homem dos bastidores

Quando desembarcou em Jaraguá do Sul para a breve temporada do Vostok, Rodolfo José Fagundes, 52, lembrou da sua vida prévia, a vida “da cidade”, como eles descrevem no linguajar circense as pessoas que não vivem em circos.

Natural de Joinville, Rodolfo mudou-se para Jaraguá do Sul em 1969 e aqui residiu até 1990. Metalúrgico em uma empresa, ele atendeu a encomenda de um circo. Dai surgiu o convite para integrar a equipe e montar os painéis do circo em outras cidades.

Da boa proposta profissional nasceu o amor. Literalmente. Foi no circo que ele conheceu sua atual esposa, Jana Mara Alves. Foi no circo que ele teve a filha, Jeycklline Alves, que já lhe deu um neto, hoje com um ano e meio. Hoje Rodolfo concilia as funções diretor de espetáculo, motorista das carretas e técnico de manutenção de equipamentos. Para ele, que está há dois ano no Vostok, o circo é aventura e a possibilidade de conhecer inúmeros locais, viver experiências e entrar em contato com as mais diferentes pessoas.

O quê: Circo Vostok

Quando: até o dia 3 de maio. Apresentações de terça a sexta-feira, às 20h30; sábados, domingos e feriados às 16h, 18h e 20h30.

Continua depois da publicidade

Quanto: Cadeiras principais R$ 40 inteira e R$ 20 meia; cadeiras laterais R$ 30 inteira e R$ 20 meia; camarote R$ 60.