Aos 88 anos, o polonês Andrzej Wajda mantém seu foco em episódios emblemáticos da turbulenta história de seu país – em especial os anos sob ocupação nazista e as décadas sob o garrão soviético, temas recorrentes na obra deste grande mestre do cinema, autor de clássicos como Cinzas e Diamantes (1958) e O Homem de Mármore (1977).
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Se em Katyn (2007), a encenação do massacre de mais de 20 mil poloneses pelos russos na II Guerra – crime que Stalin tentou colocar na conta de Hitler – resultou em um de seus mais vigorosos filmes, na cinebiografia Walesa (2013) Wajda investe no registro afetivo mais convencional. O filme entrou em cartaz em cartaz na Sala Paulo Amorim da Casa de Cultura Mario Quintana, na Capital.
O personagem iluminado é Lech Walesa, hoje com 70 anos, sindicalista que despontou como líder político nos anos 1980, ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1983 e tornou-se, em 1990, o primeiro presidente eleito da Polônia após o colapso do regime comunista no Leste Europeu.
Wajda destaca Walesa como o homem corajoso e inquebrantável que desafiou o regime comunista ao liderar uma histórica greve no estaleiro de Gdansk, em 1980, e dela sair vitorioso à frente do Solidariedade, mítico sindicato que sustentou sua ascensão como figura pública.
O eixo narrativo do longa é uma entrevista que Walesa (fielmente encarnado pelo ator Robert Wieckiewicz) concede a uma jornalista italiana. Ele relembra os enfrentamentos com as autoridades comunistas nos anos 1970, as temporadas na prisão e a tensa queda de braço da qual saiu vencedor graças ao apoio popular e à providencial simpatia de sua causa junto aos governos ocidentais. Católico, Walesa também teve como forte aliado o papa João Paulo II, seu conterrâneo.
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Wajda sofreu críticas por interromper sua narrativa na ascensão ao poder de Walesa, sem avançar nas controvérsias que marcaram seu governo até 1995 – ele não conseguiu se reeleger e passou em branco em nova tentativa de chegar à presidência, em 2000. No filme, é citado um acordo de delação de companheiros que Walesa fez para livrar-se de prisão no começo de sua trajetória sindical.
Mas parece bem clara a proposta do diretor de registrar a construção do mito que foi protagonista de um capítulo de grande transformação da ordem política mundial. A determinação e a importância de Walesa nesse recorte histórico, para além de seus rumos posteriores, são inquestionáveis. Com essa perspectiva em vista, Wajda lhe presta um tributo à altura.