A cerca de 20 quilômetros do Centro de Criciúma, depois que a estrada que leva ao aeroporto da cidade dobra em uma rua de terra e esta, por sua vez, vai dar no interior do município de Forquilhinha, onde a poeira sempre levanta e os celulares mal pegam, Penna Filho circula pelos antigos escritórios de uma estação mineradora desativada.
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Com a caneca de café em uma das mãos, ele aponta com a outra para as saletas transformadas em cenários e camarins, dentro das quais atores e técnicos começam a se preparar para a próxima cena.
– O começo é um pouco lento. É melhor acharmos um lugar para sentar e conversar – sugere ele. A segunda-feira nublada é também o dia do aniversário do diretor e, no refeitório da produção, uma equipe de 20 ou 30 pessoas, junto da esposa e das duas filhas do casal, canta o parabéns pra você. Completando 77 anos, Penna deve passar os próximos 40 dias na região, dedicando-se às filmagens de seu novo trabalho, o longa-metragem Das Profundezas.
O filme conta a história de uma família de trabalhadores das minas de carvão que, em 1987, atravessa um período de intensos conflitos entre o sindicato dos operários e o Estado, em decorrência do movimento grevista organizado pelos mineiros. A narrativa tem também como pano de fundo a ditadura militar de 1964, cujo legado de desaparecimentos encontra analogia na política do carvão.
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O diretor faz questão de ressaltar que quase toda a equipe que trabalha no filme é formada por catarinenses – apenas três técnicos vieram de São Paulo. Além dos atores principais, a produção também está trabalhando na localização de figurantes autênticos, como mineiros e policiais, para participar da cena que remonta uma das assembleias do sindicato.
No roteiro, escrito por Penna, fatos e personagens reais inspiram a narrativa ficcional: apesar da documentação escassa, o engajamento dos trabalhadores das minas da região carbonífera de Santa Catarina representou uma das mais emblemáticas lutas sindicais do Brasil e culminou na fundação de uma cooperativa, que viria a estabelecer o sistema de autogestão dos operários.
A figura de um dos mais importantes líderes do movimento, o hoje deputado estadual José Paulo Serafim, também serve de modelo para o personagem do filme. Enquanto passeia pelos corredores da locação em busca de um lugar onde possa sentar, Penna é interceptado aqui e ali por alguém.
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– Ficou bom? – pergunta a atriz Antonella Batista sobre a maquiagem que a faz parecer mais velha.
– Ainda não está como eu, mas está perto – responde, sorrindo, o diretor. No set onde a cena será filmada, Penna se posiciona em frente ao monitor, de onde analisa o enquadramento da câmera sobre a atriz. Antes que tudo esteja pronto, surge mais uma amiga, carregando um vaso com pequenos antúrios, para lhe desejar feliz aniversário.