O Som ao Redor, o mais badalado filme brasileiro do momento, que chega a Porto Alegre com suas primeiras sessões de pré-estreia neste fim de semana, não tem exatamente um protagonista. Mas há, entre os grandes atores brasileiros vistos em cena, como Irandhir Santos, Maeve Jinkings e W.J. Solha, um jovem rosto que a câmera de Kleber Mendonça Filho acompanha durante a maior parte do tempo: Gustavo Jahn.

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Leia entrevista com o diretor Kleber Mendonça Filho

Natural de Florianópolis, Jahn morou boa parte da vida em Porto Alegre, onde deu início à carreira de diretor – é dele o Super-8 Abril (2002), uma das mais interessantes realizações nesta bitola no Rio Grande do Sul, e também o média-metragem experimental Éternau (2006), realizado num esquema de coletivo em que todos os seis integrantes da equipe eram também os atores do filme.

Hoje com 32 anos, radicado em Berlim desde meados da década passada, Jahn falou com ZH por telefone desde a pequena cidade de Nida, na Lituânia, onde faz residência artística ao lado de sua parceira, Melissa Dullius.

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– Está tudo branco aqui – ele relata, referindo-se à neve que encobre a localidade de 1,6 mil habitantes localizada às margens do Mar Báltico.

Em 2009, Jahn e Cissa, como Melissa é chamada pelos amigos, “mandaram notícias” com a realização de outro média-metragem em que dirigiam e atuavam – Triangulum. É que o filme foi exibido no projeto Videoarte nos Jardins do DMAE, realizado pela Secretaria Municipal da Cultura da capital gaúcha. Em seguida, apareceram no longa-metragem mineiro Os Residentes (2010), de Tiago Mata Machado, inclusive protagonizando uma das mais intensas e impressionantes “DR” de casal do cinema brasileiro nas últimas décadas.

As aparições foram fundamentais para que Kleber Mendonça o recrutasse para integrar o elenco de O Som ao Redor.

– Conheci o Kleber num festival de cinema em Santa Maria da Feira, em Portugal. Ele ficou tirando fotografias da gente (de Jahn e Cissa) e ressaltando o quanto nos achou fotogênicos. Também temos afinidades do ponto de vista ideológico sobre cinema, Kleber e eu. O que, acho, foi importante para que ele me convidasse para este longa – Jahn especula, fato que este repórter confirmaria em seguida, na entrevista realizada logo depois com o diretor de O Som ao Redor.

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– Quando escolho um ator, escolho também a pessoa com a qual quero conviver, trocar ideias e desenvolver um trabalho – diz Mendonça.

Dar sequência à carreira de ator está nos planos de Gustavo Jahn, desde que seja algo paralelo ao trabalho como diretor. Os projetos que dirige, ele ressalta, têm servido mais a peças audiovisuais exibidas em galerias de arte do que propriamente em salas de cinema:

– Foi assim em 2012, mas o que me interessa é desenvolver projetos a partir de suas especificidades. No ano passado, fizemos (ele e Cissa) vários trabalhos de música e cinema em conjunto com a Ensemble Mosaik (orquestra berlinense). Há possibilidades diversas de criação autoral no audiovisual, é isso o que me motiva. Quando realizamos Éternau, a ideia de que todos atuassem tinha o objetivo de fazer todo mundo da equipe se envolver mais com o projeto, já que, às vezes, parece-me que o diretor tem um nível de envolvimento bem maior do que os demais integrantes. Os trabalhos nos quais apenas atuo me permitem ter outro tipo de participação, mais limitada diante do resultado final de um filme. Consegui perceber, por exemplo, o quanto o Tiago (Mata Machado) e o Kleber (Mendonça Filho) são diferentes, o primeiro numa abordagem mais livre, de deixar tudo acontecer no set, e o segundo trabalhando a partir algo muito bem elaborado previamente, com um “roteiro de ferro”. Ambos, fundamentalmente, me dando subsídios para crescer e desenvolver meu trabalho.