Uma das seis sedes da Copa das Confederações e uma das 12 da Copa do Mundo de 2014, Recife apresenta sérios problemas de infraestrutura, o que afeta diretamente o torcedor que vai o estádio, os jornalistas que cobrem o grande evento e os jogadores que são as estrelas do espetáculo.
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As dificuldades dos pernambucanos servem de alerta para todas as cidades que pensam em promover uma grande Mundial no ano que vem, Porto Alegre entre elas. A Copa das Confederações é um evento teste. Restam 12 meses para colocar a casa em ordem.
Abaixo, cinco grandes deficiências que envolvem a Arena Pernambuco e seu entorno.
UM: Caçula dos estádios, o único construído especialmente para os dois torneios da Fifa ao custo de cerca de R$ 530 milhões, a Arena Pernambuco é um estádio imponente. Guarda certa semelhança com o Allianz Arena, de Munique. Mas ainda não está totalmente pronta. As improvisações estão por toda a parte. Domingo, na estreia, havia poeira de obra em diversos lugares. Os banheiros estavam sujos, a comida, sem grande qualidade, era cara. A organização perdeu a chave do portão A e centenas de pessoas precisaram esperar. Quando começaram a gritar e a protestar, um soldado quebrou a corrente do portão com um enorme alicate. No improvisado centro de imprensa, jornalistas japoneses ascenderam incensos embaixo de suas mesas para espantar os mosquitos.
DOIS: O torcedor para acessar o estádio. O sistema de transporte público é precário. A linha de metrô não alcança o estádio e, domingo, no jogo entre Espanha e Uruguai, não havia ônibus suficientes. Formaram-se longas filas, houve brigas e confusões. A polícia não agiu. Na apertada estação Cosme e Damião, do Metrô, a última antes do estádio, a falta de organização ficou evidente. A Secopa promete mais ônibus, nova sincronia entre ônibus e metrôs. Um comboio de cinco coletivos deixará o estádio a cada dois minutos levando 500 torcedores. O secretário-executivo da Copa em Recife, Ricardo Leitão deu nota 8 ao plano de mobilização criado pelo Governo para levar o torcedor ao estádio. Quem foi ao jogo e sofreu deu nota zero a Leitão. Os incidentes incomodaram o governador Eduardo Campos (PSB) que chamou a atenção dos seus secretários, que, por sua vez, culparam as redes sociais pelo barulho. Deputados também reclamaram da “despreparo, falta de organização e planejamento do Estado”.
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TRÊS: Os únicos caminhos até a Arena, a BR-101 e a BR-408 assustam. Em certas partes das estradas, o asfalto sumiu e criou verdadeiras crateras. Rodar acima de 60 km horários é um perigo. O trafego é pesado e lento, com engarrafamentos diários. As linhas de sinalização no asfalto praticamente inexistem, o mato cresce nas laterais da pista. Dirigir à noite, depois dos jogos, é uma aventura, especialmente com chuva. As placas de orientação aos motoristas são mínimas. Só um GPS salva. A Secopa culpa o Governo Federal por não ter recuperado as estradas. O estádio fica em São Lourenço da Mata, na área metropolitana de Recife, cerca de 20 quilômetros do aeroporto dos Guararapes.
QUATRO: Os Centros de Treinamento do Sport, do Náutico e o Estádio do Arruda, do Santa Cruz, foram reservados para treinos das seleções visitantes. Bastou alguns dias de chuva para deixar os gramados do CT do Sport e do Arruda fora de combate. Para chegar ao CT do Sport, é preciso enfrentar os buracos da BR-101 e ainda um trecho de terra, que se transforma em lama com a chuva. O Uruguai, por exemplo, não conseguiu treinar na quinta-feira passada por falta de opção. A Itália atrasou sua viagem a Recife porque sabia que não haveria um CT qualificado para treinar. O Japão desistiu de trabalhar com bola no Arruda depois de examinar o gramado ruim do e observar sua defasada drenagem.
CINCO: Voluntário bem treinado é garantia de sucesso. A Fifa selecionou jovens, a maioria estudantes, mas, ao menos em Recife, na Arena Pernambuco, eles ainda estão longe do preparo ideal. Um dos problemas é a falta de informação. Muitos ainda não têm noção onde ficam determinados lugares no estádio, que é mal sinalizado. No centro de imprensa, é comum o jornalista ser encaminhado para o lado errado quando pergunta sobre a localização da zona das entrevistas ou da sala de conferências. Como a Copa das Confederações é treino, na Copa do Mundo, com mais treino, os voluntários poderão estar bem mais preparados. Mas eles são simpáticos e atenciosos.