Cinco dos correspondentes do Grupo RBS nos Jogos Olímpicos compartilham suas visões muito particulares do que Londres tem a oferecer aos milhões de turistas que recebe anualmente: de um mergulho na História a um pulo na ficção, de uma noite seguindo os passos de Jack, o Estripador, a um dia caminhando a esmo, deixando-se descobrir sua própria cidade.

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Lembre-se

Para sorver de Londres tudo o que Londres pode dar, você tem de lembrar. Lembrar, por exemplo, que o chão da Abadia de Westminster, onde você pisa, é velho de mil anos. Que sobre ele foram coroados reis e rainhas, que abaixo dele jazem reis e rainhas. E também homens das artes. No Canto dos Poetas dorme Charles Dickens e, não longe dele, sir Lawrence Olivier.

Você tem de lembrar que na Torre de Londres dois jovens príncipes foram assassinados. Que ali chorou Maria, rainha da Escócia. Que o sedutor sir Walter Raleigh foi mandado para lá pela rainha Elizabeth I por ciúme _ Raleigh tinha um caso com ela, mas se enamorou de outra. Quando comunicou à soberana que havia se casado, ela se enfureceu como qualquer plebeia e mandou prendê-lo. Depois, como uma rainha, o perdoou. Nessa mesma Torre, cercada de aziagos corvos negros, o nazista Rudolf Hess experimentou o começou da sua longa detenção.

Hess deve ter ouvido o ronco dos aviões da Luftwaffe no bombardeio de Londres. A cidade ardia em chamas, mas a Catedral de São Paulo se mantinha intacta. Quando você avistá-la em sua cúpula majestosa, lembre-se que os ingleses diziam que, enquanto a catedral se mantivesse intacta, Londres resistiria. A catedral se manteve intacta. Londres resistiu.

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Freud não viu o bombardeio de Londres. Havia se mudado para a cidade em 1938, e morreu em 1939. Mas foi na cidade que ele concluiu um de seus melhores livros, “Moisés e o Monoteísmo”. Quando você for ao Museu de Freud, lembre-se disso.

Lembre-se, também, que entre os punks de Camden Town viveu, bebeu e morreu Amy Winehouse. Que nos pubs da cidade vivem, bebem e continuam vivos os longevos Rolling Stones. Que talvez você possa encontrar Paul McCartney disfarçado num dos trens do Tube, o metrô de Londres.

Londres é uma cidade com 2 mil anos de história, há muito para lembrar. Você não lembrará de tudo, mas o que lembrar fará com que você saia desta grande cidade sentindo que ela é ainda maior do que quando você chegou.

Retratos de uma cidade única

1) Os parques espalhados pela cidade (e não são poucos) são o ponto mais positivo de Londres. Seu tamanho e sua limpeza são impressionantes. Há uma cena diária nos parques: as pessoas usam o solo como mesa. É um piquenique diário, fast-food ou lanchinho caseiro.

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2) A forma como a cidade usa o seu rio também é um grande exemplo a ser seguido. O Tâmisa não é um problema – é uma das soluções de transporte, além de atração turística. A cidade não deu as costas ao rio – ergueu belos prédios em suas margens.

3) Manter os símbolos parece ser a meta de cada londrino, da Rainha aos súditos. Vide a arquitetura da cidade: mesmo construções novas preservam o tijolo escuro e paredes sem reboco. Tudo para ficar como Londres deve ser, única.

Turismo randômico

Existem cidades em que se perder é perigoso. Aqui, é quase um dever. Você vai acabar esbarrando em algum lugar interessante. Executar o plano é fácil e barato. Compre um cartão Oyster. Custa o equivalente a R$ 90 para uma semana. Depois, pule pra dentro de algum buraco com o símbolo do metrô. E saia por outro. Qualquer um. Caminhe. Ou então dirija-se a uma parada de ônibus e entre no primeiro que passar. Suba ao segundo andar e contemple a rua. Quando gostar da paisagem, desembarque.

Vá fazendo isso até cansar. As vantagens são muitas. Fora dos roteiros turísticos convencionais, tudo é mais barato. As pessoas que vão atender você não têm respostas automáticas. Mesmo no Reino Unido, que é fechado e sisudo, tem gente que gosta de conversar sobre as banalidades do dia-a-dia. Se ainda por cima você disser que é brasileiro. E entender um pouco de futebol…Se bem que não existem brasileiros que entendem só um pouco de futebol.

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Outra vantagem do turismo randômico. Quando você se acomodar em um café ou em um pub, não haverá um batalhão de holandeses de olho na sua mesa. Mais uma? Você vai poder contar pros amigos sobre aquele lugarzinho escondido, que só os nativos frequentam. E aí emendar: “Tu não conhece?”. Pode pular essa parte. Vamos direto ao resumo: pra mim, o imperdível numa viagem é, sempre, se perder.

O caminho de Jack

Se você é um turista interessado em história ou um psicopata procurando inspiração, um dos passeios mais legais de se fazer em Londres é a caminhada noturna do Jack, o estripador. Custa 9 libras (multiplique por três se quiser converter pro real, mas eu não aconselho que bate uma tristeza, rapaz) e sai todos os dias às 19hs 30m da estação de metrô Tower Hill.

O guia é Donald Rumbelow, autor de The Complete Jack The Ripper, um estudo detalhado do assassino que aterrorizou Londres em 1888. Donald tem apenas um dente da arcada inferior completamente preto. Se você já está assustado, não leia o resto do texto.

Começa a escurecer e a pequena multidão (cerca de 40 pessoas, a maioria americanos entre 15 e 35 anos) caminha pelas ruas vazias atrás de Donald. A primeira parada é um pedaço do que sobrou do famoso muro da Cidade de Londres (City of London, um enclave dentro de Londres que até hoje tem um prefeito próprio, bandeira própria e polícia própria). Em 1888, ano dos assassinatos, aquela já era uma das poucas partes do muro intactas. Donald descreve como Jack passava de um lado pro outro do muro, matando hora dentro e hora fora do perímetro da City, deixando as duas polícias confusas. Enquanto ele fala, dezenas de pombas voam pelo muro, entrando e saindo dos buracos, batendo asas por cima do grupo.

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A segunda parada é a Mitre Square. O vento deixa o cabelo de Donald ainda mais bagunçado, um Dr. Brown do De Volta para o Futuro, só que em 1888, descrevendo o estado como o corpo de Marry Ann Kelly foi encontrado ali naquela praça vazia. Naquela época era possível contratar uma prostitua por 3 centavos de libra e várias praças da cidade eram mal vigiadas e pessimamente iluminadas. Entre uma caminhada e outra percebo que um dos turistas, viajando sozinho, tentava puxar papo com algumas garotas.

– Não é exatamente o melhor programa para tentar um approach, não é? – pensei.

Ao sair do perímetro da City passeamos por Spitafields e White Chappel, onde outras quatro prostitutas foram mortas e multiladas. Depois de uma parada no mítico Ten Bells, dizem, onde Jack tomava drinks entre um crime e outro, a caminhada acaba num beco atrás do velho mercado de Spitafields. Em 1888 era a rua mais perigosa de Londres, com cerca de 70 pessoas dormindo ali todas as noites. O lugar está completamente vazio, afinal é um domingo à noite, final de feira, e o velho Donald se despede. A estação de metrô mais próxima fica a cinco minutos dali. Vejo aquele viajante sozinho aparentemente bem sucedido no papo com uma menina. Os dois entram no Ten Bells para um ou dois drinks. Eu vou pra casa pra casa encolhido, meio de frio, meio de medo.

Tudo num dia só

Proponho um desafio quase olímpico, mas possível. É viável visitar em Londres alguns dos pontos turísticos mais curiosos ou famosos do mundo em apenas uma manhã (ou tarde).

E a constatação surgiu justamente a partir da localização da equipe da RBS na capital inglesa: o Hotel Pullmann, situado muito próximo à estação ST Pancras, que permite o deslocamento por toda Londres, seja usando metrô, trem, táxi ou ônibus.

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E para ter sucesso (eu fiz a empreitada e consegui), basta seguir este plano: comece bem cedinho, 7h, a partir da estação King’s Cross, pegando um metrô até a estação Abbey Road. Lá, viva a magia dos Beatles atravessando a famosa rua em frente à gravadora.

Caminhe 500 metros até a Baker Street e confira o berço de Sherlock Holmes. Depois de compras e fotos no museu dedicado a Sir Arthur Conan Doyle, percorra mais 800 metros e entre no museu de cera Madame Tussauds. Chegando cedo, você não vai pegar fila.

Interaja com as celebridades “quase” reais, pegue um táxi e, 10 minutos depois, você chegará na Camden Square para olhar a casa onde morou Amy Whinehouse.

Algumas fotinhos, deixe uma mensagem na árvore e rume ao Regents Park, a 10 minutos dali. Dispense o táxi. Aproveite o charme dos incríveis parques londrinos nesse que é o mais antigo frequentado pela família real.

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Descanse, faça um lanchinho, bata fotos e pegue o metrô até a Oxford Street, onde as compras o esperam na hora seguinte.

Claro que você vai só ver as vitrinas, para voltar e gastar no outro dia, a começar pela maior loja de brinquedos da Europa, a Hamley’s.

Uma horinha de vitrinas e pegue o metrô na Oxford Circus, desembarque de volta na estação King’s Cross, caminhe até o portão 9 e 3/4, onde Harry Potter e companhia embarcam rumo a Hogwarts. Bata uma foto.

E encerre em alto estilo, numa das dezenas de pub’s em volta da estação, tomando uma Guinness.