Para marcar o Dia Internacional da Mulher, o Santa conversou com algumas mulheres de Blumenau e região que criam meninas. Veja o que elas têm a dizer sobre os desafios do “cargo”:
Continua depois da publicidade
Princípios preservados
Simone Papst, 33 anos, diretora da marca Miss Mammy e mãe de Rafaela, quatro anos
Quando eu engravidei, a primeira coisa que pensei foi: e agora, como educar? Assim como foi comigo, acredito que esse seja um medo constante entre as mães de primeira viagem. Para não deixar a insegurança tomar conta procurei me espelhar naqueles que sempre foram as minhas referências: os meus pais.
Eu não pretendo criar a Rafaela muito diferente do jeito como eu fui educada. Quando eu era adolescente tinha o hábito de reclamar das regras que meus pais ditavam. Mas, depois da gravidez, tive consciência que não faria diferente. Entendo que é outra geração, com novas ideias e outros objetivos, e por conta disso acabo sendo mais liberal em alguns aspectos, mas os princípios familiares sempre serão os mesmos.
Continua depois da publicidade
Eu sempre tive um diálogo com meus pais e tento passar isso para a Rafa. Ela é uma menina tranquila, muito obediente e fácil de educar. Temos um relacionamento incrível, um amor compartilhado realmente inexplicável. Meu intuito é de que a Rafa se torne uma grande mulher, com caráter, honestidade e que seja feliz na vida e na carreira que ela escolher, assim como eu fui. Vou apoiá-la, chamar a atenção nos momentos necessários e, acima de tudo, educar com muito amor.
Um olhar no espelho
Jacqueline Bürger, 38 anos, diretora de cinema, presidente do Conselho Municipal de Política Cultural de Blumenau e mãe de Manuella, seis anos
Há sete anos eu recebia a notícia de que seria mãe. A ideia me pareceu genial e, mesmo tendo feito toda a lição de casa, também me pareceu meio assustadora… Eu, filha, viraria mãe. Quando descobri que meu bebê era uma menina, então, foi mais louco ainda. Eu, filha, viraria mãe de uma filha que um dia vai virar mãe, quem sabe, de uma outra filha. Era como olhar em um espelho que refletia outro e outro e outro. Os anos foram se passando e meu bebê foi se tornando uma criança e, quem diria, agora com seis anos completos ela está quase uma mocinha.
Não espero e não fantasio sua profissão, seus relacionamentos, suas adversidades. Apenas semeio! Semeio fé em Deus, amor ao próximo, respeito à natureza e independência. Creio que o resto é consequência disso. A única certeza que tenho é: o amor que sinto por minha filha Manuella é incondicional e eterno.
Continua depois da publicidade
Longe dos fantasmas dos estereótipos
Gica Trierweiler Yabu, 29 anos, publicitária blumenauense radicada em São Paulo e mãe de Luna, três anos
Quando descobri que tinha uma menina se formando na minha barriga, fiquei mal por um dia. E não estou falando de enjoo ou azia. Foi um looping de algumas horas mais ou menos assim: “Vou ter uma menina! Vão transar com ela!”. Uma amiga – também mãe de menina – percebeu minha aflição e me libertou: “Gica, vão transar com ela. E tomara que ela transe bastante e seja muito feliz!”. Foi só aí que percebi o quanto eu estava sendo machista e tola, justo eu que me considerava alguém superevoluída nessas questões de gênero.
E nesse momento me atentei para o fato de que o machismo está tão enraizado na nossa cultura que ele aparece sem nem ser chamado. Hoje a Luna tem três anos e faço questão de ensiná-la que ela é muito mais que um rostinho (BEM) bonito. Pode parecer bobagem, mas acho que boa parte dos conflitos femininos está no “conceito da mulher ideal” que nutrem na nossa cabeça desde cedo: “Para ser uma mulher de verdade você precisa ser linda, magra, ter um marido, criar filhos e assistir novela”. Quando as pessoas falam que ela é linda, sempre complemento com algo do tipo: “E ela também é inteligente e carinhosa, sabia?”.
Às vezes ela me pergunta se vai ter filhinhos e eu digo que, se ela quiser, vai, e se não quiser, não vai. Aqui em casa acreditamos que uma base sólida vai dar segurança para a nossa menina virar uma mulher que não vai se abalar com os fantasmas dos estereótipos. E, se ficar abalada por qualquer razão, vai ter sempre um colinho pronto pra ela.
Continua depois da publicidade
Independência e doçura
Juci Nones, 37 anos, master coach, escritora, pesquisadora e mãe de Amanda, 19, Eduarda, 15 e Heloísa, 10
Confesso que, com três filhas em fases diferentes e as muitas funções que desempenho como mulher no dia a dia, é um grande desafio, mas nunca um “fardo”, criar mulheres. A Eduarda e a Heloísa, com 15 e 10 anos, respectivamente, hoje estudam, fazem cursos, esportes e me ajudam nos afazeres da casa. Acho importante elas terem responsabilidades.
Minha filha Amanda, a mais velha das três, de 19 anos, trabalha comigo desde os 15. Precisa administrar seu tempo entre a faculdade, a vida pessoal e a minha assessoria comercial. Ela é quem negocia com os clientes o meu trabalho. Tem grandes responsabilidades desde cedo e vem aprendendo a lidar com as multifuncionalidades de uma mulher já faz tempo. Na educação delas apostamos sempre no equilíbrio. Não reprimimos, mas também não liberamos geral, não amamos sem sabedoria. Fazemos com que busquem a felicidade sem prejudicar ninguém.
Usamos na educação delas apenas o que achamos que foi bom na educação que recebemos, que é muita coisa, mas o que não se enquadra mais ao mundo atual deixamos de lado. Tento fazer com que elas encontrem o equilíbrio entre a forte independência feminina e a doçura e feminilidade que uma mulher precisa ter. Acredito em diferenças que se completam e não em uma criação totalmente diferente entre homens e mulheres. Até o momento, vem dando certo.
Continua depois da publicidade
Despindo-se de si
Rosane Magaly Martins, 52 anos, advogada, escritora e mãe de Geórgia Paula Martins Faust, 32 anos
Lembro-me pequena, tendo que ajudar minha mãe nos afazeres da casa enquanto pai e irmão mexiam no carro ou assistiam tevê aos domingos. Menino podia brincar no mato, chegar mais tarde, falar palavrões. A feminista nasceu ali, na revolta cotidiana entre o que eu não podia e o que eu queria. E ficou gravado em minha pélvis que quando tivesse uma filha, não iria educá-la para a submissão.
Quando nasceu Geórgia, em 1982, assumi alguns compromissos: 1) dar-lhe um lar igualitário, em que homem e mulher assumissem juntos as responsabilidades da casa e família; 2) oferecer-lhe a melhor educação formal e informal para que pudesse crescer; 3) embrenhá-la de cultura para que pudesse pensar criticamente; e 4) dar-lhe liberdade para que não fosse de ninguém, a não ser de seus ideais.
Confesso que foi difícil administrar as revoltas da garotinha que queria uma mãe de cama e mesa, e ainda é dolorido respeitar integralmente suas escolhas. Para uma mulher criar outra, ela deve despir-se de quem foi, do que foi-lhe imposto e ensinado, rasgar as roupas do autopreconceito.