Cinco escolas catarinenses desistiram de abrir novas turmas do ensino médio integral em tempo integral (Emiti) no próximo ano letivo. A principal justificativa é a não adesão de pais e alunos, que estariam mais dispostos a ingressar no mercado de trabalho ou no ensino profissionalizante. A falta de estrutura e materiais – os kits tecnológicos estão chegando nas escolas, após dois anos do início do programa – também impacta na não continuidade. No total, 29 escolas seguem oferecendo novas turmas dentro do programa no Estado.

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Os casos mais críticos de ruptura são os das escolas Presidente Médici, em Joinville, e Júlia Baleoli Zaniolo, em Canoinhas. Essas unidades não vão mais ofertar a modalidade para nenhuma série em 2019. A de Joinville desistiu depois de oferecer o modelo por dois anos. Neste ano, chegou a ter 165 alunos na matriz. Segundo a supervisora de ensino da Gerência Regional de Educação de Joinville, Rosemari Conti, a falta de demanda neste ano tem relação com o interesse desses jovens começar a trabalhar. Cerca de 12 alunos foram encaminhados para a escola Annes Gualberto, única que continua a oferecer o Emiti na cidade.

— Nós, da educação, ficamos um tanto frustrados de ver que é uma oportunidade que o jovem tem, de ter uma carga horária ampliada, de ter a oportunidade de discutir projeto de vida e, infelizmente, ali naquela comunidade, neste momento, não deu. Não é a estrutura que faz a diferença, porque se fosse, a tendência era ter a evasão na outra escola, onde temos grande adesão — avalia Rosemari.

Essa não é a primeira escola em Joinville a abandonar o programa. Em 2017, a Escola de Educação Básica Senador Rodrigo, no bairro Jardim Sofia, desistiu antes mesmo do início das aulas devido à baixa adesão dos alunos.

Em Canoinhas, a escola Júlia Baleoli Zaniolo também não vai mais ofertar. A diretora da unidade, Sônia Maria Grosskopf, diz que decisão foi da comunidade escolar, já que havia preferência dos alunos por para fazer cursos técnicos no contraturno ou trabalhar, o que era impossível com ensino em tempo integral.

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— Infelizmente, nossa realidade escolar não condiz com essa carga horária bem puxada — resume.

A diretora acrescenta que demoraram muito a receber os materiais. O Emiti foi implementado neste ano e só em novembro chegaram os computadores, lousas digitais e televisão. Além disso, trabalham só com o mínimo de internet, o que "dificulta bastante".

Dificuldades para a continuação do programa

A diretora de Gestão da Rede Estadual da Secretaria de Educação de SC, Marilene Pacheco, confirma que a cultura do Estado, de começar a trabalhar cedo e ajudar os pais, dificulta a continuidade do programa, principalmente a partir do segundo ano, quando estudantes já estão mais velhos. Sobre a demora na entrega de móveis, materiais tecnológicos e para laboratórios, Marilene diz que o processo licitatório é moroso e admite que foi uma dificuldade, mas não acredita que seja o principal fator:

— A estrutura contribui, mas não é a única questão que dificulta de dar certo. A não continuidade está mais no trabalho do jovem e perfil do professor para atuar no programa. Quando o gestor da escola ou os professores não abraçam o programa a gente encontra bastante dificuldade de continuidade.

O gerente de projetos do Instituto Ayrton Senna, Helton Lima, lembra que as escolas, ao deixarem o programa, têm o processo chamado de terminalidade, que prevê que alunos que iniciam o ensino médio nesta matriz de tempo integral devem seguir nele até o terceiro ano. Em caso de não fechar turmas, devem ser encaminhados a outras escolas do município.

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— A dificuldade dos alunos nesta idade de continuarem numa escola em tempo integral é um desafio para o país. Estamos falando de escolas públicas, de estudantes que têm a necessidade de trabalhar, ter sua renda.

Mas Lima acredita que a tendência é solidificar essa cultura do ensino integral:

— Numa escola como essa, ele pode adquirir, vivenciar, uma série de situações pedagógicas e desenvolver uma série de competências que no futuro, no mercado de trabalho, vai potencializá-lo a assumir postos mais valorizados.

Escolas optam por seguir formação

Outras três escolas no Estado oferecerão apenas a continuidade do programa aos alunos que já estavam cursando o Emiti. No caso da Flordoardo Cabral, em Lages, a direção ainda tem expectativa de receber matrículas em fevereiro, entre os dias 4 e 7, para o primeiro ano e, então, abrir novas turmas. A assessora de direção, Nelci Maria Rodrigues, conta que espalharam panfletos nas escolas vizinhas para atrair alunos, mas até agora só apareceram seis interessados no primeiro ano. No segundo, são 35 alunos matriculados.

— É um programa muito bom e, por isso, a gente está aguardando. Se tiver interessados vamos manter.

Ela conta que até a semana passada ainda não havia chegado os equipamentos tecnológicos e os materiais dos laboratórios, o que também contribui para "o descontentamento dos alunos", mas o principal é a falta de demanda.

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Escola Dom Jaime monta turmas

Na escola Dom Jaime de Barros Câmara, em Florianópolis, serão montadas turmas de segundo e terceiro ano. Após a decisão em assembleia, a comunidade escolar decidiu que só vai oferecer turmas do ensino médio regular no primeiro ano. A diretora da escola, Rosimere Espíndola da Silva, conta que são apenas três turmas com 10 alunos no segundo ano, o que deve resultar em uma turma de terceiro ano em 2019. E ainda teme perder mais alunos até o início do ano letivo.

— Mesmo sabendo que pedagogicamente o programa é bom, infelizmente acabou terminando. A gente perdeu muitos alunos neste ano, eles se queixam muito em função da carga horária, é muita extensa.

Na EEB Nereu Ramos, em Santo Amaro da Imperatriz, após dois anos de implementação do programa, foi decidido pela não continuidade, principalmente pela cultura do trabalho.

— Eles têm muita oferta para serem estagiários na prefeitura e dos fóruns, esse é o principal motivo. Mas se tivesse infraestrutura melhor, talvez fosse mais atrativo. Ficamos bem tristes, nos sentimos derrotadas por não conseguir manter — diz a diretora da unidade, Ana Maria Benvenutti.

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Cerca de 100 alunos devem permanecer no programa na escola em 2019. A SED informa que os kits tecnológicos, com lousas, projetores e computadores, assim como materiais esportivos, mobiliário e equipamentos de laboratório estão sendo distribuídos para as escolas. No total, 80 unidades da rede estadual receberão até o começo do ano letivo, sendo que as do Emiti têm prioridade.

Escolas com ensino médio em tempo integral em 2019 em SC

Novas adesões

EEB Bernardino Sena Campos, Araranguá

Eeb Profº Ary Mascarenhas Passos, Itajaí

EEB Pref Leopoldo José Guerreiro, Bombinhas

EEB Pe Antônio Vieira, Ipuaçu

Já estavam no programa

EEB Machado de Assis, Timbó Grande

EEB Orlando Bertoli, Presidente Getúlio

EEB Almirante Barroso, Canoinhas

EEB Benjamim Carvalho de Oliveira, Ipumirim

EEB Elfrida Cristino Da Silva, Itajaí

EEB Nereu Ramos, Itajaí

EEB Maria Rita Flor, Bombinhas

EEB Casimiro de Abreu, Curitibanos

EEB Dr.Max Tavares D' Amaral, Blumenau

EEB Osvaldo Cruz, Rodeio

EEB Attela Jenichem, Indaial

EEB Toneza Cascaes, Orleans

EEB Caetano Bez Batti, Urussanga

EEB Visconde de Cairu, Lages

EEM Valmir Omarques Nunes, Bom Retiro

EEB Coronel Ernesto Bertaso, Chapecó

EEB Cordilheira Alta, Cordilheira Alta

EEB Mater Dolorum, Capinzal

EEB Ruth Labarbechon, Água Doce

EEB Prof Heleodoro Borges, Jaraguá Do Sul

EEB Holando Marcelino Gonçalves, Jaraguá do Sul

EEB Gomes Carneiro, Xaxim

EEB Gov Ivo Silveira, Palhoça

EEB São Vicente, Itapiranga

EEB Eng Annes Gualberto, Joinville

Apenas continuam a formação (sem novas turmas)

EEB Flordoardo Cabral, Lages (só segundo ano, se tiver interessados abre primeiro)

EEB Dom Jaime De Barros Câmara, Florianópolis (só segundo e terceiro ano)

EEB Nereu Ramos, Santo Amaro da Imperatriz (só segundo e terceiro ano)

Não vão mais ofertar

EEB Presidente Médici, Joinville

EEB Júlia Baleoli Zaniolo, Canoinhas

O que é o Emiti?

A proposta de ensino médio integral, com parceria do Instituto Ayrton Senna e o Instituto Natura, tem como objetivo ensinar os conteúdos das disciplinas e desenvolver valores e competências como resolução de problemas.

Para isso, além das disciplinas obrigatórias, os alunos têm aulas de projetos de vida; projetos de intervenção e pesquisa (resolução de problemas existentes na comunidade onde vivem ou na própria escola); e estudos orientados (uma espécie de grupo de estudos).

O programa iniciou em 2017 em SC, com 15 unidades, e mais 17 que aderiram em 2018. Neste ano envolveu cerca de 3,4 mil alunos. As escolas começam a oferta pelo primeiro ano do ensino médio e vão gradativamente ampliando para dar sequência na aprendizagem dos alunos.

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As aulas são em tempo integral, são 2.250 minutos, o que equivale 9 horas diárias. Os alunos entram às 7h30min e saem 17h15min. Nas quintas-feiras, o horário é reduzido: das 7h30min às 12h15min. O Ministério da Educação repassa R$ 2 mil por aluno por ano à Secretaria de Educação de SC.