Aconteceu neste verão em uma requintada casa noturna de Jurerê Internacional, em Florianópolis. O felizardo que comprasse uma garrafa de três litros da champanha Dom Pérignon Jeroboam por R$ 15 mil podia pedir uma música. A promoção atraiu um esbanjador que, com a taça borbulhando, resolveu exercer o direito adquirido após trocar o equivalente a 19 salários mínimos pela bebida. Mandou dizer ao DJ: queria ouvir Boate Azul.

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– Foi uma correria para descobrir que música era aquela e baixa-la no notebook! – diverte-se Du Oliveira, 29 anos, que até então desconhecia um dos clássicos de Milionário & José Rico.

Desde 2011 discotecando house e dance music (EDM), ele está habituado a situações como essa. Ser abordado para tocar determinada música faz parte do dia a dia – ops, noite a noite – de qualquer DJ, seja na festa da firma ou bombando na pista. O fanfarrão espumante só teve mais poder de persuasão. O convencional é simplesmente pedir e torcer para ser atendido.

– Antes, o pessoal escrevia bilhetinhos, agora usa o celular – diz André Maram, 38 anos, 14 deles dedicados ao house.

As inscrições são feitas em aplicativos que simulam painéis de led. O pedinchão tecla o nome da música, do artista ou qualquer coisa que seu estado anímico permitir, configura o tamanho e a cor da letra, aperta o botão e pronto: tem um minidisplay eletrônico, legível até nos ambientes mais estroboscópicos. Aí basta levantar o braço com o aparelho na mão em direção ao DJ.

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– Às vezes é uma faixa que a gente até já tocou, mas que não lembrava ou não estava mais no set – ressalta Cris K, 28 anos, há seis envolvido com deep house e tech house. – Quando toca o que a pessoa pediu, a felicidade é geral, contagia todo mundo que está em volta – completa.

E se a música requisitada passa longe do estilo do DJ, como fez o fã de sertanejo citado no começo dessa história?

– Se você tem, é ídolo. Se não tem, é um idiota – resume Oliveira. Certa ocasião, Rodrigo Luca, 31 anos, 12 na função, não tinha. Especializado nas vertentes deep e progressive do house, ele não estava preparado para satisfazer o baladeiro que gostaria de escutar funk carioca.

– O cara não se conformou e, na melhor das intenções, disse: “Espere aí que eu vou pegar meu pendrive no carro para você tocar”. Imagina! – conta.

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A verdade é que não há como prever a vontade e a reação do público. Por mais redondo que esteja o set, sempre existe alguém insatisfeito e descarado o suficiente para achar que pode pautar o DJ. Kiko Franco, 27 anos, começou em 2012 e nem esquenta a cabeça com isso. Ao avistar os celulares erguidos, mantém sua programação, que vai de progressive a electro, de tech a deep house.

– Não adianta vir com música “bizarra”, tipo funk, pagode ou sertanejo, que eu não boto mesmo – garante.

Todos os DJs mencionados apresentam-se em locais badalados como P12, Milk, Cash, Posh, Red, Sete, Donna, Red, Le BarBaron e Green Valley (Camboriú).

Apesar de encararem com bom humor, não escondem a contrariedade com as tentativas de “intervenções” em seus sets.

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– Somos profissionais que estão diariamente pesquisando, escutando músicas novas. Ninguém precisa nos dizer como fazer nosso trabalho. É uma falta de respeito – considera Maram.

Pense nisso da próxima vez que achar uma boa ideia pedir para o DJ tocar aquela.

As 10 malditas

Confira abaixo as músicas que você NÃO deve pedir a um DJ. E, acredite, tem quem peça. A lista foi feita a partir de indicação dos DJs entrevistados nesta matéria.

1. Adocica, Beto Barbosa

2. Meteoro da Paixão, Luan Santana

3. Pa Panamericano, Yolanda Be Cool

4. Maluquinha, Naldo & Flo Rida

5. É Hoje, MC Ludmilla

6. Lepo Lepo, Psirico

7. Toxic, Britney Spears

8. Amor de Cholocate, Naldo

9. Milkshake, Kelis

10. Qualquer uma do Calypso