A fera está ferida, mas promete se levantar. De volta ao Brasil, Júnior Cigano do Santos, 28 anos, ainda se recupera dos golpes sofridos na derrota implacável para o norte-americano Cain Velásquez no UFC 155, em 30 de dezembro, que resultou na perda do cinturão dos pesos pesados.
Continua depois da publicidade
Após a derrota, Cigano deixou Las Vegas, e viajou para San Diego, na Califórnia, para descansar do período de treinos intensos que antecedeu ao combate, onde foi duramente castigado por seu adversário a ponto de levantar suspeitas não confirmadas de uma fratura no maxilar. O lutador só não se desligou das redes sociais, onde seguiu mantendo contato com os fãs e recebendo apoio e críticas.
Para se distrair, Cigano aproveitou a estada na terra do basquete para assistir a um jogo do Portland Trail Blazers, pela NBA, a liga de basquete profissional, ao lado de amigos. O retorno ao Brasil aconteceu no último dia 15 de janeiro e surpreendeu o lutador. Recepcionado por centenas de fãs no aeroporto Luis Eduardo de Magalhães, em Salvador, Cigano ainda teve direito a um presente especial: a imagem de Nossa Senhora de Aparecida, de quem é devoto.
Mas o lutador nem ficou muito tempo na Bahia, onde mora e treina. Sem uma definição para voltar aos treinamentos, porque ainda aguarda o resultados de alguns exames, o lutador esteve no Rio de Janeiro para uma participação no Caldeirão do Huck, onde foi escolhido para ser jurado do concurso Musa do Carnaval promovido pelo programa do apresentador Luciano Huck.
Continua depois da publicidade
No site oficial do programa exibido aos sábados pela RBS TV, o lutador ainda confirmou a separação da mulher Vilsana Piccoli após um casamento de 10 anos.
– Ela é a pessoa mais importante da minha vida, é quem cuida de mim, e quero cuidar dela para sempre. Mas não a amo mais como mulher – disse.
Apesar do divórcio, é Vilsana quem cuida da agenda e dos compromissos profissionais do lutador. Eles se conheceram quando Cigano trabalhava de garçom em um restaurante de Salvador frequentado por ela e ele ainda nem sonhava em ser um campeão do UFC. Arquiteta, Vilsana foi a principal incentivadora da carreira meteórica do catarinense.
Continua depois da publicidade
Foi Vilsana quem atendeu a reportagem do DC para a entrevista previamente agendada com o lutador. Cigano recém havia chegado em Atibaia, onde era a atração de um talkshow na convenção de uma laboratório farmacêutico.
– Eu tenho aprendido bastante com essas coisas. São coisas diferentes que jamais pensei que um dia eu iria fazer e que agora fazem parte da minha vida – comentou.
Confira a entrevista com Cigano
Por telefone, direto de Atibaia, interior de São Paulo, Cigano falou sobre as lições tiradas da derrota, as críticas negativas e se disse surpreso com o carinho dos fãs na chegada em Salvador, onde reside. O atleta pretende visitar Santa Catarina em fevereiro para rever os familiares e espera que a próxima luta seja a tão desejada revanche com Cain Velasquez.
Continua depois da publicidade
Diário Catarinense _ Como você está passados mais de 20 dias da luta?
Júnior Cigano _ Eu estou bem agora. A tristeza vai me transformar em vencedor de novo. E na vida está tudo muito bem também. As coisas estão andando, estou atendendo aos compromissos com patrocinadores. E o que mais tem me chamado atenção é o carinho que tenho recebido nas pessoas. Em Salvador, tinha mais gente para me recepcionar do que quando fui campeão. Em São Paulo, também, no aeroporto, uma senhorinha veio falar comigo para me dizer que me admirava. Então são essas coisas que gratificam a gente.
DC _ Você já conseguiu refletir para tirar algumas lições desta derrota?
Cigano _ A gente tem encarar da melhor forma. Eu já havia sofrido uma derrota no Brasil (para Joaquim Ferreira, finalizado por uma chave de braço, em 10 de novembro de 2007), e aquilo já me transformou em outro lutador. Na luta mesmo, eu acredito que tenha dado muita atenção para as habilidades dele, ao invés de impor as minhas (habilidades). Me preocupei demais com as quedas e o golpe entrou. Eu fiquei muito no automático e só me defendia. O Dórea (Luiz, treinador) me disse que eu ficava no corner e ele me dizia para reagir, mas eu não reagia. Errei na estratégia e não reagi.
DC _ Você pretende fazer da sua próxima luta a revanche ou entende que precisa fazer primeiro uma luta contra outro atleta?
Continua depois da publicidade
Cigano _ O que eu quero é essa revanche. Eu acredito que terei que fazer uma luta antes, mas se eles (presidente do UFC Dana White e a Cuffa, empresa promotora da UFC) acharem que pode ser de imediato, eu ficaria muito feliz. Até porque, independente do resultado, ficou claro que eu não lutei. O problema não é perder, porque uma coisa é quando o adversário é melhor do que você e merece vencer. O problema é do que jeito que foi. Mas a revanche seria ótimo porque desta vez seria diferente e nada melhor do que uma terceira luta para definir o campeão.
DC _ Como você recebeu as críticas de brasileiros, principalmente pelas redes sociais? É um reflexo da popularização do MMA, já que agora todos acham que entendem um pouco do esporte?
Cigano _ Pois é, está ficando igual ao futebol. As pessoas têm essa coisa de puxar pelo negativo. Falaram que eu teria vendido a luta e eu só venderia a luta se eu fosse maluco. Sendo campeão, eu ganho até seis ou sete vezes mais do que estou ganhando. E tudo na minha vida foi conquistado com muita luta, com muito esforço e dedicação. Me entristece muito esses comentários e por isso dou mais atenção ainda para quem realmente tem carinho por mim.
Continua depois da publicidade
DC _ Você já voltou aos treinos?
Cigano _ Eu estou fazendo alguns exames e ainda não voltei a treinar. Vai demorar uns dias ainda. Mas eu sempre dou minha corridinha, faço uma bicicleta, senão eu ficou maluco.
DC _ Você se surpreendeu com sua capacidade de aguentar os golpes?
Cigano _ Não que foi uma surpresa. Eu aprendi a ser o que sou apanhando bastante na academia, até porque comecei a treinar sem nenhuma técnica com caras como o Minotauro. Foi por isso que acho até que aprendi muito rápido e em sete anos me tornei campeão do mundo.
DC _ Sua mãe ficou muito preocupada após a luta. Quando pretende visitar Caçador novamente?
Cigano _ Acho que no Carnaval (estarei em Caçador). Ela ficou muito preocupada, porque eu fiquei muito inchado. Até falaram que eu havia quebrado o maxilar, mas eu não me machuquei, só fiquei muito inchado. Isso costumava acontece na academia quando eu leva um soco bom. Mas acho que na luta levei mais de 200 socos, algo assim.
Continua depois da publicidade
DC _ Qual o recado que você manda para o catarinense Thiago Tavares, que também sofreu uma derrota implacável no último sábado no UFC São Paulo?
Cigano _ O grande campeão a gente vê nos momentos difíceis como esse que estamos passando. Eu sei que o Thiago é uma grande atleta e vai superar isso novamente. A gente tem que usar tudo como aprendizado, até porque ninguém é perfeito e algum dia irá perder. Você não pode nunca achar que sabe tudo, que é imbatível.