Um estudo realizado por cientistas brasileiros indica que o aquecimento global pode ter piorado a seca que atingiu a Amazônia Ocidental em outubro de 2005, uma das mais severas já registradas na região. Na época, rios caudalosos, como o Solimões, secaram a ponto da navegação ser interrompida. A pesquisa foi publicada na revista Philosophical Transactions of the Royal Society B. É uma análise da influência do aquecimento anormal das águas superficiais do Atlântico Tropical Norte no fenômeno. Os oceanos estão cerca de 0,6ºC mais quentes devido à elevação da temperatura global.
Continua depois da publicidade
Estudos prévios indicam que o Atlântico Tropical Norte está 0,5ºC mais quente do que há 50 anos. E, naquele ano, a média ali era de 1ºC a mais. Isso teria induzido a uma mudança na circulação atmosférica naquele setor do Atlântico e, por conseqüência, a uma alteração nos ventos sobre a Amazônia. O efeito máximo, afirmam os cientistas, aconteceu no sudoeste e no oeste da Amazônia em agosto, setembro e parte de outubro – mês que normalmente já traz as chuvas do “inverno amazônico”. A Amazônia sofre ciclos sazonais de seca e chuva. Contudo, uma seca daquela proporção é rara, especialmente na região ocidental.
– Está mostrado que a gênese da seca foram as águas quentes do Atlântico Tropical Norte. O aquecimento global já esquentou os oceanos e parte da razão do Atlântico ter estado mais quente vem do aquecimento global – diz o climatologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), um dos autores do estudo (que foi liderado por seu colega José Marengo): – Pode-se concluir que, não a existência da seca, mas sua intensidade, pode ter dependido de quão quente esteve o oceano, e isso, em parte, se deve ao aquecimento global.