A dependência da sociedade em relação a computadores e a sistemas informatizados eleva os profissionais dessa área a joias no mercado de trabalho. No caso do cientista da informação, que atua principalmente no desenvolvimento de softwares, programas e aplicativos, é preciso estar atento às constantes mudanças e atualizações do setor, principalmente no campo da telefonia móvel.

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Para conhecer de perto essa realidade, dois estudantes conheceram Dayana Spagnuelo, que se formou em 2011 no curso de graduação em Ciências da Computação da UFSC e faz mestrado na área de segurança em computação.

Como foi o bate-papo

Vinícius Marino Calvo Torres de Freitas – Quais as principais diferenças entre Ciências da Computação, Engenharia da Computação e Análise de Sistemas?

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Dayana Spagnuelo – Os três podem atuar na mesma área. Em Ciências da Computação se estuda mais a fundo a área da computação, com foco na criação de softwares. O estudante de Engenharia da Computação foca mais nos componentes físicos, no hardware, projetando computadores e equipamentos para diversos setores. O analista de sistemas vai se voltar mais para desenvolver sistemas informatizados e a programação, traduzindo o que o cliente quer. É um pouco mais técnico.

Rafael Fabrin Maschk – Florianópolis é hoje um grande polo na área de informática?

Dayana – Há alguns anos começaram a surgir muitas incubadoras na cidade e em todo o Estado, e uma empresa foi atraindo a outra. A princípio eram pequenas, mas hoje empreendimentos como o Parque Tecnológico Alfa e o Sapiens Parque, por exemplo, já são de grande porte e oferecem muitas oportunidades para quem se forma na área.

Vinícius Fabrin Maschke – Como funciona a questão da regulamentação do cientista da computação?

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Dayana – Esse é um ponto muito discutido. Alguns defendem que a regulamentação é uma proteção ao profissional, pois garante piso salarial e outros benefícios. Para quem faz um curso superior na área, a valorização da formação também é importante. Por outro lado, muitos profissionais não graduados desenvolvem softwares muito. Não vejo essa questão sendo resolvida tão cedo.

Rafael – Você recomendaria fazer estágios na área?

Dayana – Sim, é uma ótima maneira de ter contato com o mercado de trabalho e aprender na prática. Meu primeiro estágio foi em um laboratório do curso de Engenharia Mecânica da UFSC e depois trabalhei na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) com desenvolvimento de sistemas para educação à distância.

Vinícius – Existem muita oportunidades para fazer intercâmbio no curso?

Dayana – Quando eu estava na graduação não era tão comum quanto agora, depois do surgimento do programa Ciência sem Fronteiras (CsF). As oportunidades aumentaram bastante, principalmente porque o CsF foca em cursos de exatas de tecnologia. Na minha opinião o intercâmbio é uma oportunidade muito legal para complementar a formação e também pela bagagem cultural que proporciona. Muitos estudantes de Ciências da Computação procuram universidades nos Estados Unidos, como o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e a Universidade de Stanford.

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Rafael – Não sou muito bom em Matemática. Vou ter dificuldade durante o curso? Dayana – A matemática que estudamos no curso é diferente da que vemos no ensino médio. O estudo mais tradicional, com cálculos e teoria vai até mais ou menos a quarta fase. Depois você começa a aplicar mais o que estudou, ver a matemática na computação. Nas provas, precisamos provar tudo matematicamente, do zero. Isso é um dos aspectos mais difícil para os alunos nas primeiras fases. Na hora de fazer o trabalho de conclusão de curso, a maioria dos alunos têm muita dificuldade para escrever o relatório sobre o projeto desenvolvido.

Foto: Alvarélio Kurossu / Agência RBS

Dayana Spagnuelo tem 23 anos e se formou no curso de Ciências da Computação na UFSC em 2011. Logo em seguida ingressou no mestrado na mesma instituição. Hoje ela trabalha no Laboratório de Segurança em Computação e estuda autenticação eletrônica de usuários. Em informática, autenticação é o processo de verificação da identidade de quem acessa um programa ou um computador.

Por dentro da carreira

Opções de atuação

Quem se forma em Ciências da Computação pode trabalhar com desenvolvimento de softwares em três plataformas principais: fixas, que seriam os computadores em si; a web, com aplicativos para sites na internet; e as plataformas móveis, como os smartphones, área que vêm crescendo muito e com rapidez.

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O coordenador do curso de graduação em Ciências da Computação da UFSC Vitório Bruno Mazzola indica que o profissional pode atuar como programador, gerente de projetos, administrador de sistemas (redes, bancos de dados, sistemas de informação) e engenheiro de software. Também é possível trabalhar com inteligência artificial, ramo da Ciência da Computação que busca elaborar dispositivos que simulem e aumentem a capacidade humana de raciocinar, tomar decisões e resolver problemas.

O desenvolvimento de jogos também é uma alternativa, assim como a computação gráfica e a criação de sistemas e softwares para a educação à distância. É importante destacar a área na pesquisa acadêmica na computação. Na UFSC são oferecidos cursos de mestrado e doutorado, e na Udesc o mestrado teve início em 2012.

O que é mais gratificante

Para Dayana, apresentar um artigo ou ver o resultado de seu trabalho sendo utilizado para situações práticas é muito satisfatório. Ela brinca que, para quem desenvolve softwares, por exemplo, esbarrar com alguém na rua utilizando um aplicativo que você criou é o reconhecimento perfeito da dedicação do profissional.

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O que é mais difícil

Com a área é muito dinâmica, com mudanças que ocorrem o tempo todo, o profissional precisa se manter atualizado e acompanhar esse ritmo.

Do que precisa gostar

Para Dayana, é preciso estar preparado para enfrentar longas jornadas de estudo durante a graduação.

– O curso está longe de ser impossível, mas também não é fácil, é preciso se dedicar bastante.

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Gostar de desafios também é uma característica importante. O professor Vitório Mazzola acredita que é preciso de gostar de computadores, mas não apenas a nível de um contato superficial que tem o usuário, é preciso estar pronto para investir no conhecimento de como funcionam os componentes de um computador e todos os aspectos da operação da arquitetura destes equipamentos, tanto a nível do hardware, quanto do software. E, evidentemente, estar disposto a dedicar horas à atividade de aprendizado e uso das diversas linguagens de programação.

Disciplinas e tempo de duração

Tanto na UFSC como na Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc), a graduação dura oito semestres. Na Udesc o curso é oferecido no campus de Joinville. A Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) também oferece o curso. A versão diurna tem duração de oito semestres, e a noturna leva dez.

O chefe do departamento de Ciências da Computação da Udesc, Carlos N. Vetorazzi Jr., explica que no primeiro ano existe uma maior ênfase em fornecer aos alunos um sólido embasamento matemático e nos fundamentos básicos da área da computação (algoritmos e programação). No segundo e terceiro anos há um aprofundamento nos conceitos teóricos da computação ao mesmo tempo em que o aluno passa a ter contato com áreas mais específicas, tais como engenharia de software, redes, inteligência artificial, computação gráfica entre outras.

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O professor do curso da UFSC Vitório Mazzola cita as disciplinas mais básicas de Cálculo, Geometria Analítica, Álgebra Linear e Matemática Discreta, e outras mais clássicas e tradicionais do curso, como Programação, Sistemas Operacionais, Engenharia de Software, e Bancos de Dados.

Mercado de trabalho

Não faltam empregos principalmente por causa da dependência da sociedade em relação aos computadores e à internet atualmente. Santa Catarina e Florianópolis, em especial, têm mercados em ascensão. O professor Vitório Mazzola afirma inclusive que o mercado de trabalho nesta área é um dos mais carentes de profissionais, tanto em Santa Catarina, quanto no Brasil.

– A cada dia, novas empresas são implantadas, com produtos inovadores e, à medida que vão evoluindo, a demanda por estes profissionais cresce. No que se refere a Santa Catarina, embora tenhamos cursos de qualidade, as universidades não conseguem formar a quantidade necessária para suprir o mercado da região – expõe Mazzola.

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O professor Carlos Vetorazzi Jr. aponta que Joinville também é um polo de desenvolvimento de software, e por isso a procura por profissionais da área é intensa, sendo que uma grande parte dos alunos já está empregado antes mesmo de concluir o curso. A cidade de São Paulo também oferece campo promissor.

Salário inicial

Como a profissão de cientista da computação não é regulamentada, não existe um piso salarial estipulado. De acordo com o professor Vitório Mazzola, um profissional iniciante recebe entre R$ 3 mil e 6mil, mas esse valor varia muito. Um profissional chega a ganhar mais de R$ 7 mil, dependendo da experiência e da responsabilidade do cargo. Dayana ressalta que, mesmo o salário inicial não sendo muito alto, a ascensão na área ocorre muito rapidamente.